De influenciador bolsonarista a réu em fuga, o sargento da Aeronáutica colidiu com viaturas e virou símbolo dos excessos da politização nas forças armadas
Um sargento da Força Aérea Brasileira (FAB), identificado como Roksinaidy Sales, foi detido na última quarta-feira (22) após tentar escapar de uma abordagem policial no Distrito Federal. O militar, que já havia atuado em manifestações bolsonaristas em 2022, incitando protestos por “intervenção federal”, acelerou o veículo ao ser informado de que o carro seria apreendido devido a irregularidades.
Envolvimento em ato golpista
Roksinaidy Sales ficou conhecido nas redes sociais como o “sargento patriota” durante os acampamentos em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, no ano de 2022. Em vídeos publicados no Instagram e no TikTok, ele aparecia cozinhando em uma estrutura improvisada, incentivando doações e convocando mais pessoas a se juntarem ao movimento.
Em uma das publicações, vestindo a camisa da Seleção Brasileira e um avental, ele escreveu: “Venha para o QG você também”. Em outras ocasiões, postou frases como “Os patriotas não têm dia para ir embora” e “5 refeições por dia para todos que estão acampados”.
Antes do primeiro turno das eleições, em 8 de setembro daquele ano, o sargento chegou a gravar um vídeo fardado, narrando uma “fábula” em que fazia alusões políticas: “A vida é assim: às vezes as pessoas estão no mesmo barco que você, mas só porque elas têm raiva do capitão do barco, elas querem afundar, mesmo que elas vão junto.”
Fuga e perseguição policial

O episódio que levou à sua prisão começou quando a Polícia Militar do DF (PMDF) foi acionada após denúncias de um motorista em alta velocidade transportando uma mulher na carroceria do veículo, no Gama. Com suspeita de sequestro, os policiais localizaram e abordaram o condutor, que se identificou como sargento da Aeronáutica.
Roksinaidy afirmou que apenas oferecia carona, algo que seria comum na região. No entanto, ao ser informado de que o carro seria apreendido por falta de documentação, ele pediu “cortesia” para evitar a medida. Quando os policiais insistiram na apreensão, o militar acelerou e iniciou uma fuga arriscada, desobedecendo ordens de parada.
A perseguição envolveu várias viaturas e terminou no bairro Bela Vista, em Novo Gama (GO). Durante o trajeto, o sargento teria dirigido de forma perigosa, colidindo contra as viaturas e colocando pedestres em risco. Diante da gravidade do caso, ele foi detido e encaminhado à 20ª Delegacia de Polícia (Gama).
Acusações e defesa do militar
Em suas redes sociais, Roksinaidy publicou sua versão dos fatos, alegando ter sido vítima de violência policial. Ele afirmou que os agentes atiraram contra seu veículo e que foi agredido dentro da viatura: “Fui torturado dentro da viatura, trancado onde eles colocam os presos comuns, a viatura parada no sol em frente à delegacia com os vidros fechados. Quase morri sem ar.”
A PMDF, por sua vez, emitiu nota informando que o sargento estava alterado e resistiu à abordagem, sendo necessário o uso de algemas. Além disso, ele teria ameaçado os policiais, dizendo que “acabaria com a carreira” de todos os envolvidos.
O militar foi multado por ultrapassar barreiras eletrônicas em áreas de grande movimento, e o veículo foi recolhido ao pátio do Detran-DF. A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) investiga o caso.
O episódio reacende o debate sobre o envolvimento de militares em movimentos políticos extremistas e os limites da atuação das forças de segurança em situações de confronto.