Em meio ao impasse diplomático, o Japão reage com lucidez à postura americana e pressiona por um acordo justo antes que as tarifas causem danos irreversíveis


A recente declaração do governo japonês sobre as tarifas impostas pelos Estados Unidos escancara mais uma vez a política agressiva e unilateral de Washington, que insiste em sufocar seus aliados em nome de um suposto “interesse nacional”. Enquanto o Japão demonstra clareza e firmeza ao exigir a eliminação total dessas medidas abusivas, os EUA continuam a agir como um parceiro comercial desleal, impondo barreiras econômicas que só servem para alimentar tensões globais.

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Desde que Donald Trump assumiu a presidência, os EUA têm justificado suas tarifas predatórias sob o mantra do “America First”. No entanto, essa retórica mascara uma estratégia de dominação econômica que ignora as regras do comércio internacional e penaliza até mesmo nações aliadas.

O Japão, um dos maiores parceiros comerciais dos EUA, agora se vê obrigado a lutar contra taxações absurdas sobre aço, alumínio, automóveis e peças automotivas — setores vitais para sua economia.

Ryosei Akazawa, principal negociador japonês, não deixou margem para dúvidas: as medidas americanas são “extremamente lamentáveis” e devem ser revogadas. Mas, enquanto Tóquio age com transparência, Washington insiste em um jogo de pressão e procrastinação.

A dificuldade em agendar reuniões com os secretários americanos — Scott Bessent, Jamieson Greer e Howard Lutnick — não é mera coincidência; é um reflexo da arrogância de um governo que trata a diplomacia como um monólogo.

As duas rodadas anteriores de negociações entre EUA e Japão foram, nas palavras oficiais, “cordiais”. Mas cordialidade não gera resultados. Enquanto os americanos focam apenas em manter suas tarifas retaliatórias de 24%, o Japão busca um diálogo amplo, que inclua a revisão de todas as taxas impostas arbitrariamente. A disparidade é óbvia: os EUA não querem negociar; querem ditar as regras.

E o povo japonês já percebeu. Uma pesquisa recente do Yomiuri Shimbun revelou que apenas 19% dos cidadãos têm expectativas positivas sobre as negociações. Os outros 72% entendem que Washington não age de boa-fé. Essa desconfiança é justificada: os EUA têm histórico de romper acordos quando lhes convém, como fizeram com o Tratado Transpacífico (TPP) e em suas constantes ameaças à OMC.

Analistas sugerem que o Japão pode estar adiando as negociações na esperança de que os EUA recuem diante da pressão econômica. Mas até quando Tóquio deve esperar? Akazawa afirmou que “não se pode deixar que a pressa por um acordo prejudique os interesses nacionais”. No entanto, a postura americana indica que, sem resistência firme, as tarifas permanecerão — e se multiplicarão.

Enquanto isso, o ministro das Finanças japonês, Katsunobu Kato, tenta discutir questões cambiais com Bessent no G7. Mas, como em todas as conversas anteriores, é improvável que os EUA cedam. Washington não negocia; impõe.

Os Estados Unidos, sob o pretexto de proteger sua economia, tornaram-se o maior fator de desestabilização do comércio internacional. Suas tarifas não são apenas um ataque ao Japão, mas um golpe contra o multilateralismo.

Enquanto o governo americano insistir nessa política hostil, os aliados precisarão responder com unidade e firmeza — ou aceitarão ser vítimas de um jogo onde só Washington dita as regras.

O Japão está certo em sua posição. Agora, o mundo deve decidir se continuará a tolerar o bullying econômico dos EUA ou se, finalmente, fará frente a essa arrogância.

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Last Update: 22/05/2025