A Comissão Europeia revisa para baixo as previsões econômicas para 2025 e 2026, citando tarifas comerciais mais altas dos EUA e um cenário de incerteza persistente
A Comissão Europeia revisou significativamente para baixo suas projeções de crescimento econômico para a União Europeia (UE) em 2025 e 2026, citando os efeitos negativos das tarifas comerciais elevadas impostas pelos Estados Unidos e um cenário de incerteza persistente. Segundo a Previsão Econômica da Primavera de 2025, divulgada nesta segunda-feira (19), o crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) do bloco de 27 países foi ajustado para 1,1% em 2025 e 1,5% em 2026, abaixo das estimativas anteriores de 1,5% e 1,8%, respectivamente, apresentadas na Previsão do Outono de 2024.
Impacto das tarifas dos EUA e incerteza comercial
A Comissão Europeia destacou que a revisão reflete principalmente os efeitos das altas tarifas comerciais e da imprevisibilidade gerada pelas recentes mudanças abruptas na política comercial norte-americana.
“Este é um rebaixamento considerável em relação à última previsão, em grande parte devido ao impacto do aumento das tarifas e à maior incerteza causada pelas mudanças recentes na política comercial dos EUA, além da indefinição sobre a configuração final dessas tarifas”, afirmou o órgão executivo da UE.
A zona do euro, composta pelos 20 países que utilizam a moeda única, também teve suas expectativas reduzidas: o crescimento agora está projetado em 0,9% em 2025 e 1,4% em 2026, abaixo das estimativas anteriores.
Inflação deve cair mais rápido, mas riscos persistem
Em meio ao cenário desafiador, uma notícia positiva é que a inflação na zona do euro deve atingir a meta de 2% do Banco Central Europeu (BCE) até meados de 2025, mais cedo do que o previsto anteriormente. A inflação média no bloco deve recuar de 2,4% em 2024 para 1,7% em 2026, seguindo uma trajetória semelhante em toda a UE.
A Comissão atribuiu essa desinflação mais rápida ao efeito moderador das tensões comerciais, que compensaram as pressões de alta nos preços de alimentos e na demanda de curto prazo.
Exportações sob pressão e riscos à vista
O comércio exterior da UE também sofre com o cenário global desfavorável. As exportações totais do bloco devem crescer apenas 0,7% em 2025, enquanto as vendas de bens podem sofrer nova contração devido a:
- Crescimento global mais lento;
- Queda acentuada no comércio mundial;
- Perda de competitividade dentro do bloco;
- Maior incerteza nas relações comerciais.
A Comissão alertou que os riscos econômicos continuam inclinados para o lado negativo. Uma possível fragmentação do comércio global poderia prejudicar ainda mais o crescimento e reacender pressões inflacionárias. Além disso, desastres climáticos mais frequentes representam uma ameaça constante.
O relatório destacou ainda que:
- Uma escalada das tensões comerciais entre UE e EUA poderia reduzir o PIB e aumentar a inflação;
- Conflitos comerciais entre os EUA e outros grandes parceiros (como China) podem ter efeitos em cascata na economia europeia;
- Instabilidade no setor financeiro não bancário pode se espalhar para os bancos, afetando o crédito;
- Se a inflação persistir nos EUA, o Federal Reserve (Fed) pode elevar juros novamente, impactando as condições financeiras globais e a demanda por exportações europeias.
Cenário desafiador pela frente
A revisão das projeções pela Comissão Europeia reforça os desafios que a UE enfrenta em um ambiente de comércio global volátil e políticas protecionistas. Enquanto a inflação mostra sinais de controle, o crescimento econômico mais fraco e a incerteza geopolítica exigirão medidas cautelares dos governos e do BCE nos próximos meses.
“A economia europeia está em um momento delicado, onde decisões externas — especialmente dos EUA — podem definir se teremos uma recuperação lenta ou novos ventos contrários”, concluiu um analista do mercado financeiro ouvido pela reportagem.