O ex-presidente Jair Bolsonaro e um kit de joias recebido de presente da Arábia Saudita. Fotos: Ueslei Marcelino/Reuters e Reprodução

Por Leonardo Sakamoto

Jair Bolsonaro foi indiciado pela Polícia Federal por organização criminosa, lavagem de dinheiro e apropriação de bem público – no caso, ouro e diamantes dados ao país por governos árabes. Até agora, a alcunha de golpista não estava arranhando sua imagem como cabo eleitoral para prefeitos e vereadores. Mas e a de ladrão de joias?

As investigações por ele tentar destruir o Estado democrático de direito após perder as eleições de 2022 não causaram grandes consequências junto ao público que lhe depositou o voto. Inelegível, ele está se preparando para transferir sua popularidade neste ano a candidatos do PL e do bolsonarismo.

Mas ser acusado de “ladrão de joias” é bem mais palpável do que “golpista” para uma parcela da população que votou nele, mas não é seu fã. Aquele grupo que acreditou na narrativa de que Jair era um homem “honesto” e estava acima da corrupção. Ou que, ao menos, acreditava estar apoiando o “mal menor”.

Como escrevi aqui ontem, é preciso analisar seu eleitorado em duas partes: o bolsonarista-raiz radical e o restante. O primeiro continua com ele independente do que faça, pois vai acreditar em qualquer explicação, mesmo que bisonha. Não importam as provas, essa parte do rebanho sempre ouvirá o seu berrante.

O segundo grupo votou em Jair, mas não empunha a bandeira do bolsonarismo. Sim, nem todo mundo que votou nele é bolsonarista, da mesma forma que nem todo mundo que votou em Lula é lulista ou petista. Há uma série de razões para votar em alguém, da ojeriza ao outro candidato, passando por simpatia por uma ideia, por esperança de vantagem em um governo ou pelo continuísmo.

O ex-presidente Jair Bolsonaro durante discurso a apoiadores. Foto: Alan Santos/PR

Mas dizer que alguém foi indiciado e, quiçá, virar réu e ser condenado por surrupiar joias não precisa de muita explicação. Afinal, roubar ouro e diamantes é feio.

E ele não só teria surrupiado joias como envolvido nove militares e ex-militares e dois advogados para importá-las ilegalmente, esquentar a carga e vendê-la para embolsar em proveito próprio.

Como também já disse aqui, uma parte do eleitorado tem mais facilidade de gravar na memória escândalos com Bezerros de Ouro, como setores evangélicos. Neles reside não apenas o absurdo do desvio da coisa pública, mas a utilização desses recursos para fazer do governante uma pessoa que desfruta de luxos a que a maioria da população nem sonha em ter acesso.

Para os eleitores do primeiro grupo, sua prisão não deve afetar nada. Pelo contrário, vão tocar uma campanha para vender a cadeia como uma grande injustiça, copiando o modelo do que petistas e lulistas fizeram durante os 580 dias em que ele permaneceu preso na carceragem da PF em Curitiba. Já no segundo grupo, deve ocorrer um estrago talvez sem precedentes.

Bolsonaro já demonstrou que não tem a mesma estrutura psicológica que outros políticos que foram presos para suportar a cana. A questão é se vai encarar de frente com dignidade ou seguirá o caminho de seus seguidores condenados pelo 8 de janeiro e fugir para a Argentina, para os Estados Unidos ou qualquer lugar que não o devolva para a Justiça do Brasil.

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Last Update: 05/07/2024