Na última quinta-feira (22), cerca de 6 mil camponeses do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) bloquearam a Estrada de Ferro Carajás, em Parauapebas, Pará, e desarmaram um policial civil durante a ação. A mobilização, que também incluiu a interrupção da Mina Cristalino em Canaã dos Carajás por 800 famílias, exige a retomada de negociações com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para o assentamento definitivo de famílias acampadas. Até o momento, não houve repressão, mas os camponeses reivindicam o direito à autodefesa armada diante de ameaças.
O bloqueio da ferrovia, operada pela mineradora Vale, interrompeu a circulação de trens de carga e passageiros. A ação, iniciada às 5h, faz parte da Jornada de Lutas por Reforma Agrária Popular e Defesa do Meio Ambiente, sem previsão de término até que as demandas sejam atendidas.
Em nota, o MST afirmou que “a ação de mobilização e a retomada das nossas reivindicações da trégua estabelecida com o governo federal, Incra e empresa Vale”. A Vale, por sua vez, declarou que “respeita o legítimo e pacífico direito à manifestação e repudia qualquer ato que impeça o direito das pessoas ou empresas de desempenharem suas atividades e, sobretudo, que ameace a segurança e o direito de ir e vir”.
Durante o protesto, quatro agentes da Polícia Civil, incluindo um delegado, foram impedidos de passar pelo local. Um policial teve sua arma tomada, que seria devolvida no mesmo dia. Vídeos mostram manifestantes subindo no veículo policial e entoando gritos, sem registros de confronto. A ex-estatal cancelou o Trem de Passageiros nos dias 22 e 23 de maio, oferecendo reembolso ou remarcação de passagens.
A ação ocorre cinco meses após outro bloqueio na mesma ferrovia, em dezembro de 2024. Segundo o Incra, o Pará tem 1.937 acampamentos do MST, com 150 mil famílias aguardando regularização fundiária. A Vale assinou um Acordo de Cooperação Técnica com o Incra em abril de 2025 para apoiar a reforma agrária, mas o MST considera as negociações insuficientes. O direito à autodefesa armada, defendido pelos camponeses, responde a incidentes como o massacre de Eldorado dos Carajás, em 1996, onde 19 sem-terra foram brutalmente assassinados por policiais.