Servidores públicos de Entre Rios (BA) fizeram um balanço da situação que vive a cidade e os ataques sofridos pela categoria desde o fim do resultado eleitoral de 2024, denunciando o prefeito Manoelito Argôlo Jr. (SOLIDARIEDADE) por perseguição política, autoritarismo e destruição sistemática do serviço público, conforme nota enviada com exclusividade ao Diário Causa Operária. Desde o fim das eleições municipais de 2024, o governo exonerou servidores aposentados sem justificativa, atrasou o 13º salário e deixou de pagar integralmente o terço de férias, gerando endividamento e indignação. A resposta dos trabalhadores, liderada pelo SINSPER, foi uma greve geral iniciada em 3 de fevereiro de 2025, com manifestações e ações junto ao Ministério Público.

A prefeitura retaliou com cortes salariais em fevereiro e março, agravando a crise humanitária, com servidores enfrentando fome e inadimplência. Um caso extremo foi a morte de uma técnica de enfermagem, vítima de choque após cortes salariais.

O SINSPER lembra também que o prefeito é irmão de Luiz Argolo, doleiro envolvido com escândalos de corrupção. A nota também aponta o colapso da cidade, com ruas esburacadas, saúde precária e desvalorização de professores e profissionais da saúde. Abaixo, reproduzimos a nota do sindicato:

RETROSPECTO DA LUTA DOS SERVIDORES PÚBLICOS DE ENTRE RIOS (BA)
(Novembro de 2024 a maio de 2025)

Desde o fim do processo eleitoral municipal de 2024, os servidores públicos de Entre Rios, interior da Bahia, têm enfrentado uma verdadeira ofensiva por parte da gestão do prefeito Manoelito Argôlo Jr., com traços claros de autoritarismo, perseguição política e desmonte do serviço público. O que se desenha não é apenas um conflito entre patrão e trabalhador, mas uma tentativa de desmoralizar o sindicalismo combativo, as formas de resistência populares e de calar qualquer voz que se levante contra a hegemonia da família Argôlo no município.

1. O ESTOPIM: EXONERAÇÕES E ATRASOS

Tudo começa logo após as eleições municipais, com a exoneração sumária de diversos servidores aposentados, sem justificativa clara, transição ou qualquer diálogo com o sindicato ou as categorias afetadas. Em paralelo, já no final de 2024, ocorrem atrasos no pagamento do 13º salário, com vários trabalhadores recebendo o valor de forma parcial ou incompleta, resultando em prejuízos financeiros e endividamento.

Também nesse período, o terço de férias constitucional deixou de ser pago em sua integralidade a vários servidores, sobretudo da saúde e da administração, gerando um clima de indignação generalizada. Enquanto isso, a prefeitura mantinha festas públicas, trios elétricos e um discurso de normalidade.

2. GREVE E MOBILIZAÇÃO (Janeiro a Março de 2025)

Em janeiro de 2025, diante do acúmulo de injustiças e da total ausência de diálogo por parte da gestão, o Sinsper iniciou uma jornada de mobilização, que culminou na deflagração da greve geral no dia 3 de fevereiro de 2025, após aprovação soberana em assembleia.

A greve foi marcada por manifestações, atos simbólicos, vigílias, produção de boletins, ocupação das redes sociais e ações junto ao Ministério Público e deputados estaduais e federais. Mesmo diante de uma pauta justa — pagamento integral dos salários atrasados, regularização do piso da enfermagem, repasses consignados e respeito à liberdade sindical — a gestão respondeu com cortes de salários nos meses de fevereiro e março, aprofundando ainda mais a crise humanitária entre os servidores.

3. A VIDA EM COLAPSO

Diversos servidores passaram a enfrentar privações gravíssimas: contas zeradas, fome, inadimplência. Os bancos continuaram cobrando os consignados, mesmo sem repasse da prefeitura. Planos odontológicos e outros benefícios foram suspensos por falta de pagamento da gestão, mesmo com os valores sendo descontados dos contracheques dos trabalhadores.

A saúde mental também entrou em colapso. Uma servidora técnica de enfermagem, com histórico de comorbidades, veio a óbito após entrar em estado de choque ao saber dos cortes de salário sucessivos. Este caso ilustra a violência institucional extrema a que estão submetidos os trabalhadores da cidade.

4. OS DESDOBRAMENTOS POLÍTICOS E JURÍDICOS

Mesmo com as idas a Salvador e reuniões com deputados como Hilton Coelho, Zé Neto e Kleber Rosa, a gestão não demonstrou qualquer disposição para solucionar o impasse. Pior: radicalizou sua postura. Tentou se articular com setores do Judiciário local, tendo inclusive o promotor que arquivou a denúncia contra os cortes salariais — indicado, segundo denúncias, por figuras ligadas à própria família Argôlo.

5. AÇÃO MIDIÁTICA E A NOVA OFENSIVA DA PREFEITURA

No final de abril de 2025, após uma série de postagens e cards denunciando os mais de 100 servidores sem salário, o prefeito Manoelito Argôlo Jr. publicou um vídeo desafiando os trabalhadores a “provar que alguém está sem receber estando em seu posto de trabalho”, afirmando que pagaria “em dobro”.

A fala ignora completamente a greve e o direito legal à paralisação por motivo de não pagamento. Trata-se de uma estratégia de narrativa: apagar da história a maior greve já feita na cidade e jogar a opinião pública contra os servidores, tratando o movimento paredista como inexistente.

6. A CIDADE EM RUÍNAS E A PERSEGUIÇÃO CONTINUA

A cidade de Entre Rios vive um momento de colapso geral:

Ruas esburacadas e mal iluminadas.

Postos de saúde sem médicos e profissionais desvalorizados.

A saúde pública é caótica e houve denúncia pública recente sobre a falta de atendimento nos hospitais.

Professores tiveram horas cortadas, e os profissionais da saúde ainda não receberam os repasses do Adicional de Insalubridade (AIQS) e outros direitos.

A Prefeitura selou acordo apenas com entidades que não participaram da greve, como a APLB, ignorando a entidade combativa que liderou toda a mobilização. A intenção é clara: premiar a omissão e punir a luta.

7. O PRESENTE E O FUTURO: O QUE FAZER?

Atualmente, o sindicato se reorganiza em meio a eleições internas, ataques da gestão e a necessidade de manter a base unida. A resistência segue em curso, mesmo diante de um cenário sufocante. Há ainda esperança na atuação do campo jurídico, que contesta a liminar que permitiu os cortes. A expectativa é reverter os danos sofridos.

Contudo, a luta é também política. É necessário denunciar em todas as frentes, construir pontes com a imprensa independente, formar alianças entre servidores de outras cidades e reforçar a narrativa da verdade.

Entre Rios é hoje o símbolo da ofensiva contra o serviço público no interior da Bahia. Mas também pode se tornar o símbolo da resistência.

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Last Update: 21/05/2025