Durante audiência desta terça, 27, na Comissão de Infraestrutura do Senado, o senador Omar Aziz (PSD-AM) atacou de maneira grotesca a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, responsabilizando-a por obras paradas na Amazônia, citando a BR-319 como exemplo de projeto atrasado mesmo após quatro décadas.

Aziz defendeu o direito dos amazonenses de usar a estrada para lazer e desenvolvimento. Marina Silva rebateu, afirmando que a culpa por obras inacabadas recai sobre vários governos anteriores, e que ela tem sido usada como pretexto para esconder a falta de ação concreta.

Visivelmente exaltado, Aziz esbravejou, batendo no peito e apontando o dedo para a ministra: “A gente quer, sim, a BR-319, ministra, para passear, como a senhora disse. Queremos, sim. Temos o direito de passear na 319. E não é a senhora quem vai impedir que a gente passe por lá. Nós, amazonenses, queremos esse direito. A senhora passeia na avenida Paulista, hoje queremos passear na 319”, afirmou, interrompendo a ministra várias vezes durante sua resposta.

“Peço para falar apenas um minuto. Estou aqui como convidada”, respondeu a ministra, que chegou a ter o áudio do microfone cortado pelo presidente da sessão, o senador bolsonarista Marcos Rogério (PL-GO). “A senhora está atrapalhando o desenvolvimento do nosso país, digo isso com a maior naturalidade do mundo. Existem mais de cinco mil obras paradas por causa dessa conversa de governança, nhen, nhen, nhen, bla, bla, bla”, falou.

Aziz ainda culpou Marina por não ter chegado socorro às vítimas da Covid-19, uma vez que a rodovia não foi asfaltada.

A rodovia BR-319, que liga Porto Velho a Manaus, citada no bate-boca entre Marina Siva e Omaz Aziz

A BR-319 conecta Manaus, no Amazonas, a Porto Velho, em Rondônia. Inaugurada em 1976, em plena ditadura — tempos de Brasil Grande e Transamazônica –, tem cerca de 870 km, mas grande parte do seu percurso permanece sem pavimentação adequada há mais de 30 anos. 

Nos últimos anos, a BR-319 virou foco de controvérsias. De um lado, há defensores da obra que apontam sua importância para a integração da Amazônia com o restante do país, facilitando o acesso a mercados e o deslocamento das populações locais.

Em junho do ano passado, o relatório final de um grupo de trabalho sobre a BR-319 virou foco de divisão no governo Lula. O documento, elaborado pela equipe do Ministério dos Transportes, defendia o asfaltamento completo da rodovia, que naquela época tinha apenas partes dos seus 880 quilômetros trafegáveis durante o ano inteiro.

Por outro lado, ambientalistas e órgãos de controle alertam para os riscos que a pavimentação e o aumento do tráfego podem trazer para a floresta, incluindo o avanço do desmatamento e impactos sobre comunidades indígenas e tradicionais.

Conhecida como “Rodovia Fantasma”, a BR-319 enfrenta sérios problemas, com o “trecho do meio” sendo o mais desafiador, com cerca de 400 quilômetros de terra batida e sulcos profundos, dificultando a travessia e a utilização de veículos. Há conflitos com povos indígenas que vivem na região, inclusive com questionamentos sobre a demarcação das terras e o licenciamento ambiental. 

No começo de 2023, o governo Lula incluiu a obra na lista de projetos prioritários. Em 2022, durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) já havia emitido a licença-prévia para o asfaltamento do chamado “trecho do meio”.

Embora essa licença não autorizasse o início das obras, ela é legalmente entendida como um atestado da viabilidade econômica e ambiental do projeto.

Mesmo assim, o asfaltamento não começou, pois ainda dependia da obtenção de outras duas licenças: a de instalação e a de operação.

O “trecho do meio” da BR-319

O processo seguia em andamento no Ibama, que solicitou estudos complementares ao Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (DNIT), ligado ao Ministério dos Transportes.

Um dos exemplos citados por parlamentares da bancada da região Norte para defender a conclusão da rodovia foi o colapso no abastecimento de oxigênio no Amazonas durante a pandemia de Covid-19, em 2021.

Naquele período, em meio a uma onda da doença, hospitais ficaram praticamente um dia inteiro sem oxigênio hospitalar, situação que teria contribuído para a morte de pacientes graves. Sem conexão terrestre com o restante do país, o estado dependia do transporte de oxigênio por avião e barcos.

Outro argumento apresentado por esses parlamentares é que a rodovia poderia impulsionar o desenvolvimento de uma região historicamente negligenciada por políticas públicas, como é o caso da região Norte.

Essa tese de desenvolvimento também consta no relatório do Ministério dos Transportes divulgado na terça-feira.

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Last Update: 27/05/2025