Uma epidemia de gripe aviária que afeta os Estados Unidos desde 2022 continua a gerar impactos econômicos e comerciais, mesmo com a desaceleração dos casos nos últimos meses.
De acordo com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda), cerca de 170 milhões de aves foram abatidas por causa do vírus H5N1, com registros da doença em 783 granjas comerciais em território norte-americano.
O surto resultou em aumentos significativos no preço dos ovos e motivou a adoção de medidas emergenciais por parte do governo norte-americano para garantir o abastecimento interno e reduzir os efeitos da crise sanitária.
A reação incluiu investimentos da ordem de US$ 1 bilhão em iniciativas de combate à propagação do vírus, além da flexibilização das regras sanitárias e da intensificação das importações de ovos.
Os dados mais recentes indicam uma queda no ritmo de disseminação da doença. Em fevereiro de 2025, foram contabilizadas 12,6 milhões de aves contaminadas. Em abril, esse número caiu para 1 milhão. Apesar da diminuição, os preços continuam elevados.
Segundo informações divulgadas pela Folha de S. Paulo, o valor médio da dúzia de ovos grandes atingiu US$ 2,86 em abril, o que representa uma alta de 79% em comparação ao mesmo mês do ano anterior.
O plano de resposta dos Estados Unidos à crise sanitária inclui US$ 500 milhões destinados a reforçar a biossegurança nas unidades de produção, US$ 400 milhões em suporte direto aos produtores afetados e US$ 100 milhões para o desenvolvimento de vacinas e outras soluções científicas.
Como parte da estratégia para enfrentar a escassez de oferta, os Estados Unidos aumentaram as importações de ovos, com destaque para a entrada do Brasil entre os principais fornecedores.
Segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o Brasil exportou 4,3 mil toneladas de ovos para o mercado norte-americano apenas em abril, um crescimento de 271% em relação ao mesmo mês do ano anterior.
No acumulado dos quatro primeiros meses de 2025, as exportações brasileiras somaram 13 mil toneladas, um avanço de 134%.
Além do impacto no comércio e nos preços, a crise também trouxe à tona a concentração de mercado na indústria avícola norte-americana.
A Cal-Maine Foods, responsável por cerca de 20% da produção de ovos nos Estados Unidos, está sob investigação do Departamento de Justiça. A empresa apresentou lucro de US$ 508,5 milhões no primeiro trimestre do ano, triplicando os ganhos em meio ao cenário de alta de preços para os consumidores.
Os efeitos da epidemia nos Estados Unidos têm repercussões no comércio internacional. Em maio, após a confirmação de um foco de gripe aviária em uma ave silvestre no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul, países como China, União Europeia e Argentina suspenderam temporariamente as importações de carne de frango brasileira. A medida foi adotada após notificação feita pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
Em resposta, o governo brasileiro decretou estado de emergência zoossanitária e iniciou medidas de rastreamento e contenção para evitar a disseminação do vírus. Segundo autoridades, não há evidências de risco à saúde humana por meio do consumo de carne ou ovos de aves infectadas.
No entanto, o episódio acendeu o alerta no setor avícola brasileiro, responsável por cerca de US$ 10 bilhões em exportações anuais e por aproximadamente 35% do mercado global de proteína de frango.
O vírus H5N1 pertence à família influenza e apresenta alta letalidade em aves, especialmente em ambientes de criação intensiva. A primeira identificação ocorreu em gansos na década de 1990, mas apenas em 2023 foram detectados os primeiros casos em animais silvestres no Brasil.
A transmissão para humanos é considerada rara e ocorre em casos de contato direto com aves vivas contaminadas. Além das aves, foram relatados casos de infecção em bovinos nos Estados Unidos e em leões marinhos no Chile.
O setor avícola brasileiro, que emprega mais de 500 mil pessoas, acompanha a situação com atenção. Especialistas apontam que a expansão descontrolada da gripe aviária no território nacional pode resultar em perdas econômicas expressivas, com impactos sobre empregos e contratos comerciais.
O governo segue monitorando focos da doença, especialmente em regiões consideradas de risco, e ampliando as ações de vigilância e biossegurança.
A continuidade dos surtos nos Estados Unidos, os efeitos sobre os preços globais de ovos e os reflexos comerciais sobre o Brasil indicam que a gripe aviária permanece como um fator de preocupação sanitária e econômica no cenário internacional. Enquanto os casos seguem sob monitoramento, governos e empresas tentam adaptar-se aos desafios impostos pela doença e às exigências dos mercados consumidores.