O crítico literário palestino Youssef Sami al-Youssef, considerado uma das maiores autoridades da crítica árabe contemporânea, teve sua trajetória profundamente marcada pela tragédia da Nakba. Nascido em 1938 na aldeia de Lubya, no distrito de Tiberíades, al-Youssef foi forçado ao exílio em 1948, após a ocupação sionista da Palestina. A fuga com a família o levou, via Síria, até o campo de refugiados de Wavel, no Líbano, onde viveu durante sete anos em condições de extrema pobreza.

Com o encerramento de seus estudos em território palestino, al-Youssef passou a frequentar a escola administrada inicialmente pela Cruz Vermelha e depois pela Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA, na sigla em inglês). Entre 1950 e 1951, abandonou os estudos e percorreu cidades do Líbano e da Síria, realizando trabalhos manuais como garçom, jornaleiro e contrabandista. Durante esse período, carregava consigo um pequeno dicionário de inglês, idioma que aprendeu de forma autodidata.

De volta aos estudos em 1951, retomou a educação formal, ao mesmo tempo em que se dedicava ao trabalho no campo e à leitura. Seu pai faleceu em 1954, episódio que o marcou profundamente. Ainda naquele ano, escreveu seu primeiro poema, sob influência do diretor da escola onde estudava.

Em 1955, mudou-se para Damasco, onde passou a viver no campo de refugiados de Yarmouk e ingressou na Escola Preparatória de Safad, da UNRWA. Foi nesse período que começou a frequentar bibliotecas e a estudar os principais autores da literatura árabe moderna, como Taha Hussein, Abbas Mahmoud al-Aqqad e Tawfiq al-Hakim. Também passou a ler os clássicos da poesia árabe, como al-Mutanabbi.

Em 1958, participou como combatente dos fidaʾin — guerrilheiros palestinos — na luta contra o governo pró-imperialista de Camille Chamoun, no Líbano. Em 1959, concluiu o ensino médio como candidato independente e ingressou no curso de Letras da Universidade de Damasco, especializando-se em Língua Inglesa. Nesse mesmo ano, casou-se com uma palestina.

Entre 1962 e 1992, atuou como professor em escolas da UNRWA em várias cidades da Síria, como Daraa, Lataquia e Damasco, com destaque para o campo de Yarmouk. Durante esse período, realizou viagens de estudo e trabalho, como a tentativa frustrada de lecionar na Arábia Saudita em 1967, quando foi detido e deportado ao desembarcar em Riade, apesar de estar com o visto de entrada emitido.

Em 1964, formou-se pela Faculdade de Letras da Universidade de Damasco. Cursou parte de um mestrado na Faculdade de Educação, mas não chegou a concluir o programa. Em 1965, visitou as cidades palestinas de Jerusalém, Nablus e Ramallah. A partir de 1968, passou a se aprofundar nos estudos do sufismo, destacando autores como Ibn Arabi e Abu al-Faraj al-Isfahani.

A partir da década de 1970, passou a escrever com frequência para revistas e jornais sírios e palestinos, abordando temas de crítica literária, especialmente poesia árabe clássica e moderna. Publicou seu primeiro artigo em julho de 1973, na revista do Sindicato dos Professores Palestinos em Damasco. No mesmo ano, escreveu textos para os periódicos al-Maʿrifa e al-Mawqif al-Adabi. Seu pensamento crítico foi moldado, segundo ele próprio, pelos impactos traumáticos da Nakba.

Ao longo de sua carreira, publicou cerca de trinta livros e centenas de artigos. Participou de diversos congressos internacionais organizados por sindicatos de escritores árabes e palestinos. Em 1976, tornou-se membro da União dos Escritores Árabes na Síria. Em 1977, integrou uma delegação à Tunísia, onde apresentou o trabalho “A crítica árabe contemporânea”. Também foi palestrante em eventos no Líbano (1981), Argélia (1987), Marrocos (1988) e Jordânia (2001), entre outros.

Entre 1975 e 1979, realizou viagens à Europa Oriental e Ocidental. Foi também convidado para um festival literário nos Emirados Árabes em 2004, mas, ao chegar a Sharjah, foi informado do adiamento do evento devido à morte do emir Zayed bin Nahyan.

Em suas análises, rejeitava as teorias totalizantes e valorizava a pluralidade, a sinceridade e a consciência individual como fundamentos da crítica. Defendia a literatura como uma atividade humana marcada pela “nobreza de espírito”. Introduziu o conceito de ightirab (alienação) como uma das principais forças criativas da arte, vendo no exilado um ser superior à degradação da modernidade.

Youssef Sami al-Youssef ficou conhecido por seu estilo rigoroso e por não tolerar a mediocridade. Enfrentou sérios problemas de saúde nos últimos anos de vida. Tornou-se diabético em 1997 e sofreu três infartos entre 1999 e 2007. Com o agravamento da guerra civil na Síria e o cerco ao campo de Yarmouk, foi forçado a se mudar para o campo de Nahr el-Bared, no norte do Líbano. Morreu em 2 de maio de 2013, aos 75 anos.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 22/05/2025