Morreu nesta sexta-feira 23, aos 81 anos, o mineiro Sebastião Salgado, um dos maiores fotógrafos do mundo. A causa da morte não foi informada, embora Salgado enfrentasse problemas decorrentes de uma malária que adquiriu nos anos 1990. Ele vivia em Paris, na França.
Sebastião Ribeiro Salgado Júnior nasceu na cidade de Aimorés, Minas Gerais, em 1944. Em cinco décadas de carreira, fotografou a vida dos menos favorecidos em todo o mundo: refugiados de guerra, trabalhadores submetidos a esforços físicos extremos, comunidades indígenas à margem da modernidade e paisagens remotas ainda não afetadas pela industrialização.
“Com imenso pesar, comunicamos o falecimento de Sebastião Salgado, nosso fundador, mestre e eterno inspirador”, diz um trecho do comunicado divulgado nas redes sociais pelo Instituto Terra, instituição da qual Salgado foi fundador. “Sebastião foi muito mais do que um dos maiores fotógrafos de nosso tempo. Ao lado de sua companheira de vida, Lélia Deluiz Wanick Salgado, semeou esperança onde havia devastação e fez florescer a ideia de que a restauração ambiental é também um gesto profundo de amor pela humanidade. Sua lente revelou o mundo e suas contradições; sua vida, o poder da ação transformadora.”
Na quarta-feira 21, a Forbes Brasil divulgou uma entrevista com Salgado. Na conversa, falou sobre a sua exposição que se encontra aberta ao público até o dia 1º de junho no centro cultural Les Franciscaines, na comuna francesa de Deauville.
“Quando chegamos lá, fizemos um passeio pela exposição. E, para mim, foi como fazer um passeio pela minha própria vida. Eu tive o privilégio — porque é um privilégio — de ter podido ir a todos esses lugares. Às vezes, as pessoas me dizem: “Sebastião, você é um artista.” E eu respondo: “Não, sou fotógrafo.” Porque só os fotógrafos têm o direito de duvidar. Quando vamos a todas essas regiões do mundo, enfrentando todos os problemas e desafios que você pode imaginar, nos perguntamos: sobre ética, legitimidade, segurança. E cabe a nós encontrar a resposta, sozinhos”, disse, quando questionado sobre como descrever sua atual exposição.
Em outro trecho, incitado a falar sobre os registros que fez sobre o genocídio em Ruanda, em 1994, Salgado mencionou ter tido vergonha de ser fotógrafo, naquele momento. “Foi tão brutal que fiquei doente – realmente doente. Tive vergonha de ser fotógrafo. Tive vergonha de fazer parte da espécie humana, porque até então, eu só havia fotografado uma espécie: a nossa.”
Sebastião Salgado recebeu prêmios de prestígio, como o Príncipe de Astúrias e o Prêmio Internacional da Fundação Hasselblad, e foi protagonista do documentário indicado ao Oscar O Sal da Terra, de Wim Wenders, sobre suas viagens a locais remotos como o Círculo Polar Ártico e Papua Nova Guiné, que alimentaram seu livro, Gênesis (2013).
Foi com seu primeiro livro, Outras Américas (1984), um retrato dos povos indígenas, que ele alcançou a fama, consagrada dois anos depois com as fotos da Serra Pelada (Pará), a maior mina de ouro do mundo a céu aberto, onde durante 35 dias conviveu com milhares de homens cobertos de lama e em condições desumanas. Seguiu-se outra obra antológica, Êxodos (2000), sobre migrações forçadas em 40 países.