A razão pela qual é possível afirmar que a China já venceu a guerra da inteligência artificial travada com os Estados Unidos está na evolução de sua capacidade de produção de energia. Mais do que uma questão tecnológica, a IA é uma disputa sobre infraestrutura — e a China está vencendo com folga.
Recentemente, o Conselho de Estado da China aprovou a construção de 10 novas unidades nucleares, ao custo total de US$ 27 bilhões. A decisão foi anunciada no final de abril de 2025 e divulgada pela agência Reuters. Essas novas usinas se somarão a outras já operacionais, como Fangchenggang, Sanmen, Haiyang, Xiapu e Taishan. Todas as unidades serão construídas com tecnologia inteiramente chinesa, reforçando a estratégia de autossuficiência energética.
O que impressiona não é apenas o volume do investimento ou a velocidade das obras — geralmente concluídas em cinco a sete anos —, mas sim o custo por gigawatt produzido, que é dramaticamente inferior ao de projetos semelhantes no Ocidente.
Segundo análise do francês Arnaud Bertrand, enquanto o Reino Unido gasta cerca de US$ 43 bilhões para construir a usina de Hinkley Point C, com capacidade de apenas 3,2 GW, a China investirá 40% menos (US$ 27 bilhões) para obter quase quatro vezes mais capacidade: 12 GW. Isso significa que, enquanto o Reino Unido gasta aproximadamente US$ 13,4 bilhões por gigawatt, a China gasta apenas US$ 2,25 bilhões por gigawatt.
Nos Estados Unidos, o contraste é ainda mais gritante. A expansão da usina Vogtle, na Geórgia, foi concluída em 2024 após 15 anos de obras e um custo final de US$ 37 bilhões por apenas 2,2 GW de capacidade. Isso equivale a US$ 16,6 bilhões por gigawatt — quase sete vezes mais caro do que na China.
Mas por que essa disparidade importa para a inteligência artificial?
Porque, como admitiu Sam Altman, CEO da OpenAI, “o custo da IA acabará convergindo para o custo da energia”. Em outras palavras: o país que conseguir gerar mais energia de forma mais barata terá uma vantagem decisiva e duradoura na corrida pela inteligência artificial.
A China, ao construir infraestrutura energética de forma barata, rápida e em larga escala, está criando as bases para dominar o setor de IA — e, por consequência, diversas cadeias produtivas globais. Sua vantagem não está apenas na produção industrial, mas na capacidade de sustentar centros de dados, redes neurais, treinos massivos e aplicações energointensivas com custos muito menores.
Esse diferencial energético se estende para além da China. Com o avanço da Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI), Pequim oferece a países do Sul Global — como Brasil, Indonésia, Etiópia e Paquistão — não só capital, mas também tecnologia e expertise para construir infraestrutura energética avançada: usinas nucleares, parques eólicos, hidrelétricas, energia solar.
Enquanto empresas europeias e americanas prometem projetos caros e demorados, a China entrega resultados em prazos curtos e com custos reduzidos. Para países que precisam urgentemente expandir suas redes elétricas e se industrializar, a escolha se torna quase óbvia.
A guerra da inteligência artificial não será vencida apenas com chips, algoritmos e laboratórios. Ela será decidida por quem tiver a base energética mais sólida, barata e escalável. E, nesse campo, a China já venceu.