Há um quadro complexo pela frente.

De um lado, tem-se um governo sitiado, sem espaço para ampliar os gastos e preso a duas armadilhas.

Uma delas, a apropriação de grande parte do orçamento pelo Centrão em um movimento duplo: tirando fôlego político do governo e turbinando eleitoralmente os parlamentares.

Some-se a isso a armadilha da política monetária-fiscal, obrigando o Banco Central a manter juros estratosféricos, que impedem qualquer relançamento maior da economia.

E, no meio, a total incapacidade do governo de articular qualquer proposta que devolva ao país a capacidade de sonhar.

No centro dessa ciranda, Lula, indiscutivelmente a maior liderança moderna do país, único governante que, em período democrático, conseguiu amenizar um pouco a gritante desigualdade brasileira e criar algumas políticas estruturantes. 

Lula é o maior ativo internacional brasileiro, visto mundialmente como a grande voz pela paz, em um mundo cada vez mais radicalizado e conturbado.

Além disso, enfrentou seu martírio, a prisão, a perda de entes queridos, sem jamais baixar a cabeça, dando um complemento épico à sua biografia, especialmente quando voltou para salvar o país da completa milicialização, representada por Bolsonaro.

Agora, é hora de começar a encarar uma situação de frente: o herói cansou. Nada a ver com capacidade cognitiva. Na China, quando deixou de lado o discurso escrito, mostrou sua enorme capacidade de comunicar os aspectos centrais da ética pública. 

Mas o político Lula cansou, não tem mais paciência para o dia-a-dia da política, nem para administrar seu ministério, como fez brilhantemente na grande crise de 2008. Não terá pique para montar seu plano de metas, organizar ações interministeriais, devolver um novo sonho ao país, da mesma maneira que o sonho de eliminar a fome, que pavimentou seus dois primeiros governos.

Essa falta de pique cria uma curva descendente de expectativas que será fatal, mesmo que ainda garanta algum fôlego para vencer as próximas eleições. 

É hora de Lula começar a discutir a sua sucessão. Não se trata de abrir mão do enorme ativo político que ele representa, nem de sua liderança sobre esse processo. Mas tem que começar a apostar em um sucessor, abrir espaço para ele dentro do governo, para o governo parar de jogar na retranca e criar uma expectativa de futuro.

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Last Update: 23/05/2025