
A saúde dos adolescentes entrou em estado de alerta global, segundo novo relatório da Comissão de Saúde e Bem-Estar de Adolescentes da revista científica “The Lancet”. Publicado nesta terça-feira (20), o documento afirma que esse grupo vive uma crise marcada por obesidade crescente, transtornos mentais, impactos ambientais e desassistência pública. “A adolescência não pode mais ser ignorada, e os investimentos feitos para garantir a saúde e o bem-estar dessa geração de adolescentes são uma das melhores estratégias para assegurar o futuro da humanidade e do planeta”, conclui o relatório.
Os pesquisadores alertam que, embora adolescentes representem mais de um quarto da população global e concentrem 9,1% da carga de doenças, apenas 2,4% da assistência ao desenvolvimento para a saúde foi destinada a eles entre 2016 e 2021. “Para cada US$ 1 investido, apenas US$ 0,02 vão para a saúde de adolescentes”, exemplifica Peter Azzopardi, chefe da área de saúde de adolescentes no Kids Research Institute, da Austrália.
Os adolescentes, definidos pela comissão como pessoas de 10 a 24 anos, atravessam um período de intensas transformações biológicas, sociais e comportamentais. É também nessa fase que se consolidam hábitos que influenciarão toda a vida adulta, o que torna preocupante o aumento de problemas como ansiedade, obesidade e o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados. “Nosso relatório mostra que a adolescência também é uma janela de desenvolvimento fundamental”, afirma Azzopardi.
O relatório mostra que a obesidade dobrou entre adolescentes nos últimos 30 anos, afetando jovens de todos os países. Um dos fatores apontados é o consumo elevado de bebidas açucaradas, como refrigerantes e energéticos. Dados revelam que 54% dos adolescentes consomem essas bebidas pelo menos uma vez por dia, o que está diretamente associado ao aumento de sobrepeso.

As mudanças climáticas aparecem como uma das ameaças mais graves à saúde dos adolescentes. Os pesquisadores apontam uma “crise planetária tripla”: aquecimento global, perda de biodiversidade e poluição. Eles afirmam que quase todos os adolescentes do mundo já foram expostos a pelo menos um grande risco ambiental e que essa geração viverá a vida inteira em um mundo com temperatura média anual consistentemente mais alta.
Sobre a relação entre saúde mental e uso de tecnologias digitais, os pesquisadores adotam cautela. Embora reconheçam que a internet possa expor os jovens a riscos como cyberbullying e conteúdos prejudiciais, destacam também que ela pode oferecer conexões sociais positivas. “A transição digital cria tanto novas oportunidades quanto potenciais danos”, observam os autores.
O relatório também destaca o impacto dos conflitos armados e deslocamentos forçados. O número de adolescentes em áreas de guerra quase dobrou desde 1990, alcançando 340 milhões. Além das mortes diretas, muitos jovens enfrentam fome, exploração sexual e perda de acesso a serviços básicos.
Por fim, o estudo reafirma o conceito de “triplo dividendo”: investir na saúde de adolescentes beneficia não só a juventude atual, mas também os adultos que eles se tornarão e as futuras gerações. “Cada US$ 1 investido na saúde de adolescentes pode trazer um retorno de quase US$ 10”, reforça a comissão, que alerta: “A janela de oportunidade está se fechando rapidamente”.
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