Um título de um filme em português nos faz lembrar o clima que a esquerda tenta impor na política: Sob o domínio do medo. Artigos e mais artigos reforçam esse clima, como é o caso de Projeto de Trump suspende regulações de IA e favorece Big Techs: alerta para o Brasil, de Reynaldo José Aragon Gonçalves, publicado no sítio Brasil 247 nesta quinta-feira (22).
As empresas de tecnologia, as big techs, se tornaram a desculpa para tudo, inclusive para o fracasso da esquerda, que abandonou suas bandeiras para defender o imperialismo, carinhosamente apelidado de “democracias liberais”.
Até ontem, o grande bicho-papão era o WhatsApp e as redes sociais, hoje o monstro são as IAs (Inteligências Artificiais). Esses setores amedrontados da esquerda, em vez de se organizarem e tirarem o melhor proveito das tecnologias, ficam chorando assustadas e implorando por censura, embora utilizem uma palavra mais branda: regulação.
Gonçalves diz que “o Congresso norte-americano deu um passo decisivo rumo à consolidação de uma agenda legislativa alinhada aos interesses das grandes corporações tecnológicas. Aprovado por margem apertada na Câmara dos Deputados, o projeto batizado por Donald Trump de One Big Beautiful Bill”. O autor acrescenta ainda que isso “representa uma reconfiguração profunda nas políticas públicas, fiscais e regulatórias dos Estados Unidos”.
O temor do articulista é que “embalado sob o discurso de reconstrução nacional e combate à burocracia, o projeto impõe uma moratória de dez anos para que estados norte-americanos legislem sobre inteligência artificial, desmonta regulações estaduais já existentes e congela mais de 60 propostas em tramitação que buscavam mitigar os riscos de algoritmos enviesados, proteger dados sensíveis da população e estabelecer limites ao uso de IA por parte de governos e empresas”.
Os dados sensíveis da população já estão em risco faz tempo, foi exatamente o que denunciou Edward Snowden ao revelar o Projeto Prism.
O Projeto PRISM, iniciado pelo “democrata” Obama, não pelo “fascista” Trump, foi um programa de vigilância eletrônica operado pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA). Ele foi mantido em segredo até sua revelação em 2013, quando Snowden vazou documentos que mostravam como o governo dos EUA coletava dados de usuários de grandes empresas de tecnologia.
O acesso aos dados era feito com base na Lei de Supervisão de Inteligência Estrangeira (FISA), especificamente sob a Seção 702 dessa lei, que autorizava a coleta de comunicações estrangeiras fora dos EUA, mas que acabava capturando também informações de cidadãos norte-americanos indiretamente.
Ataque às novas tecnologias
Gonçalves caracteriza o governo Trump como sendo um tecno-libertarianismo, porque este, em tese, faria a burocracia estatal recuar diante da iniciativa privada.
Segundo o autor, “o bloqueio da regulação de IA pelos estados significa, na prática, um sinal verde para empresas como OpenAI, Google, Amazon e Meta desenvolverem e aplicarem tecnologias altamente sensíveis sem a mediação de critérios locais de transparência, segurança ou justiça algorítmica”. O problema, no entanto, não poder ser esse, pois a vigilância dos aparatos de inteligência do Estado burguês têm muito mais poder e são mais nocivos para os direitos da população.
Ainda que se alegue a proteção dos direitos individuais, e se fale em “apagamento da centralidade dos direitos humanos e do bem comum”, os ataques às inteligências artificiais interessa unicamente ao imperialismo, que precisa controlar de todo modo o acesso democrático ao acesso e à produção de informação.
No lugar de promover o desenvolvimento, de exigir que o governo também invista em tecnologias, que promova a pesquisa nessa área, Gonçalves apenas espalha receio e diz que “A importação acrítica desse modelo (de governança digital, impulsionado por políticas como o ‘One Big Beautiful Bill’) representa uma ameaça concreta à capacidade do Brasil de definir seu próprio rumo no campo da inteligência artificial, da proteção de dados e da regulação das plataformas”.
De onde vem o medo das big techs?
Desde o processo do Mensalão, uma das maiores aberrações jurídicas no Brasil – que levou uma ministra do STF a prender um réu ao mesmo tempo em que confessava não ter provas –, a esquerda ficou acuada.
O bombardeio nos jornais e televisão não dava trégua, prisões espetaculares combinadas entre a PF e emissoras como a Rede Globo; políticos do PT algemados, helicópteros, policiais com fuzis, juízes que se tornaram celebridades, transmissão de julgamentos ao vivo. Uma enorme operação cuja finalidade era liquidar o PT.
Deixando de fora o Partido da Causa Operária, o restante da esquerda apoiou o esquema. Em 2016, com outra campanha sórdida da grande imprensa, o protagonismo do STF, com a prisão ilegal de Lula, criou-se mais uma vez um ambiente hostil à esquerda que, em grande medida, pariu a extrema direita no Brasil.
Em vez de denunciar o golpe da prisão de Lula, a proscrição ilegal de sua participação nas eleições, o PT resolveu lançar Fernando Haddad à presidência. O correto seria o partido se retirar das eleições, denunciar a fraude e abrir uma crise política.
Haddad não tinha chance de vencer, mas sua candidatura conferiu legitimidade à vitória de Jair Bolsonaro. A esquerda, que não soube ler os acontecimentos, começou a culpar mensagens em massa nas redes sociais como responsáveis da derrota de seu candidato.
Para essa esquerda, não foram os grandes jornais, as campanhas de calúnia, o STF, o golpe e o imperialismo que elegeram Bolsonaro, mas o WhatsApp. A partir de então, iniciou-se uma verdadeira histeria coletiva contra as redes sociais.
Culpar as redes sociais é ótimo, pois encobre os verdadeiros criminosos e golpistas.
O medo das plataformas sociais fez com que setores inteiros da esquerda passassem a apoiar Alexandre de Moraes e toda sorte de arbitrariedades contra os direitos democráticos da população.
A classe trabalhadora não deve entrar no clima de medo que se espalha pela esquerda pequeno-burguesa, para quem o fim do mundo parece estar próximo. Deve, isso sim, se organizar, e os meios tecnológicos são de grande auxílio.
Ficar embaixo do cobertor com medo de assombração, apenas dará mais força para que o imperialismo continue seu projeto de tornar o mundo o reino da censura.