Finalmente um artigo analisando as relações China-Brasil, reconhecendo a relevância da viagem de Lula e dos acordos firmados, mas as ressalvas sobre outros acordos que não saíram do papel.
Trata-se do artigo “O grande salto do Brasil em Pequim”, de Marcelo Ninio, publicado em O Globo.
Aqui, uma síntese organizada do trabalho, usando IA:
A visita do presidente Lula à China revelou um cenário de expectativas e desafios na relação bilateral, refletindo a complexidade das negociações em áreas estratégicas como infraestrutura, tecnologia e parcerias comerciais. A China segue sendo um parceiro fundamental para o Brasil, especialmente no contexto das exportações do agro, mas também há uma crescente busca por alianças que envolvem inovações tecnológicas e investimentos em setores críticos, como transporte e energia.
Principais pontos a se destacar:
- Expectativas e frustrações com a ferrovia transoceânica: A ferrovia ligando o Brasil ao Pacífico, que foi mencionada novamente, reflete um desejo antigo, mas que se arrasta sem avanços concretos. O pacote de US$ 53 bilhões de investimentos anunciado em 2015 durante a visita de Li Keqiang, por exemplo, ainda permanece uma promessa não cumprida, o que indica uma dificuldade histórica de materializar acordos entre os dois países, principalmente em projetos de infraestrutura de grande porte.
- Tecnologia e transferência de conhecimento: A transferência de tecnologia tem sido uma das grandes bandeiras de Lula, mas esbarra na falta de uma estrutura local qualificada para absorver e aplicar esse conhecimento de maneira eficaz. A referência a “doutores e pós-doutores” sublinha a necessidade de capacitação e qualificação de recursos humanos para que o Brasil possa tirar proveito de parcerias tecnológicas com a China. Nesse sentido, o Centro de Transferência de Tecnologia China-Brasil pode ser um passo positivo, mas como apontado, a ausência de um plano de longo prazo pode dificultar o impacto real dessa cooperação.
- Infraestrutura e oportunidades no setor de tecnologia: O Brasil tem se mostrado interessado em áreas como inteligência artificial e metrologia, e há uma expectativa de que a China, com sua expertise em tecnologias avançadas, possa contribuir para o avanço desses campos no Brasil. No entanto, a questão crucial será a efetiva capacitação local e a criação de ambientes de inovação sustentáveis a longo prazo. A preocupação levantada por especialistas, como André Quemé, sobre a necessidade de um plano mais robusto para acessar a inovação, é pertinente e precisa ser enfrentada com ações concretas.
- Abertura de mercado para o agro: O setor agrícola continua sendo um pilar fundamental da relação Brasil-China. A China, como um dos maiores importadores de produtos agropecuários brasileiros, tem contribuído para o crescimento das exportações, mas a diversificação de mercados e a agregação de valor ao produto ainda são desafios. Além disso, enquanto o governo brasileiro trabalha para fortalecer essa parceria, é importante garantir que não se dependa exclusivamente do mercado chinês, especialmente em tempos de tensões geopolíticas e guerras comerciais.
- Geopolítica e alinhamento estratégico: A crescente aproximação geopolítica entre o Brasil e a China, embora seja uma estratégia importante, também pode trazer desafios. A necessidade de equilibrar interesses comerciais com os valores e compromissos em outras áreas, como a preservação ambiental e os direitos humanos, por exemplo, é um ponto a ser cuidadosamente observado, especialmente com o crescimento das tensões internacionais e a guerra comercial em curso.
O caminho para o futuro
O que fica claro é que o Brasil e a China estão em um momento de transição nas suas relações, em que o foco está em iniciativas de longo prazo, como o desenvolvimento tecnológico e a infraestrutura. O desafio principal será garantir que essas iniciativas se transformem em realidade, criando uma base sólida de investimentos e capacitação no Brasil, o que exigirá uma atuação coordenada entre os governos, empresas e instituições de ensino.
Além disso, a formação de uma infraestrutura de inovação robusta será essencial para que o Brasil consiga não apenas consumir, mas também gerar tecnologia de ponta, aproveitando o que a China tem a oferecer sem se tornar excessivamente dependente.
O sucesso dessas iniciativas dependerá, em grande parte, da capacidade brasileira de implementar e sustentar um plano de longo prazo, que possa garantir que, daqui a alguns anos, a parceria com a China resulte não apenas em números de exportação, mas também em um verdadeiro salto na transformação tecnológica e na integração econômica dos dois países.
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