O governo federal pretende lançar até o final de junho um novo indicador voltado à medição do risco de fome entre famílias em situação de vulnerabilidade social.
Denominado CadInsan, o instrumento utilizará dados do Cadastro Único, combinados com variáveis socioeconômicas, para estimar a probabilidade de ocorrência de insegurança alimentar em nível municipal.
A informação foi divulgada pelo jornal O Globo e aponta que o novo índice será utilizado pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) como ferramenta para direcionar ações de combate à fome com maior precisão. O objetivo da medida é contribuir para que o Brasil seja novamente excluído do Mapa da Fome das Nações Unidas até 2026.
A presença do país nesse levantamento internacional, promovido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), foi registrada entre 2021 e 2023, com um índice de subnutrição de 2,8%. O limite definido para exclusão do mapa é de 2,5%. A próxima edição será divulgada em julho.
Diferente de metodologias anteriores, como a Tria — baseada em questionários aplicados em unidades de saúde — o CadInsan permitirá identificar com maior detalhamento as áreas onde a fome atinge níveis mais críticos. O índice trará recortes em escala municipal, ampliando a capacidade do governo de identificar localidades prioritárias para a implementação de políticas públicas.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), coletados por meio da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia), mostram que, ao final de 2023, cerca de 8,7 milhões de brasileiros estavam em situação de insegurança alimentar grave. Isso corresponde a 4,1% dos domicílios no país. O percentual, embora inferior ao registrado em 2022 (15%), ainda supera o índice de 2013, quando a taxa era de 3,2%.
Entre novembro de 2023 e janeiro de 2025, cerca de 13 milhões de domicílios participaram da pesquisa oficial sobre insegurança alimentar. No entanto, a distribuição das respostas apresentou desequilíbrios regionais, dificultando a análise precisa de algumas localidades.
As regiões Norte e Nordeste concentram os maiores percentuais de municípios com registro de insegurança alimentar. No Norte, 40% das cidades apresentam algum grau do problema. No Nordeste, o índice é de 38,8%. No Centro-Oeste e Sudeste, a taxa é de aproximadamente 25%, enquanto o Sul registra a menor incidência, com 16,6%.
Entre os estados, o Pará apresenta os dados mais altos, com 10% dos domicílios em situação de fome. Santa Catarina aparece com o menor índice, 1,5% das residências em insegurança alimentar grave.
A cobertura de equipamentos públicos voltados à segurança alimentar também é desigual. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento Social, apenas 10% dos municípios possuem bancos de alimentos, sendo a maioria mantida com recursos próprios. As cozinhas comunitárias estão presentes em 9% das cidades, enquanto os restaurantes populares operam em apenas 387 municípios.
O Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan) é apontado pela Secretaria Extraordinária de Combate à Pobreza e à Fome como ferramenta central para organizar a resposta federativa ao problema. O sistema está entre as iniciativas do Plano Brasil Sem Fome e busca articular diferentes esferas de governo e a sociedade civil em ações de combate à fome.
A secretária Luiza Trabuco afirmou que o Sisan viabiliza a execução de políticas estruturadas e coordenadas. “O sistema é uma ação estruturante para alcançar o objetivo de sair do Mapa da Fome e não voltar mais”, declarou. Segundo ela, o Sisan permite a implementação de iniciativas como cozinhas solidárias, programas de doação de alimentos e a aquisição de produtos da agricultura familiar.
A Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic), realizada pelo IBGE em 2023, apontou que os municípios que integram o Sisan apresentam indicadores mais favoráveis no enfrentamento da fome.
Atualmente, cerca de 1,6 mil cidades fazem parte do sistema, o equivalente a 30% do total. No entanto, essas localidades concentram mais da metade da população brasileira. A meta da atual gestão federal é ampliar a adesão ao sistema para 3 mil municípios até o fim do mandato.
Como forma de estimular a participação, o governo estuda condicionar o acesso a alguns programas sociais à integração ao Sisan. A proposta tem como objetivo criar mecanismos duradouros de enfrentamento da fome, independentemente de alterações nos governos municipais ou estaduais.
Entre as ações previstas para fortalecer essa estrutura estão o apoio à agricultura familiar, a realização de feiras e mercados locais e o reforço a programas sociais como o Bolsa Família, o Programa de Aquisição de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentação Escolar.
Com o lançamento do CadInsan e a ampliação das articulações federativas via Sisan, o governo busca não apenas atender aos critérios técnicos para a exclusão do Brasil do Mapa da Fome, mas também estabelecer uma base institucional permanente para prevenir o retorno à condição de insegurança alimentar generalizada.