China e Rússia fecham parceria do século para construção do maior gasoduto do planeta

A Federação Russa e a República Popular da China firmaram novo acordo de cooperação energética que prevê a construção do gasoduto Power of Siberia 2, projeto que poderá alterar significativamente o fluxo global de exportação de gás natural e reforçar a relação bilateral entre os dois países.

A iniciativa ocorre em meio às sanções econômicas impostas à Rússia desde o início da guerra na Ucrânia, em 2022, que provocaram mudanças estruturais no mercado energético internacional.

Até o início do conflito, cerca de 40% do gás consumido pela União Europeia era fornecido pela Rússia. Com as restrições comerciais impostas a Moscou por países ocidentais, as exportações russas de gás natural foram reduzidas drasticamente.

Dados do período indicam queda próxima de 50% nas vendas externas do produto, com reduções ainda mais expressivas nas exportações de petróleo e carvão.

A resposta do governo russo foi reposicionar suas exportações energéticas para mercados asiáticos, com ênfase na China. Paralelamente, Pequim buscava ampliar sua segurança energética, reduzir a dependência do carvão e diminuir a vulnerabilidade de suas rotas marítimas, especialmente aquelas sob influência dos Estados Unidos e da Austrália.

Nesse contexto, foi concebido o Power of Siberia 2 (PoS-2), gasoduto que ligará os campos de gás da Península de Yamal, na Rússia, às províncias do norte da China, por meio da Mongólia.

O projeto prevê o transporte de até 50 bilhões de metros cúbicos de gás por ano, com uma fase inicial estimada em 38 bilhões de metros cúbicos anuais. A estimativa de duração do acordo é de 30 anos, o que totalizaria cerca de 1,5 trilhão de metros cúbicos de gás natural comercializados ao longo do período.

O PoS-2 é tratado como um dos principais projetos de infraestrutura energética em andamento e deve alterar o equilíbrio geoeconômico entre a Eurásia e o Ocidente.

Autoridades russas estimam que a receita anual gerada com as exportações pode variar entre US$ 2,5 bilhões e US$ 4,3 bilhões, valores que poderão impactar significativamente a economia da região oriental da Rússia, ao impulsionar setores como o de infraestrutura, transporte e indústria de base.

Segundo documentos técnicos divulgados pelos dois países, o gasoduto deverá contribuir para a ampliação da capacidade exportadora da Rússia, ao mesmo tempo em que permitirá à China diversificar suas fontes de fornecimento de energia. A substituição parcial do carvão por gás natural também está alinhada aos compromissos chineses de redução de emissões, conforme acordos multilaterais ambientais.

Além do impacto direto na matriz energética chinesa, o PoS-2 poderá alterar as dinâmicas de poder no mercado internacional de energia.

A dependência da Rússia em relação ao mercado europeu tende a ser reduzida, enquanto a China fortalece sua posição como principal destino das exportações energéticas russas. O movimento também amplia o poder de barganha de Pequim em negociações futuras com Moscou, segundo análises de institutos especializados em política energética.

O projeto ainda depende de etapas de licenciamento e definições técnicas. Entretanto, autoridades envolvidas nas negociações afirmam que os avanços nos acordos preliminares já permitiram o início da mobilização de recursos para sua implementação.

O governo da Mongólia, país por onde passará parte do gasoduto, também participa das tratativas para definição da rota e dos termos de operação.

Entre os objetivos estratégicos da China estão a busca por estabilidade no fornecimento energético e a redução da dependência de importações marítimas, especialmente aquelas sujeitas a interferência em áreas de tensão geopolítica. O fornecimento terrestre de gás russo oferece uma alternativa de abastecimento considerada mais segura do ponto de vista logístico e político.

A Rússia, por sua vez, utiliza o PoS-2 como uma alternativa à sua tradicional dependência do mercado europeu, que foi fortemente comprometido após a imposição de sanções econômicas relacionadas ao conflito ucraniano. A parceria com a China representa, nesse sentido, um redirecionamento estratégico do fluxo de energia do Ocidente para o Oriente.

Especialistas apontam que a consolidação desse novo corredor energético poderá influenciar outras cadeias globais de suprimento, além de impactar os preços internacionais do gás natural. A iniciativa é observada de perto por blocos como a União Europeia e por países exportadores de energia, que avaliam os desdobramentos da aliança sino-russa no cenário internacional.

O PoS-2 é parte de uma estratégia mais ampla das duas potências para ampliar sua cooperação em áreas como infraestrutura, comércio e defesa. Embora os governos não tenham divulgado prazos detalhados para a conclusão da obra, as declarações oficiais sinalizam prioridade máxima para o projeto nos próximos anos.

O avanço dessa parceria é interpretado por observadores internacionais como um indicativo de reconfiguração dos polos de influência global, especialmente no setor energético. A formalização do projeto ocorre em um contexto de transição na matriz energética mundial, com disputas por rotas estratégicas e novas fontes de suprimento em curso.

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