Há mais de trinta anos, o então deputado federal Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse o seguinte a respeito do Congresso Nacional:
“Há [ali] uma maioria de 300 picaretas que defendem apenas seus próprios interesses.”
A frase virou tema de música, na voz da banda Paralamas do Sucesso, e fez sucesso durante o governo FHC (PSDB), quando os tais picaretas aprovaram a reeleição para manter a política de entrega do País.
Depois de uma série de declarações em que vem exaltando o atual Congresso Nacional, reconhecido por todos como muito mais reacionário que o da década de 1990 e, portanto, com muito mais picaretas, o presidente Lula defendeu, no sábado (24), durante evento no Mato Grosso, que as redes sociais sejam regulamentadas no Brasil justamente pelas centenas de picaretas do Congresso Nacional.
Lula afirmou que “é preciso que a gente discuta com o Congresso Nacional a responsabilidade da gente regular o uso das empresas nesse país. Não é possível que tudo tem controle, menos as empresas de aplicativos”.
A infeliz declaração do presidente foi feita ao comentar a reacionária decisão de proibir o uso de telefones celulares por alunos dos ensinos fundamental e médio, aprovada pelo Congresso e sancionada por Lula em janeiro.
Uma política reacionária…
A regulação das redes sociais, que é a política central do imperialismo e que é seguida por um expressivo setor da esquerda no mundo e no Brasil, ganhou ares bizarros na visita do presidente Lula à China.
Segundo a imprensa burguesa – defensora da censura –, a primeira-dama Rosângela da Silva (Janja) teria se dirigido ao presidente da China, Xi Jinping, criticando o TikTok, empresa chinesa, sugerindo que o mandatário chinês interviesse em defesa da sua regulamentação, sob a alegação de que “crianças e mulheres são as principais vítimas da plataforma”.
O problema maior não é que tenha sido Janja ou qualquer outro membro da comitiva brasileira que fez a declaração; isso é absolutamente secundário. O que é absurdo e reacionário é que um integrante da comitiva do governo brasileiro, que foi depois apoiado pelo presidente, tenha pedido para o governo chinês censurar uma rede social no Brasil. E qual a alegação? Que é preciso defender as criancinhas! Trata-se de uma propaganda reacionária.
Essa é mais uma nova campanha do imperialismo “democrático” para censurar a Internet, tal qual a campanha do “extremismo”, como no caso dos perigosos terroristas que teriam tentado explodir o show da Lady Gaga no Rio de Janeiro – com o principal “terrorista” estando a mais de 1.000 quilômetros da capital carioca, no Rio Grande do Sul.
No caso das criancinhas, sistematicamente citadas por Lula e outros que buscam fazer demagogia em torno do tema, como poderia existir algo mais comovedor? O imperialismo, obviamente, não dá ponto sem nó. Quer o controle das redes sociais para encobrir seus crimes e calar seus adversários políticos, como as dezenas de milhares de crianças assassinadas pelo Estado fascista de “Israel” e as milhares que morrem de fome todos os dias por conta da política de rapina do grande capital.
… para ser executada por ‘picaretas’
Tão ou mais grave do que a proposta de regulação das redes sociais, em consonância com a política repressora do imperialismo, é que um governo de esquerda pretenda que essa regulamentação seja feita pelo Congresso mais reacionário das últimas décadas e, quem sabe, da história do País, com mais de 400 picaretas defensores dos interesses dos setores mais reacionários da sociedade, como banqueiros, latifundiários e todo tipo de monopólios.
Nada mais natural que o grande capital e seus representantes impulsionem essa política. Mas o fato de que a esquerda a apoie mostra a total capitulação desta diante do imperialismo.