Os identitários continuam querendo punir as pessoas por coisas que aconteceram há séculos. Mais um capítulo dessa ladainha é o artigo Heranças invisíveis: o que o racismo estrutural ainda nos cobra, assinado por Sarah Aline e publicado neste sábado (24) no sítio Poder 360.

Sarah Aline, logo no título, tenta trazer para a discussão o livro de Silvio Almeida: Racismo Estrutural. Embora o racismo exista, e existe em qualquer sociedade, racismo estrutural não existe. O livro não prova que exista qualquer estrutura, o que se tenta ali, de maneira equivocada, é argumentar que existe uma relação íntima entre a modernidade e a construção do racismo como um elemento “estruturante” das sociedades contemporâneas.

Muito antes da modernidade, questões raciais são encontradas, por exemplo, nas Escrituras, como a do “o povo escolhido” x os outros; proibições de casamentos com mulheres estrangeiras visando a manutenção da pureza religiosa e nacional etc. Há um antigo mural no Antigo Egito, do período do faraó Seti I (1290 a.C. a 1279 a.C.), que mostra raças distintas.

O conceito de raça na Antiguidade, naturalmente, não tem o mesmo caráter que assumiu na modernidade, uma vez que as ciências biológicas se encontravam em outro estágio de desenvolvimento, mas a questão já estava colocada desde sempre.

Problema de raça?

A autora do artigo alega que “a abolição da escravidão é contada como um fim, mas para quem é preto no Brasil, ela foi o começo de outro tipo de violência: o abandono. Não houve reparação, nem inserção social”. E complementa com o seguinte: “O Estado simplesmente nos deixou à própria sorte. Isso resultou em quê? Uma herança emocional pesada que continua atravessando nossos corpos, nossas histórias e a nossa saúde mental”.

O que Sarah Aline esperava, que o Estado dessa assistência para qualquer setor da classe trabalhadora? Esperar isso é desconhecer o próprio caráter do Estado. Além disso, queira ou não, a escravidão acabou, teve um fim, ainda que sobreviva residualmente de maneira clandestina e ilegal.

Quanto à alegação de que existe uma “herança emocional pesada”, trata-se de uma questão subjetiva. Como medir isso? E, no capitalismo, toda a classe trabalhadora sofre. Como ela mesma aponta “hoje, o cuidado com a saúde mental ainda é inacessível para grande parte da população brasileira. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mais de 100 milhões de brasileiros não têm acesso a planos de saúde”.

Problemas psicológicos

O que o artigo diz é que, por conta da escravidão do passado, a população negra, de hoje, necessitaria de atendimento psicológico e, não apenas isso: “a psicologia precisa ser antirracista”. Trata-se de uma proposta absurda, pois a psicologia é uma prática de que deveria ter uma base científica, e não ideológica.

Sarah Aline sustenta que “não dá mais para fingir neutralidade. Não dá para atender uma pessoa preta sem considerar as camadas de opressão que ela carrega desde que nasceu. Não é só sobre ansiedade, estresse ou autoestima. É sobre como o racismo molda até o que a gente acredita que pode sentir ou conquistar”.

Não se pode esperar que a psicologia resolva um problema social. Se a opressão, que atinge toda a classe trabalhadora, persistir, os problemas alegados não serão resolvidos. Aliás, com o agravamento da crise capitalista, os setores mais pobres da sociedade sofrerão ainda mais.

O problema é dinheiro

Embora se use a psicologia no artigo, o que interessa mesmo é que, para os identitários, “falar de saúde mental para pessoas pretas é também falar de reparação” – grifo nosso.

O tema da reparação vem se repetindo porque os identitários querem cobrar do Banco do Brasil a enorme quantia de R$1,4 trilhão.

Como o Brasil é o país mais miscigenado do mundo, é impossível determinar quanto cada pessoa teria direito a receber. Mas essa aparente “dificuldade” é o que interessa. Uma vez que não se pode determinar um valor, seria criado um grupo para “gerir” essa montanha de dinheiro, e a melhor maneira de ser utilizado “em favor dos negros”.

Dentre aqueles que devem controlar esse dinheiro, caso se cometa o crime de cobrar do banco essa quantia, estão algumas ONGs que atribuem a si mesmas o direito de representar negros e pardos. Prometem que vão utilizar o dinheiro para “ações afirmativas”, quem sabe até apoio psicológico (?), para amenizar o sofrimento e melhorar a vida da população oprimida.

Acredita quem quiser nessa história. Toda essa lenga-lenga identitária tem um objetivo muito definido e, pior, querem que um banco brasileiro, cobiçado pelo imperialismo, seja prejudicado e pague uma verdadeira fortuna por conta da escravidão que, até a Abolição, não era crime.

O escravagismo é um modo de produção, foi um momento histórico, é passado, ninguém tem que pagar por coisas que aconteceram há séculos, ou vamos ter que cobrar reparação dos portugueses, que por sua vez exigirão reparação dos romanos e assim sucessivamente. É um absurdo.

Emancipação

Isso que essa matéria e os identitários exigem é uma falácia. Não se pode resolver os problemas dos negros e de nenhuma parcela da sociedade enquanto a classe trabalhadora não se emancipar. Não existe reparação possível.

Os identitários servem apenas para dividir e enfraquecer a luta geral dos trabalhadores e, como não lutam contra o capitalismo – a escravidão assalariada de hoje –, ficam choramingando a escravidão do passado e não vão resolver nenhuma questão mental/emocional de ninguém.

Não é à toa que o imperialismo, bancos como Itaú, George Soros, toda essa corja, enquanto escraviza o mundo inteiro, financia grupos identitários, pois é importante dividir para dominar.

A esquerda tem que repudiar o identitarismo, essa ideologia direitista. A emancipação do trabalhador é a emancipação do negro, da mulher, e de todos os setores oprimidos da sociedade. Qualquer coisa fora disso, é vender ilusões e tentar enganar a classe trabalhadora.

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Last Update: 26/05/2025