Pesquisa do IPESP apontou uma rejeição de 54% ao governo Lula, em meio a um cenário de claro agravamento da crise.
No mesmo dia, a equipe econômica liderada por Haddad (PT) e Simone Tebet (MDB) anunciou um pacote de cortes de gastos de mais de R$ 31 bilhões, junto com medidas de aumento do IOF, parte das quais recuou — poucas horas depois — sob intensa pressão do mercado financeiro.
O preço dos alimentos não só não cai, como continua a subir. E só os banqueiros seguem fazendo a festa, como os do Itaú/Unibanco, que anunciam lucro de mais de R$ 11 bi no primeiro trimestre do ano.
A campanha contra o governo não para de crescer na velha imprensa capitalista. Destaca-se o caso da crise no INSS que, mesmo com os supostos descontos indevidos tendo disparado nos governos de Temer e Bolsonaro e sendo acobertados pelos “aliados” ciristas (do PDT) no atual governo, são usados para atacar diretamente o próprio presidente Lula. Nesta semana, anunciaram que as agências do combalido Correios nos 5.570 municípios do País vão receber as devidas reclamações de aposentados, ajudando a “pintar um quadro” de crise do governo que vai acabar sendo responsabilizado, indevidamente, pelo que ocorre.
Enquanto erradia-se a “gritaria” em torno de um suposto desvio de recursos dos aposentados que poderia chegar à casa dos R$ 3 bilhões, ao longo de mais de 5 anos, os “especialistas” e “analistas” da burguesia não veem o roubo diário de mais de R$ 7 bilhões por dia que os bancos fazem do orçamento público, expropriando os recursos da população que paga impostos (como não fazem os capitalistas) em nome de receberem juros, serviços e amortização da fraudulenta dívida pública, alimentada pela taxa de juros reais mais alta do mundo, aprovada pelo Copom há meses, sob o comando de Gabriel Galípolo, indicado para o cargo por Fernando Haddad, é claro, com o apoio dos banqueiros.
No próprio INSS, uma outra crise monumental. Acumulam-se na fila cerca de 2,7 milhões de pedidos de aposentadorias e benefícios, um aumento de quase 100% em relação ao ano anterior. Parte da política de contenção de gastos, neoliberal, da direita, que a esquerda parlamentar implementa, capitulando diante da direita que “apoia” e da que faz oposição ao governo Lula.
Em meio a toda essa crise, o Congresso encaminha a aprovação do fim da reeleição, que é defendida pela mesma imprensa golpista e pelos políticos dos partidos da direita (ainda que tenha agora outros nomes) que a aprovaram durante o famigerado governo FHC. Inicialmente, a proposta não tem como alvo direto o próprio Lula, uma vez que não entraria em vigor imediatamente. Mas a campanha é feita claramente contra o atual governo, sob o mote de que a reeleição não deu certo nos últimos anos.
Os partidos da direita, da oposição e da “base do governo” (que de fato, quase não existe), realizam fusões, formam federações e montam planos para ter uma (ou mais) candidatura “alternativa” à chamada “polarização”, mostrando claramente que a burguesia golpista trabalha por uma alternativa não só ao bolsonarismo, mas — em primeiro lugar — ao próprio Lula.
O governo não reage. Em certa medida, age como se nada estivesse acontecendo e faz campanha de medidas insignificantes diante da situação atual e da crise que se agrava, se desmoralizando cada vez mais e dando munição para a direita.
Nesta semana, por exemplo, anunciam com estardalhaço um plano de construção de moradias do Minha Casa Minha Vida, que pretenderia construir 130 casas em todo o País até o próximo ano. Isso diante de um déficit habitacional 50 vezes maior, de mais de 7 milhões de moradias. A proposta do governo representa, na média, a construção de 25 casas por cidade brasileira.
O governo aposta que possa recuperar apoio com medidas limitadas como a aprovação — para o ano que vem — da isenção do Imposto de Renda para salários até R$ 5 mil, quando a tabela do Imposto de Renda está defasada em mais de 150% e a equipe econômica do governo diz que atualizá-la “quebraria o País”, provocando um rombo de mais de R$ 100 bilhões, quando os bancos levam cerca de R$ 2 trilhões por ano do orçamento público.
Em meio a esta situação crítica, que se comunga com o agravamento da ditadura do Judiciário que cerceia as liberdades democráticas (e aqui também a culpa recai sobre o governo Lula) e o recrudescimento da repressão sobre os trabalhadores na cidade e no campo, a maioria da esquerda está ocupada com outro tema: a disputa de cargos.
No terreno interno dos partidos, em primeiro lugar do PT, a disputa nas regionais se acirra para ver quem vai ter o comando do Partido nas eleições do próximo ano, para garantir melhores condições de eleger seus parlamentares, quase sempre tendo acordo (as alas em disputa) com a política de alianças com a direita, que está levando o Partido para um verdadeiro suicídio e bloqueando as tendências de luta contra os ataques e os planos da burguesia golpista contra a esquerda e contra todo o povo.
Essa completa capitulação política que, de certa forma, repete de modo ainda mais grave a prostração que antecedeu o golpe de Estado de 2016, leva o PT e seus aliados a se encaminharem para apoiar elementos ultrarreacionários como o ex-governador de São Paulo (por 14 anos), ex-presidente do PSDB e atual vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (hoje no PSB), como candidato dessa “esquerda” para o governo paulista; o neoliberal prefeito carioca Eduardo Paes (PSD), como candidato ao governo do Rio de Janeiro; e o ex-presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (também do PSD), dentre outros, em quase todo o País, abrindo caminho para uma direitização ainda maior do regime político na próxima etapa e para desarmar uma possível reação dos trabalhadores e da esquerda diante da nova etapa do golpe que se prepara.