Nesta quinta-feira (15), completaram-se 77 anos da Nakba, a limpeza étnica desencadeada pelo sionismo e pelo imperialismo em 1948 para possibilitar a fundação do Estado artificial de “Israel”. Naquele ano, as milícias fascistas israelenses, com apoio do imperialismo britânico e norte-americano, perpetraram inúmeros massacres contra cidades e vilarejos palestinos, chegando a destruir cerca de 530. Em decorrência dessa campanha de terror, cerca de 800 mil palestinos foram expulsos de suas terras e jamais conseguiram voltar. À época, os israelenses roubaram 78% do território palestino.

Na data em que a Nakba (palavra árabe para catástrofe) completa 77 anos, “Israel” tenta realizar uma nova limpeza étnica, expulsando e exterminando palestinos para dar sobrevida à moribunda entidade sionista e conter a Revolução Palestina.

Diante disso, o Hamas declarou, em comunicado, que “nenhuma nova Nakba será imposta e a firmeza de Gaza não será quebrada”, acrescentando que a resistência “continuará até a libertação e o retorno” [dos palestinos expulsos quando da Nakba e desde então], destacando que “a ocupação não tem legitimidade sobre nenhuma parte da Palestina”.

O partido, que lidera a resistência palestina, apelou para a unificação das fileiras palestinas e para uma estratégia nacional de luta compartilhada. Confira a nota do Hamas na íntegra:

“Em nome de Deus, o mais gracioso, o mais misericordioso

Comunicado à imprensa

No 77º aniversário da Nakba: Nenhuma nova Nakba ou deslocamento para o nosso povo.
A solidariedade do nosso povo com sua resistência frustrou todos os planos do inimigo, sendo este o caminho para derrotar a ocupação e alcançar a libertação e o retorno.

O 77º aniversário da dolorosa Nakba ocorre este ano em um momento em que o governo de ocupação fascista intensifica sua brutal agressão e guerra genocida contra nosso povo na Faixa de Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém ocupada, já há quase dois anos. Nesse período, foram cometidos os massacres mais horrendos, assassinatos em massa e crimes de fome contra mais de dois milhões de pessoas em Gaza. No entanto, nada disso conseguiu quebrar a vontade do nosso povo, nem a força e a coragem da nossa resistência. A firmeza lendária do nosso povo, sua perseverança em sua terra e sua solidariedade com a resistência frustraram e derrotaram todos os planos do inimigo, representando uma mensagem clara à ocupação, a seus aliados e a todos os que apostam no enraizamento dos invasores em nossa terra e na liquidação de nossa causa justa.

No 77º aniversário da Nakba, nós, do Hamas, oramos pelas almas dos mártires do nosso povo que tombaram ao longo dos longos anos de ocupação, pelos nossos líderes martirizados e pelas caravanas de mártires da Batalha do Dilúvio de Al-Aqsa, em Gaza, na Cisjordânia, em Jerusalém e em toda a nossa nação islâmica, cujos sangues se misturaram e cujas almas se uniram nesta batalha imortal. Seu caminho, sua luta e seu martírio tornaram-se farol para todos os povos livres do mundo, e combustível para o nosso povo em sua batalha contínua contra o inimigo.

Afirmamos o seguinte:

Primeiro: A ocupação não possui legitimidade nem soberania sobre qualquer parte de nossa terra ocupada, e nosso povo continuará a defendê-la por meio da resistência em todas as suas formas até a libertação de toda a Palestina e o estabelecimento de um Estado palestino plenamente soberano, com Jerusalém como capital.

Segundo: A convocação para unificar as fileiras nacionais e chegar a uma estratégia de luta unificada que reúna todos os palestinos é o dever do momento, frente aos desafios enfrentados pela nossa causa nacional, e para aproveitar o apoio popular ao projeto de resistência e o apoio global à nossa causa justa, como foi claramente demonstrado na Batalha do Dilúvio de Al-Aqsa.

