Neste sábado (25), uma palestra promovida pelo Partido da Causa Operária (PCO) no Centro Cultura Benjamin Péret (CCBP) em São Paulo desnudou o papel da Rede Globo como instrumento do imperialismo e da direita brasileira. Militantes do partido, os palestrantes foram Francisco Muniz, Fábio Picchi e Isaías Mota que, na exposição, destacaram a trajetória da emissora, desde sua fundação até sua influência em golpes e manipulações eleitorais, defendendo a cassação de sua concessão como medida democrática.

Francisco Muniz abriu o debate apontando a confusão da esquerda sobre a Globo, que, apesar de recente oposição ao bolsonarismo, apoiou o golpe de 2016 contra a ex-presidente Dilma Rousseff, a prisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a exclusão de seu nome nas eleições de 2018. “O governo Lula existe apesar da Globo, que, se pudesse, teria varrido o PT da política”, caracterizou Muniz. Dados financeiros reforçam a falta de juízo: o governo Lula gastou R$177,2 milhões em publicidade na emissora entre 2023 e outubro de 2024, contra R$89 milhões do governo Bolsonaro em 2022, lembrou.

Maior rede de televisão do Brasil, o monopólio da Globo alcança 99,55% da população, cobrindo 5.490 municípios e atingindo 200 milhões de pessoas diariamente, conforme dados da emissora. Na região metropolitana de São Paulo, no horário nobre, chega a cinco milhões de espectadores. Seus estúdios no Rio de Janeiro, com 1,73 milhão de metros quadrados, formam o maior centro de produção televisiva da América Latina. Muniz trouxe esses dados e lembrou, ainda, que o Grupo Globo foi fundado em 1925 por Irineu Marinho, completando 100 anos em 2025, enquanto a TV Globo celebrou 60 anos em abril.

Isaías Mota detalhou as origens da emissora, destacando que “é preciso compreender isso porque a Globo é um braço do imperialismo”. Em 1962, antes do golpe de 1964, Roberto Marinho assinou um acordo com o grupo norte-americano Time-Life, que injetou seis milhões de dólares na Globo, contra 300 mil da TV Tupi, então líder. “Sem esse aporte, a Globo não teria se estabelecido”, disse Mota. A Time-Life, liderada pelo anticomunista Henry Luce, com laços à CIA, forneceu sua experiência técnica especializada.

O acordo, porém, era inconstitucional por violar proibições a capital estrangeiro em grupos de comunicação social brasileiros, tendo gerado um escândalo e sendo investigado por uma CPI em 1966, que apontou Marinho como testa de ferro, e isso mesmo com a vigência da Ditadura Militar. O general-presidente Castelo Branco, no entanto, conseguiu manobrar e arquivar o caso, permitindo a expansão da Globo.

Fábio Picchi abordou as concessões estatais, que garantem o monopólio da Globo. Renovadas em 1977, 1992, 2007 e sob Bolsonaro, as concessões são antidemocráticas, excluindo sindicatos e movimentos sociais. “A Globo detém um privilégio jurídico, indicado pelo presidente e aprovado pelo Congresso”, criticou Picchi. Ele citou manipulações eleitorais, como a fraude contra Leonel Brizola em 1982, via Proconsult, e a edição do debate de 1989 para favorecer Fernando Collor contra Lula. A digitalização da TV, que poderia democratizar o espectro, foi capturada por Globo e redes religiosas, que, segundo o Brasil de Fato, receberam 73% das consignações digitais desde 2019.

Os palestrantes também denunciaram a cruzada da Globo contra redes sociais, apoiando leis como o PL das “fake news”. Picchi lembrou uma matéria do Jornal Nacional, nos anos 1990, que usou profecias de Nostradamus para justificar a Guerra do Golfo, entrevistando uma astróloga. “Falar de fake news diante da Globo é cínico”, afirmou. A cassação da concessão foi defendida como democrática, inspirada na revogação de emissoras golpistas por Hugo Chávez na Venezuela.

