A burguesia está montando, passo a passo, o tabuleiro de mais um golpe de Estado no Brasil. Como em 2016, quando o Diário Causa Operária denunciou que “as peças do golpe estão sendo colocadas no lugar” com a eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara dos Deputados, hoje se pode ver com clareza que uma nova ofensiva está em curso. O objetivo é impedir que Lula e Jair Bolsonaro participem das eleições de 2026 e impor um novo Fernando Collor.

A ilusão da esquerda pequeno-burguesa é de que a perseguição judicial a Bolsonaro, orquestrada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e conduzida por Alexandre de Moraes, é uma cruzada contra o fascismo. Nada mais falso. Os mesmos que organizaram o golpe de 2016 contra Dilma Rousseff, que prenderam Lula sem provas em 2018 e que sustentaram o regime golpista que se seguiu, agora aparecem como heróis da “democracia” enquanto preparam um ataque sem precedentes aos direitos da população.

A esquerda, tomada pelo pânico e completamente desorientada, ignora que o plano da burguesia é impedir também a vitória de Lula. E, se ele for eleito, será derrubado — como já foi feito com Dilma Rousseff. A máquina do golpe está em movimento: o STF, com suas decisões arbitrárias; a imprensa burguesa, que fabrica a opinião pública; o Congresso Nacional, controlado por partidos como União Brasil e PP; e o aparato econômico, que pressiona o governo Lula a aplicar um programa de fome e miséria para a população.

Com Haddad no comando da economia, o governo Lula é obrigado a realizar a política que o próprio bolsonarismo prometeu, mas não conseguiu aplicar: cortes, privatizações, submissão ao imperialismo. Isso torna o governo cada vez mais impopular e abre caminho para o surgimento de uma “terceira via” completamente artificial, tal como ocorreu em 1989 com Fernando Collor de Mello.

Não por acaso, os nomes mais citados pela burguesia hoje são Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado, Eduardo Leite e Romeu Zema. Nenhum deles tem base popular. Nenhum deles tem proposta diferente do que já se viu: repressão aos trabalhadores, destruição dos direitos sociais, entrega do Brasil às potências imperialistas. Todos servem ao mesmo plano de choque econômico que o imperialismo precisa aplicar em meio à maior crise desde 1929.

Foi assim com o Plano Collor: confisco da poupança da população, destruição da economia nacional e empobrecimento em massa. Foi assim com o Plano Real de Fernando Henrique Cardoso: congelamento salarial, privatizações, perseguição aos sindicatos. Agora, o imperialismo quer repetir o modelo com ainda mais brutalidade. O exemplo é Javier Milei na Argentina, que em poucos meses já provocou uma catástrofe econômica e social em nome do “mercado”.

Diferentemente do que acredita a esquerda oportunista, a burguesia não está apostando em Bolsonaro. Está queimando Bolsonaro. Sua candidatura serve como espantalho para justificar o avanço da ditadura. Toda a repressão, censura, perseguições e arbitrariedades que hoje se dirigem contra a extrema direita serão usadas amanhã contra a esquerda e os trabalhadores, como já se viu incontáveis vezes na história.

A esquerda que defende o STF como barreira contra o fascismo está jogando gasolina na fogueira. Quando perceberem o que está realmente acontecendo, já será tarde demais. O golpe já está em andamento. A censura, o avanço da repressão, a perseguição política, a sabotagem do governo, a preparação de candidaturas golpistas — tudo indica que o regime que emergiu em 2016 está agora entrando em em uma nova e muito mais perigosa fase.

Apenas a mobilização independente dos trabalhadores pode impedir essa nova etapa do golpe. Somente com organização e luta nas ruas será possível deter os planos da burguesia e impor uma saída verdadeiramente popular e revolucionária para a crise. Apoiar a ditadura do STF e esperar que o imperialismo permita uma nova vitória eleitoral de Lula é caminhar cegamente para a derrota.

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Last Update: 26/05/2025