De acordo com relatório da rede norte-americana CBS News, cerca de 60% dos norte-americanos vivem atualmente incapazes de conseguir cobrir despesas básicas sem recorrer ao endividamento. A inflação acumulada de 18% desde 2020, combinada à estagnação dos salários, reduziu o poder de compra a níveis comparáveis aos da década de 1990.

O aumento no custo de vida é notável. Em 2020, o aluguel médio consumia 30% da renda familiar. Hoje, esse índice supera os 40%. Gastos com saúde e educação tornaram-se ainda mais onerosos: procedimentos médicos simples podem custar milhares de dólares e a dívida estudantil ultrapassa US$1,7 trilhão.

A expectativa de vida também caiu. Segundo dados oficiais, os norte-americanos vivem hoje, em média, 76,4 anos, contra 78,8 anos em 2019. Embora parte da queda se deva à pandemia, analistas atribuem o recuo também à degradação do padrão de vida, marcada por insegurança alimentar, moradia precária e colapso nos sistemas públicos de atendimento.

A crise habitacional é outro reflexo evidente desse cenário: mais de meio milhão de pessoas vivem em situação de rua nos EUA, mesmo com o governo injetando bilhões em resgates a instituições financeiras. O Federal Reserve, ao elevar os juros como forma de conter a inflação, tem aprofundado a desigualdade econômica: enquanto famílias de baixa renda enfrentam maior dificuldade para obter crédito, grandes investidores lucram com a alta dos rendimentos financeiros.

Esse quadro não se restringe aos Estados Unidos. Diversas nações europeias também enfrentam queda real da renda e aumento da precariedade. O Reino Unido e a França, por exemplo, foram palco de greves históricas nos últimos anos, com trabalhadores protestando contra a degradação das condições de vida e de trabalho. Alemanha e Itália, por sua vez, registram retração salarial e aumento da inflação, revelando que a instabilidade atinge também o chamado “primeiro mundo”.

A partir desses dados, muitos observadores argumentam que a atual situação nos países centrais representa uma mudança qualitativa no funcionamento do capitalismo contemporâneo. Para esses analistas, o modelo econômico baseado na dominação do capital financeiro, na especulação e na superexploração da força de trabalho, entrou em uma fase de esgotamento.

Empresas de grande porte, como Walmart e Amazon, são frequentemente citadas como exemplos desse paradoxo: apesar dos lucros bilionários, mantêm salários baixos e se opõem ativamente à organização sindical de seus trabalhadores. Esse descompasso entre o crescimento dos lucros e o empobrecimento da base trabalhadora tem gerado tensões políticas e sociais em diversos setores da sociedade norte-americana.

Além disso, crescem as críticas aos gastos militares dos EUA, que somaram US$886 bilhões em 2023, enquanto programas sociais sofrem cortes. A comparação entre os investimentos em defesa e a retração dos serviços públicos fortalece a percepção de que há um descompasso entre as prioridades do governo e as necessidades da população.

Do ponto de vista crítico, essa deterioração não seria um acidente, mas sim uma consequência do aprofundamento da crise histórica do capitalismo. A ideia de que o “sonho americano” — outrora símbolo da prosperidade capitalista — está ruindo ganha força entre economistas e estudiosos que veem o declínio do padrão de vida como sintoma de contradições internas do sistema.

Para esses analistas, o colapso das garantias básicas nos centros do capitalismo revela a falência de um modelo que antes sustentava a aparência de estabilidade às custas da exploração global. A crise nos EUA, portanto, seria mais do que conjuntural: seria estrutural, indicando que mesmo as maiores potências não conseguem mais oferecer o bem-estar prometido a seus cidadãos. Essa leitura também serve como advertência ao restante do mundo: se nem os países desenvolvidos escapam das disfunções do sistema capitalista decadente, nada de positivo pode se esperar em nações historicamente submetidas à sua política.

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Last Update: 19/05/2025