
O ex-comandante da Aeronáutica Carlos de Almeida Baptista Júnior prestou depoimento à Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal nesta quarta-feira (21) e confirmou a participação de Jair Bolsonaro em reuniões que discutiram um plano de golpe de Estado após as eleições de 2022. O brigadeiro falou por cerca de uma hora e meia e foi ouvido como testemunha da Procuradoria-Geral da República e da defesa de Bolsonaro, Almir Garnier e Paulo Sérgio Nogueira.
Baptista Júnior afirmou que participou de uma reunião no Palácio da Alvorada, na qual Bolsonaro esteve presente e foram discutidas hipóteses como GLO, Estado de Defesa e Estado de Sítio. Segundo o brigadeiro, o general Freire Gomes, então comandante do Exército, reagiu à proposta e disse a Bolsonaro que o prenderia se a ideia fosse levada adiante. “Com muita tranquilidade e muita calma, mas colocou, que, se ele fizesse isso ele teria que prender [o então presidente]”, disse.
No dia 14 de dezembro de 2022, em reunião no Ministério da Defesa, o então ministro Paulo Sérgio Nogueira apresentou aos comandantes das Forças Armadas uma minuta de decreto golpista. Baptista Júnior afirmou que se recusou a ler o documento quando soube que previa impedir a posse de Lula. “Eu disse que não aceitava nem receber esse documento. Me levantei e fui embora”, declarou.
ATENÇÃO: o ex-comandante da aeronáutica, Baptista Júnior, ACABOU DE ENTREGAR O BOLSONARO em depoimento ao STF. Ele afirmou que o ex-presidente teria tentado convencer o Freire Gomes a aderir ao golpe, mas que ouviu de volta que seria preso.pic.twitter.com/E8txtIysYc
— Vinicios Betiol (@vinicios_betiol) May 21, 2025
O ex-comandante da FAB também relatou que o então chefe da Marinha, almirante Almir Garnier, colocou as tropas da força à disposição da trama. Além disso, confirmou que houve discussões sobre prender o ministro Alexandre de Moraes. “Vai prender o Alexandre de Moraes, presidente do TSE? Vai. Amanhã, o STF vai dar um habeas corpus para soltar esse. E aí, nós vamos fazer o que? Vamos prender os outros 11?”, contou.
Baptista Júnior afirmou ainda que foi alvo de ataques após se posicionar contra o plano golpista. Disse que os ataques foram coordenados por Braga Netto e mencionou o comunicador Paulo Figueiredo, que o apelidou de “melancia”, termo usado para se referir a militares considerados “de esquerda”. “Meu Twitter tive que fechar, chamam de ‘traidor da pátria’, que ‘não é patriota’. Esses ataques acontecem até hoje”, relatou.
Segundo o brigadeiro, a tentativa de golpe fracassou porque não houve adesão unânime dentro das Forças Armadas. Ele ressaltou que o ambiente era de “desconforto” e que não havia coesão suficiente para levar a trama adiante. Essa divisão interna, segundo ele, foi determinante para que o plano não se concretizasse.
O militar também afirmou que Bolsonaro foi informado de que não havia indícios de fraudes nas urnas. “Sim, [Bolsonaro foi informado disso] através do ministro da Defesa. Além de reuniões que eu falei, o ministro da Defesa que despachava sobre esse assunto”, declarou ao procurador-geral Paulo Gonet.
Por fim, Baptista Júnior disse que Bolsonaro pressionou para que fosse adiada a divulgação de um relatório sobre a lisura do processo eleitoral. “Sim. […] eu ouvi que sim [Bolsonaro pressionou pelo adiamento da divulgação], certamente outras testemunhas poderão dar isso com mais precisão”, afirmou.
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