No estreito de Tsushima, entre a Coreia e o Japão, travou-se, há 120 anos, uma das batalhas navais mais decisivas da história moderna: a Batalha de Tsushima. O confronto foi o ponto alto da Guerra Russo-Japonesa (1904–1905) e teve consequências profundas, tanto para o equilíbrio de poder na Ásia quanto para o destino interno da Rússia. Como em conflitos mais recentes no Mar Vermelho, onde grupos como o Ansar Alá desafiam grandes potências por meio de ações navais, a batalha de Tsushima demonstrou como o domínio do mar pode ter repercussões que ultrapassam o campo militar.
A Guerra Russo-Japonesa foi motivada pela disputa imperialista entre os dois impérios pela influência na Manchúria e na Coreia. O Japão, após se modernizar rapidamente com a Restauração Meiji, buscava se afirmar como potência regional. Já a Rússia, interessada em expandir seu império para o Pacífico, via essas regiões como fundamentais para seu projeto de expansão.
O estopim veio em fevereiro de 1904, quando o Japão, em movimento surpresa, atacou a frota russa ancorada em Chemulpo (atual Incheon, Coreia), sem uma declaração formal de guerra. O ataque marcou o início das hostilidades e mostrou desde o começo o caráter ofensivo da estratégia japonesa.
Com a frota do Pacífico da Rússia parcialmente destruída, o governo czarista ordenou que a frota do Báltico, sob o comando do almirante Zinovi Rozhestvensky, fizesse a longa viagem de mais de 18 mil milhas náuticas até o Extremo Oriente. A jornada foi marcada por atrasos, incidentes diplomáticos e fadiga. Quando os navios russos chegaram às águas próximas ao Japão, estavam exaustos, mal coordenados e com suprimentos reduzidos.
Foi assim que em 27 de maio de 1905, a esquadra japonesa comandada pelo almirante Heihachiro Togo atacou. Familiarizados com a geografia do estreito de Tsushima e com uma força naval mais bem preparada e coordenada, os japoneses aplicaram táticas de superioridade de manobra e fogo concentrado. A vitória foi retumbante: a Rússia perdeu cerca de dois terços de sua frota, incluindo muitos encouraçados, enquanto o Japão sofreu perdas mínimas.
Para o Japão, vencer em Tsushima foi decisivo para o fim da guerra. A humilhante derrota forçou a Rússia a aceitar negociações de paz mediadas pelos Estados Unidos, culminando no Tratado de Portsmouth. O Japão emergiu como potência naval e consolidou seu papel no cenário asiático, enquanto a Rússia sofreu um duro golpe em sua imagem internacional.
Internamente, a derrota agravou a crise do regime czarista. Já em janeiro de 1905, antes mesmo da batalha, o país havia sido sacudido pelo massacre do Domingo Sangrento, quando tropas abriram fogo contra trabalhadores em frente ao Palácio de Inverno. A guerra e a derrota só aprofundaram o descontentamento. Greves, revoltas e motins eclodiram em várias regiões do império. Embora a Revolução de 1905 não tenha derrubado o czarismo, ela foi o prenúncio do que viria em 1917.
A experiência de 1905 mostrou que o império russo era vulnerável tanto militar quanto socialmente. As contradições do regime, acirradas pela guerra e pelas derrotas, continuaram a se aprofundar até eclodirem na Revolução de Fevereiro e, meses depois, na Revolução de Outubro liderada pelos bolcheviques.
A Batalha de Tsushima é um lembrete duradouro de como o controle naval pode alterar profundamente o rumo de uma guerra e o destino de nações. Conflitos mais recentes, como os episódios no Mar Vermelho envolvendo o grupo Ansar Alá, demonstram que, ainda hoje, forças assimétricas podem desafiar grandes potências por meio do domínio de rotas estratégicas.