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Casal que arrumou confusão em banheiro de academia

Ana Oliveira
Pragmatismo Político

Na manhã desta segunda-feira (26), em uma academia do bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife, a personal trainer Kely Moraes foi alvo de ofensas transfóbicas e impedida de utilizar o banheiro feminino por um casal de frequentadores do local. Kely, mulher cisgênero e fisiculturista, foi abordada por uma aluna e, em seguida, pelo marido dela, que tentou barrar fisicamente sua entrada no espaço.

O episódio ocorreu na unidade da rede Selfit, enquanto Kely trabalhava. Ela havia acabado de sair do banheiro após se limpar de um ferimento no pé, causado por uma queda de moto a caminho do trabalho. Nesse momento, foi confrontada por Karolaine Klecia da Silva, que a xingou e afirmou que aquele não era “lugar para ela”. Na sequência, o marido, Marcos Aurélio Mendes Leite, se uniu à agressão, bloqueando a porta de entrada do banheiro.

“Ela disse que eu não podia ir ao banheiro, e eu perguntei por quê. Ela respondeu: ‘Você é trans, mas é um homem’. Eu me alterei um pouco. Minha aluna, que está grávida, chegou no meio da confusão e ficou muito nervosa”, relatou Kely, em entrevista.

A vítima filmou parte da discussão. No vídeo, é possível ouvir a aluna pedindo que Kely mostrasse sua identidade ao homem, que aparece vestindo regata preta e segurando uma garrafa rosa. Um professor da academia tenta mediar o conflito, enquanto o homem insiste que o “banheiro inclusivo” estava no andar inferior. “Porque eu sou o quê?”, questiona Kely. “É inclusa, é inclusiva, lá embaixo”, responde ele.

Mesmo diante das tentativas de barrá-la, Kely se manteve firme: “Eu vou entrar no banheiro de todo jeito”. O vídeo termina com a mulher que iniciou a discussão posicionando-se na porta do banheiro, bloqueando a entrada da personal trainer.

Violência cotidiana

Fisiculturista há anos e atuando como personal trainer há três, Kely afirmou já ter enfrentado olhares desconfiados e episódios de preconceito devido à sua aparência física, mas jamais com a intensidade dessa última agressão.

“Por ser fisiculturista, nosso corpo é diferenciado, e isso é relativamente comum. Eu já fui convidada a me retirar de uma festa, mas nunca tinha passado por algo tão violento. Me senti ofendida, humilhada. Ela gritava e as pessoas mandavam eu ficar calada. Eu que era a vítima ali”, desabafou.

Kely destacou que a questão não é o fato de ter sido confundida com uma mulher trans, mas o preconceito embutido na reação violenta do casal. “Estou envergonhada, não por ser comparada com uma trans – o que para mim é um elogio. As trans são lindas, cada uma tem sua história e suas guerras –, mas envergonhada pela vergonha, pela forma como fui tratada.”

Após o episódio, o casal deixou a academia. Kely foi acolhida por funcionários da unidade e, junto com a aluna grávida, registrou boletim de ocorrência na Delegacia de Boa Viagem. A Polícia Civil confirmou que o caso está sendo apurado.

A equipe do Pragmatismo Político procurou Karolaine Klecia da Silva e Marcos Aurélio Mendes Leite, mas até o momento da publicação desta reportagem, os dois não haviam se pronunciado.

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Last Update: 28/05/2025