
Pouco antes do conclave que elegeu Leão 14 como novo papa, o arcebispo de Manaus, dom Leonardo Steiner, observou um fenômeno que vem se repetindo em diversos cantos do mundo: o retorno de adultos à fé católica. “Na Páscoa, batizamos vários adultos. Temos recebido pessoas voltando para a Igreja depois de um tempo ausente”, relatou. O Brasil segue em queda no número geral de católicos, mas cresce discretamente o número dos que escolhem, em plena maturidade, uma reconexão profunda com a tradição católica.
Na França, símbolo do secularismo europeu, os batismos de adultos subiram 31,5% entre 2023 e 2025, saltando de 5.423 para 7.135. Entre adolescentes, a explosão é ainda maior: mais de 7.400 jovens entre 12 e 18 anos foram batizados até agora em 2025, 2,5 vezes mais do que dois anos antes. Embora o fenômeno não reverta ainda a perda de fiéis, ele revela uma nova busca por estabilidade espiritual em meio a um mundo cada vez mais fragmentado.
Para especialistas, esse retorno não é movido por rotina ou herança familiar, mas por uma religiosidade pensada, com liturgias mais densas, leituras teológicas e rituais que oferecem senso de continuidade e pertencimento. O antropólogo Rodrigo Toniol, da UFRJ, destaca que essa retomada da fé ocorre, sobretudo, entre adultos urbanos e escolarizados. “É uma resposta à instabilidade do presente, um contraponto à profusão de ofertas religiosas que parecem, por vezes, superficiais ou ligadas ao mercado”, afirma.

Casos como o da administradora Daniela Grelin, 55, ajudam a ilustrar o movimento. Filha de mãe católica e pai adventista, ela se voltou ao catolicismo durante a pandemia, após lidar com crises familiares. Encontrou na tradição da Igreja uma leitura mais profunda da Bíblia e uma estética espiritual que a tocou — dos cantos aos escritos dos santos. “Descobri uma tradição sólida, que lê a Bíblia como um todo e me convida a uma fé vivida com beleza e sentido”, diz.
O teólogo Eduardo Faria, ex-pastor presbiteriano, tomou o mesmo rumo. Após anos de incômodo com a desunião doutrinária entre os protestantes, buscou na Igreja Católica a solidez que sentia faltar. “Há pluralidade dentro da Igreja, mas tudo sob o pastoreio de um só papa, uma só eucaristia. Isso tem muito peso em tempos de fragmentação”, avalia. A centralidade doutrinária católica tem funcionado como âncora para muitos que já vagaram por outras crenças.
Para a jovem universitária Marcela Sousa, 23, a reaproximação com a Igreja veio no momento mais doloroso da vida: perdeu a mãe, terminou um relacionamento e ficou sem emprego. “Eu fui no terreiro, no culto, até ensaiei ser hare krishna. Mas entrei numa igreja católica um dia e me senti acolhida”, relata. Ainda que discorde de certos pontos da doutrina, reconhece na Igreja um espaço antigo, estruturado, que inspira respeito. “Eles estão no ‘business’ faz tempo. Tem que respeitar.” Com informações da Folha de São Paulo.