O público também participou do debate. Nivaldo Orlandi, de Embu das Artes, questionou a quantidade de canais que o Brasil poderia ter na rede aberta e lembrou uma farsa grotesca do diário paulistano Estado de S. Paulo, que classificou operação recente contra funcionários da embaixada israelense em Washington como “antissemita”, apesar do agressor gritar “Palestina livre”. Outro participante, Alexandre Alves, perguntou sobre TVs estatais, como a TV Alesp, mas Picchi destacou a baixa audiência das emissoras públicas.

Comentários online reforçaram as críticas: “Rede Globo é lixo hospitalar”, disse um perfil identificado como “Lúcido” via Live Pix. Outro usuário lembrou que Lula condecorou funcionários da Globo, evidenciando contradições do PT. À equipe do Diário Causa Operária (DCO), outros participantes elogiaram a iniciativa. É o caso de Eva Ferreiro, de Campinas, que destacou:

“Gostei [da palestra] porque só assim a gente pode entender melhor como funciona a política da Rede Globo. Sobre a história da Globo, foi bom participar hoje porque entendi como funciona realmente, porque tinha um outro pensamento da Rede Globo, né? Hoje eu vi que também existe uma política lá dentro. Eles trabalham assim. Então para mim foi bom esse debate. Debate de ouro para entender.”

Outro participante elogiou o conteúdo e informações novas, como a parceria com o monopólio imperialista Time-Life:

“O conteúdo da palestra é baseado numa visão crítica. Achei muito interessante, acho que contribuiria bastante para desenvolver o senso crítico de quem se interessa pelo assunto. E sobre a história da Globo, acho interessante, porque não sabia que a Rede Globo se baseava em um acordo feito com a imprensa norte-americana, a Time-Life, para se estruturar aqui no Brasil, isso eu não sabia”, disse Luiz.

Finalmente, Helena Meidane lembra “coincidências estranhas” que ajudaram a Globo a ocupar o lugar de outras redes de televisão e se consolidar como o monopólio que o Brasil conhece hoje:

“Achei a palestra muito instrutiva, como sempre. Achei os palestrantes muito bem informados, qualificados e claros. Precisa ouvir essas coisas, precisa saber essas coisas. Porque, além de muito mentirosa, a televisão também é muito boa em esconder os próprios mal-feitos. Então ela faz assim uma história linda, escondendo as altas mentiras que ela já fez e todos os truques de que ela participou. Essas informações técnicas, não sabia nenhuma, mas tem uma história que me lembrei que era assim: eu era pequena, pequena mesmo, tinha 6, 7 anos. E o canal 5, que era da Rede Globo, ninguém assistia. Todo mundo só assistia o canal 7, que era a TV Record, que tinha uma programação realmente interessante, variada, tanto que eu assistia com os meus pais. Não era nem de adulto, nem de criança. Era uma programação interessante. Você sabe que nessa década, um pouco antes de a Globo virar o que virou, a TV Record, os estúdios dela, pegaram fogo duas vezes pelo menos. Se é que não foram três, eu nunca pesquisei a respeito, mas todo mundo que tem a minha idade sabe e vai lembrar. Incêndios gigantescos que destruíram as instalações. Aí passou um tempo, a Record teve que fechar porque, coitada, e a Globo se impôs. E até eu, que a altura tinha, sei lá que idade, vi esses incêndios foram dois ou três, vou insistir, em um espaço curto de dois, três anos, mesmo sendo criança, ‘juntei lé-com-cré’ e falei, ‘bom, estão explicados os incêndios’. Para mim era óbvio, não falei disso com ninguém. Era óbvio, sabe? Eu achei legal esse fato. A Globo já eram boa de golpe antes de ser a Globo que conhecemos hoje.”

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Last Update: 25/05/2025