Assinado por Bruno Ávila e Guilherme Kern Assumpção, o artigo 17 de Maio: Dia Internacional Contra a LGBTfobia – Uma Luta Contínua por Direitos e Dignidade, publicado no portal Esquerda Online, da corrente psolista Resistência, afirma que:

“A importância dessa data se torna ainda mais evidente ao analisarmos os dados alarmantes no Brasil: Uma pessoa LGBTQIA+ é assassinada a cada 18 horas; O país lidera o ranking de assassinatos de pessoas trans há 16 anos, com 122 mortes registradas em 2024 (dados parciais).”

Supostamente, esse dado serviria para demonstrar que o Brasil é um país extremamente perigoso para LGBTs, ou até mesmo para justificar uma política de repressão severa contra qualquer manifestação de oposição a esse grupo. O que o autor, pouco inspirado, aparentemente não se deu ao trabalho de investigar é que o Brasil é um dos países mais violentos do mundo.

Se essa estatística for verdadeira — um LGBT é assassinado a cada 18 horas — então a conclusão lógica é que ser membro da comunidade LGBT garantiria a um cidadão uma segurança inédita para os padrões brasileiros. Isso porque o Atlas da Violência, divulgado recentemente, mostrou que, em 2023, o Brasil teve, em média, pouco mais de cinco assassinatos por hora — ou cerca de um a cada 12 minutos.

Comparando com a taxa de um assassinato LGBT a cada 18 horas, o contraste estatístico é evidente: é estatisticamente muito mais perigoso ser um trabalhador “não-LGBT” do que ser LGBT. É claro que essa comparação não significa que a população LGBT esteja protegida no Brasil. Pelo contrário, ninguém está seguro em um País com os índices de violência que temos e, especialmente, com a polícia que temos.

O Estado brasileiro é ameaçador para toda a população, LGBT ou não, porém o dado mostra que não é a violência o que preocupa Ávila e Assumpção. Fosse o caso, a denúncia seria concreta, voltada a defender o fim da polícia. O que o Resistência faz é usar os dados para impulsionar uma campanha histérica, voltada a defender a fantasia de que o Brasil seria um país particularmente opressor assassino contra a população LGBT, ensejando toda sorte de medidas direitistas que tradicionalmente acompanham campanhas do gênero. Os autores continuam:

“A LGBTfobia tem sido um dos pilares da extrema-direita no século XXI. Movimentos fascistas constroem um ‘Grande Inimigo’ – frequentemente pessoas trans – para justificar discursos de ódio e políticas de exclusão. Essa estratégia busca: Criminalizar identidades trans e não-binárias; Promover pânico moral em torno de pautas como família, tradição e nação; Naturalizar a violência como forma de ‘preservação da ordem’. A interseccionalidade na luta da esquerda é fundamental para enfrentar esse avanço. Não se trata apenas de resistir, mas de construir um projeto de sociedade que garanta direitos, dignidade e existência plena para todas as pessoas, independentemente de orientação sexual, identidade de gênero ou expressão.”

A colocação acima esconde, por exemplo, que o principal fenômeno fascista da atualidade — o sionismo — se utiliza justamente de sua liberalidade em relação à questão sexual e aos LGBTs para apresentarem sua obra máxima, o Estado nazista de “Israel”, como a entidade política mais moralmente avançada do Oriente Médio, em oposição aos supostamente “lgbtfóbicos” árabes e palestinos. Trata-se de uma propaganda frequentemente usada para justificar a barbárie cometida por “Israel” contra o povo palestino.

Não é verdade que a “LGBTfobia” seja um dos pilares do fascismo atual. O que tem ocorrido, na realidade, é que em torno dessa histeria se constrói uma frente internacional de ataque aos direitos democráticos — seja do povo palestino, do povo brasileiro ou de outros povos oprimidos. A propaganda contra a “LGBTfobia” tem sido usado como porta de entrada para instaurar um regime de censura no Brasil.

No fim, trata-se de uma campanha cujo objetivo real é intensificar os ataques às liberdades democráticas, utilizando justamente uma população mais desprotegida — como é o caso dos LGBTs — como escudo moral. O Esquerda Online adere de forma acrítica a essa propaganda, sem refletir sobre os interesses a que está servindo. Com isso, adota uma política imperialista que se estende por todo o planeta e que não pode, de forma alguma, ser endossada por uma esquerda consequente.

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Last Update: 19/05/2025