Neste 17 de maio, Dia Internacional de Combate à LGBTIfobia, reafirmamos a necessidade urgente de resistência diante da escalada de ataques à população LGBTI+ em todo o mundo. A data, que marca a retirada da homossexualidade da lista de doenças da Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1990, tornou-se símbolo da luta contra todas as formas de preconceito e violência motivadas por orientação sexual ou identidade de gênero.
Vivemos um cenário de aprofundamento da crise capitalista, com disputas interimperialistas, inflação, estagnação e margens de lucro apertadas. Diante disso, a burguesia — seja através de governos da ultradireita, como os ditos progressivos — tem intensificado sua ofensiva contra a classe trabalhadora, sobretudo contra os setores mais oprimidos. Para manter seus lucros e seu domínio, apostam na fragmentação social, estimulando o machismo, o racismo, a LGBTIfobia e a xenofobia como instrumentos de divisão.
A ascensão da extrema direita é a expressão mais brutal dessa ofensiva. De Trump a Orbán, de Milei à AfD, temos assistido ao avanço de projetos autoritários que atacam diretamente os direitos das pessoas LGBTI+. No Brasil, os ataques se expressam em projetos de lei reacionárias, discursos de ódio, violência cotidiana e medidas institucionais como a Resolução 2.427/2025 do CFM, que impõe obstáculos à transição das pessoas trans, ao proibir o uso de bloqueadores hormonais e elevar a idade mínima para cirurgias de redesignação sexual.
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Violência
Esses ataques têm efeitos concretos e devastadores. O Brasil continua sendo o país que mais mata pessoas trans no mundo. O Atlas da violência de 2025 constatou um estouro de assassinatos da população LGBTI+. Nos últimos 10 anos, os casos registrados aumentaram em 1.227%!
Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 90% da população trans está na prostituição, não por escolha, mas pela exclusão social: 71% abandonam os estudos após os 15 anos, em geral por transfobia, e menos de 0,5% das vagas formais de trabalho são ocupadas por pessoas trans. Essa realidade revela um sistema que impõe desde cedo a exclusão, nega a educação e fecha as portas do trabalho formal, empurrando essa população à marginalização.
Mesmo com 15,5 milhões de brasileiros se identificando como LGBTQIA+ (7% da população), a inclusão no mundo do trabalho é mínima: apenas 4,5% dos postos formais estão ocupados por LGBTI+. A discriminação é evidente no mercado de trabalho, pesquisa realizada em consulta a empresas de diversos segmentos mostrou que 38% delas têm restrições para contratar pessoas da comunidade, 33% não contratariam LGBTI+ para cargos de liderança, e 61% das pessoas LGBTQIA+ escondem sua orientação sexual no trabalho por medo de represálias. O resultado é um cotidiano de exclusão, assédio e sofrimento psicológico: 47% relatam problemas de saúde mental, mais do que o dobro da média da população cishetero.
Essa realidade escancara o esgotamento da política de inclusão liberal e representatividade institucional, que durante anos foi vendida como solução. A presença de pessoas LGBTI+ em cargos de poder, a politica do empoderamento, por si só, não leva a emancipação coletiva e sequer significa automaticamente uma maior representatividade, como no caso de Alice Weidel – lésbica e líder da extrema direita alemã, mostra que visibilidade individual não equivale a emancipação coletiva. As empresas se aproveitam do “pink money”, mas negam condições dignas de trabalho à maioria. A propaganda colorida do Burger King contrasta com a realidade dos trabalhadores LGBTI+ em jornadas extenuantes e escala 6×1.

O PSTU atuou na Parada LGBTI de São Paulo 2023 no ‘Bloco de Esquerda’, com independência dos governos e dos patrões | Foto: PSTU-SP
Governo Lula
No Brasil, o governo Lula se mostra omisso e cúmplice. Eleito com apoio dos setores oprimidos contra a ultradireita, adotou uma política de conciliação de classes que impede qualquer enfrentamento real à extrema direita. O apagamento da Secretaria LGBTQIA+, os programas inexpressivos como Empodera+ e Bem Viver+, além da omissão diante da resolução transfóbica do Conselho Federal de Medicina (CFM), evidenciam que as pautas da comunidade são tratadas como moeda de troca nos acordos com setores reacionários. Nem mesmo diante do título de país que mais mata trans, o governo Lula tomou qualquer medida efetiva. Mas não é só omissão, o governo Lula é agente dos ataques, como a aprovação do RG transfóbico, que mantêm o nome morto no novo modelo de RG.
Contudo, a luta resiste e se intensifica. No mundo todo, LGBTI+ e outros setores oprimidos vêm protagonizando mobilizações massivas e radicais. Nos Estados Unidos, mulheres e dissidências foram a linha de frente contra Trump. Na Hungria, manifestantes desafiaram Orbán com criatividade e combatividade. Em Buenos Aires, multidões foram às ruas contra as declarações misóginas e LGBTIfóbicas de Milei. No Brasil, temos visto atos contra os retrocessos, como os protestos contra a resolução do CFM em todo o país.
Essas lutas mostram que a pauta LGBTI+ não é isolada ou identitária, mas parte estrutural da luta de classes. A LGBTIfobia não serve apenas para oprimir; ela serve para explorar. Por isso, o combate ao preconceito deve estar profundamente ligado ao combate ao capital. Não é possível enfrentar a extrema direita de verdade sem romper com a política de conciliação e com os limites da institucionalidade burguesa.
Nossas pautas
Neste 17 de maio, reafirmemos a independência de luta e lutemos por:
– Pelo direito de existir, viver, amar e lutar com dignidade!
– Fim da escala 6×1, emprego digno para as LGBTI+! Trabalhar menos para trabalhar todas e viver melhor!
– Cotas para pessoas trans em universidades e concursos!
– Criminalização efetiva da LGBTIfobia!
– Revogação da Resolução 2.427/2025 do CFM. Atendimento digno à saúde integral das LGBTI+ e direito a tratamento hormonal, psicológico e cirurgia de redesignação no Sistema Único de Saúde (SUS)!
– Fim da violência policial e da militarização das periferias!
– Por um Stonewall de novo e ir além: LGBTI+ unificadas com a classe trabalhadora!
– Nenhuma ilusão na inclusão capitalista ou na representatividade sem ruptura!
– Nenhuma confiança na extrema direita ou no governo da conciliação!
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