Na última quinta-feira (15), um relatório da organização norte-americana National Abortion Federation revelou que 65% das clínicas de aborto no estado do Colorado, nos Estados Unidos, sofreram invasões em 2023 e 2024, uma das maiores taxas do país. Além disso, 53% das clínicas relataram a presença de manifestantes contrários ao aborto, 24% enfrentaram obstruções e 18% receberam ameaças. Os dados apontam para um aumento da violência contra o direito das mulheres ao aborto, mesmo em um estado com acesso liberal à saúde reprodutiva, refletindo uma ofensiva global contra os direitos democráticos das mulheres.
O relatório contabilizou 27 casos de invasão em 17 clínicas do Colorado em 2023 e 2024, contra 17 casos entre 2020 e 2022. Também foram registrados 10 casos de vandalismo, oito obstruções e cinco ameaças de morte ou violência, números superiores aos dos anos anteriores.
Em âmbito nacional, a National Abortion Federation documentou 128.570 manifestantes, 650 invasões, 800 obstruções, 300 ameaças e três incêndios criminosos em clínicas no mesmo período. A presidente da Cobalt Advocates, Karen Middleton, destacou: “relatórios como esses mostram por que estados como o Colorado devem agir para proteger pacientes e profissionais, agora que a proteção federal não é garantida”.
Após a Suprema Corte dos EUA revogar a decisão Roe vs. Wade em 2022, o Colorado aprovou medidas para proteger o acesso ao aborto. Em novembro de 2024, 61% dos eleitores do estado incluíram o direito ao aborto na constituição estadual.
O governador Jared Polis sancionou leis que permitem o uso de fundos públicos para custear abortos, protegem médicos e pacientes de interferências externas e garantem atendimento em emergências. Apesar disso, a ofensiva contra o aborto se intensifica em outros estados, com 12 impondo proibições totais, segundo o Guttmacher Institute.
Nacionalmente, mais de 60 clínicas de aborto fecharam em 2023 e pelo menos 11 em 2024, especialmente no Meio-Oeste e Sul dos EUA, regiões com alta incidência de ataques. No Colorado, a Boulder Abortion Clinic fechou em 2024 após a aposentadoria de seu diretor, Dr. Warren Hern. Desde 1977, a National Abortion Federation registra incidentes, sem relatos de assassinatos ou bombardeios em 2023 e 2024, mas com histórico de 11 assassinatos e 42 atentados desde então.
A presidente da seção do Colorado da American Association of Pro-Life OBGYNs, Catherine Wheeler, afirmou: “a AAPLOG Colorado não endossa violência ideológica de nenhum lado do debate sobre aborto, incluindo os ataques contra centros de apoio à gravidez, como o incêndio criminoso no Life Choices em Longmont e a vandalização do Heart to Heart Pregnancy Center em Cortez”. Ela defendeu manifestantes, dizendo que “a maioria das pessoas nas calçadas fora das clínicas de aborto são defensoras pacíficas, que desejam oferecer alternativas e informações que as mulheres podem não receber nas clínicas”.
A violência contra clínicas de aborto reflete uma tendência global de retrocesso nos direitos das mulheres, observada em países como Polônia e Hungria, onde restrições ao aborto aumentaram nos últimos anos, segundo a Human Rights Watch. No Colorado, a redução de 42 clínicas em 2011 para cerca de 20 em 2022, conforme o Guttmacher Institute, evidencia a pressão contínua sobre o acesso à saúde reprodutiva.