Setores da esquerda que, por ignorância, inexperiência ou oportunismo, acabaram caindo na política de apoio à ditadura imposta pelo Poder Judiciário, mostram grande dificuldade em aceitar o fato de que os recentes depoimentos do tenente-brigadeiro, Carlos de Almeida Baptista Júnior e do ex-comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, comprovaram o fato de que toda a história da “minuta de golpe” e todo a suposta trama golpista associada a isso não passam de fofoca e de conversa de bar.
O articulista Aquiles Lins, em sua coluna para o sítio Brasil 247, afirma que “Os depoimentos prestados pelo general Marco Antônio Freire Gomes e pelo tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior ao Supremo Tribunal Federal (STF) enterram de vez qualquer tentativa de Jair Bolsonaro (PL) de negar seu envolvimento em uma conspiração para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva após as eleições de 2022”. No entanto, os detalhes dos depoimentos não confirmam de forma alguma essa versão.
A própria matéria de Lins cita o fato de que o tenente-brigadeiro relatou ter afirmado, diante da apresentação da suposta “minuta do golpe”: “Eu perguntei: esse documento prevê a não posse do presidente eleito? Se sim, eu não admito sequer receber esse documento. Levantei e fui embora”. O que, caso verdade fosse, provaria que ele sequer teve conteúdo do suposto plano golpista, mostrando já uma grande indisposição para participar da articulação.
Com relação ao conteúdo do documento em si, a matéria cita que o general Freire Gomes “confirmou que na última versão da minuta do golpe apresentado a ele, havia a determinação de prisão de autoridades, e que “acha” que a ordem era contra Moraes“. Ou seja, nada estava definido ao certo, e a ideia de que Moraes seria preso não passa de história inventada para procurar construir a absurda história da articulação.
Existe um desacordo entre os dois depoimentos com relação à postura do comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier. Batista Júnior, da Aeronáutica, afirma que o almirante teria colocado suas tropas “à disposição” de Bolsonaro. No entanto, Freire Gomes não confirma a versão, afirmando que o almirante teria, inclusive, condenado a possibilidade de debater o próprio documento. Mais um aspecto que enfraquece a versão da “trama golpista”.
A única confirmação que se pode ter dos depoimentos dos comandantes é que houve reuniões em que a questão teria sido discutida de forma superficial, não havendo ação concreta de nenhuma das partes envolvidas no sentido de levar a cabo a tentativa de impedir Lula de tomar posse em 2023, de prender membros do Judiciário ou demais acusações.
Ao fim e ao cabo, tudo isso não passou de fofoca e de “conversa de bar”, como foi colocado pelo próprio Mauro Cid. Conversar dessa forma informal e superficial não é crime e não pode ser seriamente considerado tentativa de golpe.
Ao fim, o articulista afirma que os documentos seriam “provas inequívocas do quão perto nós passamos de entrar numa nova ditadura militar”. Demonstrando uma incompreensão total de como funcionaria a organização de um golpe militar no Brasil. Se os comandantes das Forças Armadas não mostraram disposição em apoiar a ação, fica evidente que o imperialismo também não está interessado em fazê-lo, o que impossibilita totalmente um golpe dessa natureza.
A conclusão que o articulista tira de todo o fato é, ainda por cima, totalmente oposta à realidade. Ao fim do texto, ele afirma: “Com os depoimentos de Batista Júnior e Freire Gomes, o Bolsonaro não se vê apenas isolado politicamente como também fragilizado juridicamente”. No entanto, o que se tem é justamente o oposto. O bolsonarismo, embora atacado pela burguesia e pelo imperialismo, segue forte e com grande apoio em meio a setores da população. A própria perseguição acaba insuflando muito da base bolsonarista a se radicalizar ainda mais na defesa de Bolsonaro, pois é evidente que tudo isso se trata de uma grande farsa. O próprio crescimento da extrema-direita é um perigo que se apresenta em meio a essa situação.
Infelizmente, a esquerda nacional optou por seguir esse caminho fracassado, agindo como uma marionete do imperialismo, que a manobra para possibilitar uma perseguição judicial criminosa contra um dos dois únicos candidatos do país que têm apoio popular. A luta efetiva contra o bolsonarismo, feita nas ruas em meio ao povo e às mobilizações, foi totalmente abandonada pela esquerda. O resultado dessa política catastrófica será o fortalecimento da ditadura imposta pelo imperialismo contra o país, colocando a população como refém de um futuro governo muito pior do que o próprio bolsonarismo jamais foi.