
Advogados que atuam na defesa de réus no inquérito sobre a trama golpista, que investiga o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais 30 pessoas por tentativa de golpe em 2022 para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), estão recorrendo a ferramentas de inteligência artificial para auxiliar na elaboração de estratégias jurídicas, segundo informações do Globo.
Programas como “Claude”, “Gemini” e “Jurídico AI” têm sido usados para pesquisar jurisprudência, resumir documentos e até corrigir peças processuais no complexo caso que reúne milhares de páginas.
“São quase 20 volumes no processo e não conseguimos ver tudo. A inteligência artificial é uma espécie de assistente virtual. O escritório ganha agilidade”, revelou um advogado que atua no caso, sob condição de anonimato. Apesar do uso crescente, muitos profissionais preferem não admitir publicamente o recurso à tecnologia, temendo críticas em um dos processos mais sensíveis da história do STF.
O investimento não é pequeno: alguns escritórios gastam entre R$ 8 mil e R$ 10 mil mensais com serviços de IA, que podem cobrar até R$ 3 mil de mensalidade mais R$ 0,50 por página analisada. As ferramentas ajudam a navegar pelo extenso material processual e a identificar argumentos jurídicos relevantes em meio a dezenas de milhares de documentos.

“Confira as respostas”
O uso de inteligência artificial no meio jurídico, no entanto, não está livre de equívocos. Um exemplo recente ocorreu quando o deputado Capitão Alberto Neto (PL-AM) utilizou o Claude para redigir um requerimento direcionado ao ministro dos Transportes, Renan Filho. O texto final incluía uma mensagem não editada da própria IA: “Tentar novamente. O Claude pode cometer erros. Confira sempre as respostas”.
Entre as plataformas mais usadas está o Jurídico AI, que se promove como especializado em direito brasileiro. Segundo o site da empresa, a ferramenta é capaz de produzir “peças processuais de alta qualidade em menos de 1 minuto” a partir de dados básicos fornecidos pelo advogado.
“A IA foi treinada diariamente com conteúdo do ordenamento jurídico nacional, o que lhe permite compreender termos técnicos do Direito”, afirma a descrição do serviço.
Enquanto isso, o Gemini, do Google, e o Claude, da startup Anthropic, também ganham espaço no mercado jurídico por suas capacidades de análise e síntese de textos. O Claude, lançado em 2023, foi desenvolvido com o objetivo declarado de ser um chatbot “mais seguro” que os concorrentes.
Na última semana, o advogado Roberto Verdana viralizou nas redes sociais por usar a narração de IA, com voz robótica, substituir sua sustentação oral no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). No entanto, a gravação foi interrompida pelo juiz federal Alexandre Moreira: “Doutor, isso está absolutamente repetitivo e desnecessário. Eu vou pedir para cortar o seu som”.
“Considero um desrespeito da parte do advogado fazer com que os magistrados fiquem ouvindo uma gravação. Se é para ser feito dessa forma, que se juntasse nos autos a gravação. Não vim aqui para ouvir gravação. Isso não tem cabimento”, emendou Leonardo Castanho, outro juiz federal presente na sessão.
⚠️ Juízes interrompem advogado por usar voz de IA em sustentação oral
O advogado utilizou uma gravação gerada por Inteligência Artificial (IA) para fazer uma sustentação oral durante a audiência da 2ª Turma Recursal da Justiça Federal do Paraná
“Um desrespeito da parte do… pic.twitter.com/VveioGvP6X
— Cenarium (@cenariumam) May 19, 2025