A demagogia “ecológica” tem sido amplamente usada pelo imperialismo para impor uma pressão social contra o progresso tecnológico e econômico. A bola da vez é a inteligência artificial (IA), um desenvolvimento inevitável da computação e com potencial produtivo gigantesco. Uma matéria publicada no sítio A Terra é Redonda adota um tom alarmante para falar do consumo de água relacionado à inteligência artificial generativa, a inteligência artificial que cria novos conteúdos. Mas afinal, que atividade humana é possível sem usar água de uma forma ou outra?

No texto Quanto custa a água da Inteligência artificial, de Bárbara Coelho Neves, a autora apresenta dados sobre o consumo de água relacionado aos data centers, que teriam o que a autora chama de “pegada hídrica” em quantidade “alarmante”. Logo no início, ela cita que o treinamento do quarto módulo do ChatGPT, o GPT-4, gerou um consumo de água equivalente ao que 300 residências consumiriam em um ano. Como se tentasse induzir o leitor a imaginar 300 famílias ficando sem água para que as pessoas ficassem “brincando” com a inteligência artificial.

Alguns dos exemplos de uso de IA miram justamente em ferramentas utilizadas pelo amplo público, como a manipulação de imagens no estilo de anime “Studio Ghibli” e o ChatGPT. Não é por acaso, pois é justamente esse uso mais popular da IA que incomoda o imperialismo. Afinal, coisas que só grandes empresas podiam fazer se tornaram acessíveis.

O exemplo da manipulação de imagens é interessante porque destaca um uso recreativo, ou seja, supérfluo diante do tal consumo de água. Quase como se as pessoas estivessem desperdiçando água em troca de uma mera brincadeira. Serve para associar o uso massivo de ferramentas de IA a coisas banais.

É muito óbvio, porém, que essas ferramentas são um arsenal muito poderoso para o processamento de informações relevantes. Um exemplo muito comum são as pesquisas cotidianas, onde a IA reúne em poucos instantes informações processadas a partir de uma quantidade enorme de fontes.

Um salto de evolução em relação às pesquisas na internet antes da massificação dessas ferramentas. Como a matéria alerta, porém, para responder 20 perguntas, o ChatGPT pode consumir até 500 ml de água. Um dos principais problemas dessa linha de argumentação é que se formos esmiuçar qual o consumo de água associado a cada atividade humana, chegaremos a um beco sem saída.

Toda mercadoria, todo eletrodoméstico, toda peça de roupa terá uma quantidade de água envolvida na sua produção. Qual seria então a solução, parar de produzir?

Neves aponta que um quarto da população mundial enfrenta escassez de água potável. É o caso da população palestina, especialmente no gueto de Gaza. Seria culpa do ChatGPT ou de uma ocupação militar genocida apoiada pelo imperialismo? A escassez de comida e remédios também entra na conta do uso massivo de inteligência artificial? As guerras provocadas pela burguesia imperialista também?

Claro que os questionamentos são meramente um recurso retórico. Não é o progresso ou a tecnologia que causa escassez de artigos essenciais como água potável e alimentos. É a ditadura do imperialismo que faz a vida de bilhões de seres humanos um inferno e restringir a produção do que quer que seja não trará benefício algum aos oprimidos.

Problemas ambientais não serão resolvidos com a diminuição do consumo, mas com o fim do capitalismo. O problema não é a tecnologia, mas quem detém o controle dela. Como a autora mesma reconhece, a IA tem potencial de ajudar na prevenção de desastres ambientais, análise de biodiversidade, pesquisas científicas e muito mais.

O objetivo de seu artigo, porém, não é fazer uma análise séria nem defender soluções viáveis para problemas reais, mas jogar lama em uma tecnologia que está sendo cada vez mais usada pelas pessoas, como fica explícito na pergunta usada para concluir a matéria: “a Inteligência Artificial vai secar nosso futuro?”. Não, não vai. Nem a IA e nem o capitalismo.

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Last Update: 22/05/2025