Nascido em Nazaré, filho de Amin Zayyad e Nazha al-Khawaja, Tawfiq Zayyad cresceu em uma família numerosa – quatro irmãos e quatro irmãs. Sua trajetória começou nas escolas públicas de Nazaré, onde concluiu seus estudos secundários em 1946, dividindo seu tempo entre as aulas e o auxílio ao pai no pequeno armazém da família. Foi nesse período que sua atividade política começou a tomar forma, influenciado por três professores que lhe abriram os olhos para os riscos do sionismo. Estes professores introduziram seus alunos aos debates publicados no jornal al-Ittihad e na revista al-Mihmaz. Em 1946, ainda estudante, Zayyad liderou sua primeira manifestação, protestando contra as políticas britânicas favoráveis ao sionismo – um prenúncio da luta pela qual ficou marcado.
Antes mesmo da Nakba de 1948, Zayyad filiou-se à Liga de Libertação Nacional na Palestina, organização que reunia comunistas árabes que haviam saído do Partido Comunista da Palestina, então dominado pelo que vinha a ser “Israel”. Como já exposto por este Diário, o Partido Comunista da Palestina era tão comunista quanto “Israel” era um país; ou seja, não era. Foi nessa época que também se aproximou da literatura, com os primeiros poemas publicados no final dos anos 1940. Quando a Liga se fundiu ao recém-criado Partido Comunista de “Israel” em outubro de 1948, Zayyad estava entre os que permaneceram nas áreas ocupadas. Durante os anos 1950, dedicou-se ao sindicalismo, destacando-se no Congresso dos Trabalhadores Árabes e, após sua dissolução em 1953, na ala comunista da Histadrut, a central sindical israelense. Seus artigos em al-Ittihad denunciavam as condições precárias dos trabalhadores árabes, sendo o tema central também de suas poesias.
A repressão não tardou. Em março de 1954, após liderar um protesto contra o imposto per capita imposto aos árabes (isenção dada apenas a quem servia ao exército, do qual eles eram excluídos), Zayyad foi preso, torturado e condenado a 40 dias de prisão por “perturbar a ordem pública” e “agredir policiais”. Após ser solto, elegeu-se vereador em Nazaré em julho daquele ano, propondo – sem sucesso – que as sessões da câmara fossem abertas ao público, uma ideia que só se concretizaria décadas depois, sob seu comando. Em 1958, nova prisão: seis meses nos cárceres de al-Jalama e al-Damun por organizar protestos do 1º de Maio, dia do trabalhador, banidos pelas autoridades. Foi na cela que alguns de seus versos mais combativos contra o fascismo sionista nasceram.
Entre 1962 e 1964, estudou filosofia e economia política em Moscou, retornando para assumir a secretaria do Partido Comunista em Nazaré. Em 1965, rompeu com a linha oficial e fundou a Raká (Lista Comunista Nova), reunindo árabes e judeus dissidentes das organizações emparelhadas pela escumalha sionista. Como editor da revista al-Jadid, ampliou seu alcance literário, enquanto sua poesia – direta, memorável, muitas vezes musicada – se tornava hino da resistência. Nos anos 1970, representou o partido em Praga, supervisionando estudantes palestinos em países socialistas.
O ápice de sua carreira política veio em 1973, quando elegeu-se deputado pela Raká. Seu poema “A Grande Travessia”, escrito após a Guerra de Outubro, provocou fúria na direita israelense, que exigiu sua expulsão do parlamento. Dois anos depois, liderou a Frente Democrática de Nazaré a uma vitória esmagadora nas eleições municipais, tornando-se prefeito com 67% dos votos. Transformou a cidade em um polo cultural e político, instituindo mutirões de voluntários (1976-1992) e lutando por verbas equiparadas às de municípios judeus. Em 1976, foi peça-chave no Dia da Terra, enfrentando chefes locais que tentaram sabotar a greve geral – o que lhe custou um atentado à sua casa.
Até sua morte em 1994, Zayyad foi alvo de múltiplas tentativas de assassinato. Nenhuma teve sucesso. Ironia trágica: o homem que desafiou prisões e ameaças morreu num acidente de carro, retornando de Jericó, onde recebeu Iasser Arafat em sua volta à Palestina. Seu legado é duplo: como poeta, deixou versos que viraram canções de protesto; como político, lutou mesmo sob ocupação para apoiar a resistência armada. A Medalha de Jerusalém (1990) e o prêmio literário que leva seu nome, criado pela Autoridade Palestina em 1995, são testemunhos de uma vida que, como seus versos, nunca se rendeu.