A construção do VLT de Salvador representa mais um marco histórico para a engenharia brasileira.

Após anos de paralisia, consequência direta da cultura de guerra ao investimento público criada pela operação Lava Jato, as grandes obras de infraestrutura emergem novamente como pilares do desenvolvimento nacional.

Os três trechos do projeto reúnem tradicionais empresas de engenharia, algumas quase destruídas pelas investigações e que agora voltam a participar de grandes obras públicas. O caso mais emblemático é o da Álya Construtora, anteriormente conhecida como Queiroz Galvão, que integra o Consórcio Expresso Mobilidade Salvador, responsável pelo primeiro trecho do VLT.

A Queiroz Galvão, fundada no Recife e hoje com sede no Rio de Janeiro, foi uma das gigantes da engenharia brasileira severamente atingidas pela Lava Jato. A empresa foi declarada inidônea e proibida de participar de licitações e contratos com órgãos públicos de todas as esferas – municipal, estadual e federal. Após anos de restrições, em janeiro de 2020, conseguiu vencer a licitação para construção do VLT da Baixada Santista, em São Paulo, com valor de R$ 217,7 milhões. Somente em junho de 2021, a construtora voltou a vencer uma licitação federal para construção de um trecho da transposição do Rio São Francisco.

O impacto da Lava Jato na empresa foi devastador. Seu quadro de funcionários, que chegava a 25 mil antes da operação, foi reduzido para cerca de 12 mil, um corte de mais da metade de sua força de trabalho. Em março de 2022, a empresa oficializou a mudança de nome para Álya Construtora, buscando marcar um novo ciclo após os anos de crise.

Antes da Lava Jato, a Queiroz Galvão havia participado de obras monumentais como a Usina Hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e trechos da Ferrovia Norte-Sul. Sua participação no VLT de Salvador simboliza a consolidação de sua retomada em projetos de infraestrutura de grande porte.

Ao lado da Álya no primeiro trecho estão a Metro Engenharia, empresa genuinamente baiana com experiência em obras de infraestrutura urbana e saneamento no Nordeste, e a MPE Engenharia, do Rio de Janeiro, que já atuou em projetos como o Metrô de Salvador e o sistema de trens urbanos de Recife.

O segundo trecho do VLT está sob responsabilidade do Consórcio CETENCO–AGIS–CONSBEM. A Cetenco Engenharia, com quase um século de história, nadou contra a corrente da desindustrialização brasileira e manteve-se como uma das principais construtoras do país. Seu portfólio inclui participação em obras históricas como a Usina de Itaipu, a Ferrovia do Aço e os sistemas metroviários de São Paulo e Rio de Janeiro.

A AGIS Construção, antiga Construtora Ferreira Guedes, também integrante deste consórcio, figura entre as dez maiores do setor no Brasil. Participou de obras como a Linha 4-Amarela do Metrô de São Paulo e o Rodoanel Mário Covas. Completando o trio, a Consbem Construções e Comércio traz sua experiência em projetos de aeroportos, como o de Viracopos, em Campinas, e obras industriais de grande porte.

O terceiro e último trecho ficará a cargo do Consórcio Bahia Atlântico, que traz uma forte presença internacional. A portuguesa Mota Engil, com atuação global, participou de obras como a Barragem de Baixo Sabor em Portugal e a Ponte 25 de Abril sobre o Rio Tejo, em Lisboa. A espanhola OHLA (antiga OHL) tem em seu currículo projetos como o Hospital Universitário Central das Astúrias, na Espanha, e o Trem de Alta Velocidade Medina-Meca, na Arábia Saudita.

A parceria inclui ainda a MEIR Serviços e Construções, empresa sediada em Salvador, que contribui com seu conhecimento do cenário local e já atuou em obras de infraestrutura urbana na capital baiana.

Essa matéria faz parte de uma série de reportagens sobre o VLT de Salvador. Confira os links abaixo:
Bahia lidera revolução ferroviária no Brasil
Os trens do Mato Grosso e o TCU
O VLT de Salvador e o mundo dos trilhos
O retorno das grandes construtoras

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Last Update: 25/05/2025