Dário Lucas Ângelo da Silva
Dário Lucas Ângelo da Silva

Por Ana Oliveira e Felipe Borges
Pragmatismo Político

No dia 2 de janeiro de 2013, Yana Luiza de Moura Andrade teve sua vida brutalmente interrompida com dois tiros na cabeça. Aos 30 anos, mãe de duas crianças e prestes a concluir a faculdade de Direito, Yana sonhava em se tornar advogada. O autor do crime foi o próprio companheiro, o então capitão da Polícia Militar de Pernambuco, Dário Lucas Ângelo da Silva.

O assassinato ocorreu no município de Paulista (PE), dentro da casa da mãe de Dário. No momento do crime, os dois estavam no quarto. Na sala, estavam a mãe dele e os dois filhos do casal. Após o feminicídio, Dário dirigiu-se à delegacia de Olinda e confessou o crime. Foi autuado em flagrante, mas, por ser oficial da PM, permaneceu custodiado em um centro especial para policiais.

O que se seguiu chocou a família, amigos de Yana e setores da sociedade civil: mesmo réu confesso de um crime hediondo, Dário Lucas Ângelo da Silva foi libertado pouco tempo depois. Em 2015, dois anos após o assassinato, foi promovido a major da PM pelo então governador Paulo Câmara. A decisão oficializou o avanço na carreira de um homem que havia admitido ter assassinado a própria companheira.

Yana foi enterrada pela família, que, desde então, trava uma luta solitária por justiça. Do outro lado, o autor do crime viveu o oposto: foi promovido, aposentou-se com benefícios e conseguiu o registro da OAB, passando a atuar como advogado.

Segundo as normas da Ordem dos Advogados do Brasil, pessoas com antecedentes criminais não podem sequer prestar o exame. Ainda assim, Dário obteve o registro profissional e passou a advogar. Enquanto isso, Yana, que era bacharel em Direito, foi enterrada sem conseguir realizar o sonho de atuar na área jurídica. Ela queria ser delegada e planejava se dedicar à causa das mulheres.

“Ela foi silenciada, foi punida por ser mulher. E o pior: o culpado está solto, anda pelas ruas, respira o mesmo ar que nós, enquanto minha filha está debaixo da terra”, desabafa Rozeane Moura, mãe da vítima.

A indignação da mãe se volta, agora, à possibilidade de justiça tardia: “Eu queria saber qual é o critério que a OAB usa para aprovar um réu confesso. Isso é bizarro. Ela queria ser advogada. Estava estudando para concurso, justamente para trabalhar na causa das mulheres. Ele, que tirou a vida dela, advoga como se nada tivesse acontecido.”

A denúncia sobre o caso chegou ao Pragmatismo Político por meio de uma amiga próxima de Yana. “Estamos desesperados. Essa é a última chance de fazer justiça. O que vimos nos últimos anos foi impunidade, proteção institucional e o silêncio das autoridades. Ele destruiu uma vida e seguiu em frente, protegido pelas estruturas que deveriam proteger a vítima”, relatou a amiga, que prefere não ser identificada.

Yana e Dario
Yana e Dario
Yana com os filhos em foto tirada pouco antes do assassinato

Ao longo dos últimos 12 anos, o caso jamais chegou a ser julgado. Agora, o julgamento do feminicídio está marcado para o dia 12 de junho de 2025, às 8h, na 1ª Vara Criminal de Paulista (PE). Familiares, amigos e apoiadores da vítima veem na data uma última chance de responsabilizar um réu confesso que tem sido tratado com privilégios pelo Estado.

O julgamento de Dário Lucas Ângelo da Silva, mais de uma década após o crime, é um teste para o Judiciário, para a sociedade e para o compromisso das instituições com a justiça de gênero. A família de Yana e milhares de outras mulheres brasileiras esperam que, desta vez, não haja silêncio e nem conivência.

→ SE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI… Saiba que o Pragmatismo não tem investidores e não está entre os veículos que recebem publicidade estatal do governo. Fazer jornalismo custa caro. Com apenas R$ 1 REAL você nos ajuda a pagar nossos profissionais e a estrutura. Seu apoio é muito importante e fortalece a mídia independente. Doe através da chave-pix: [email protected]

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 23/05/2025