Terceiro: A ocupação sionista contínua, que já dura 77 anos, e sua agressão e crimes de genocídio cometidos contra nosso povo na Faixa de Gaza por quase dois anos, expõem o viés dos Estados Unidos e do Ocidente, constituindo uma mancha indelével de vergonha sobre todos os que permanecem em silêncio e não criminalizam nem interrompem essa barbárie.

Quarto: Jerusalém e a abençoada Mesquita de Al-Aqsa são o ponto central do conflito com o inimigo. Este não tem qualquer legitimidade ou soberania sobre um só centímetro delas. A Mesquita de Al-Aqsa foi e permanecerá exclusivamente islâmica, e nosso povo manterá seu compromisso com a cidade de Jerusalém como capital eterna da Palestina. Não permitirá que seus marcos históricos sejam apagados nem que os fatos da história e da realidade sejam alterados.

Quinto: A ocupação sionista é diretamente responsável pelo sofrimento contínuo de milhões de refugiados palestinos nos campos, tanto dentro da Palestina quanto na diáspora. Seu direito legítimo de retorno às casas das quais foram expulsos é inegociável. Reafirmamos aqui nossa rejeição aos ataques contra a UNRWA e às tentativas de obscurecer seu papel. Apelamos à ONU e às suas instituições para que assumam suas responsabilidades legais e humanitárias em apoio aos direitos dos refugiados, oferecendo-lhes socorro e condições de vida dignas até que o retorno seja alcançado.

Sexto: Permaneceremos leais aos nossos prisioneiros livres até sua libertação. Alertamos a ocupação sobre a escalada de seus crimes contra eles e a responsabilizamos integralmente pelas vidas dos prisioneiros e detidos em suas prisões desde 7 de outubro do ano passado. Apelamos à ONU e a todas as instituições de direitos humanos e humanitárias que intervenham seriamente para criminalizar e parar os crimes sistemáticos contra os prisioneiros.

Sétimo: Acreditamos que a unidade, segurança e estabilidade de nossos países árabes e islâmicos representam a profundidade estratégica de nossa causa e um fator fundamental para fortalecer a solidariedade com ela. Reafirmamos que a normalização de relações entre alguns países e o inimigo sionista enfraquecerá sua força, prejudicará sua segurança nacional e ameaçará os interesses de seus povos. Apelamos, assim, a esses países que reconsiderem esse caminho equivocado e não permitam a integração dessa entidade terrorista no corpo da nossa nação.

Oitavo: Saudamos a honrosa participação de todas as forças de nossa nação no Líbano, no Iêmen e no Iraque no apoio ao nosso povo e à nossa resistência. Valorizamos todas as posições oficiais e populares de rejeição à agressão sionista contra a Faixa de Gaza, e o movimento global de solidariedade com nosso povo e nossa causa justa. Apelamos a todas as massas e iniciativas de solidariedade que apoiam o direito palestino a continuar e intensificar esse apoio por todos os meios, em todas as capitais, cidades e arenas do mundo, pressionando os países e governos que apoiam a ocupação, até que a agressão sionista contra a Faixa de Gaza cesse.

Misericórdia aos mártires, pronta recuperação aos feridos e doentes, libertação iminente para os nossos prisioneiros e detidos nas prisões do inimigo, e vitória clara para o nosso povo, se Deus quiser e por Seu poder. De fato, é uma luta, vitória ou martírio.

Movimento de Resistência Islâmica – Hamas

Quinta-feira, 17 de Dhu al-Qi’dah de 1446 H

Correspondente a 15 de maio de 2025”

Palestinos carregam pôsteres durante uma manifestação na ocasião do 77º aniversário da Nakba em Ramala, Cisjordânia ocupada

Assim como o Hamas, a Jiade Islâmica Palestina, um dos principais partidos que integram a resistência, afirmou que os crimes contínuos da ocupação, cometidos com o apoio do imperialismo, “só acelerarão o colapso do projeto sionista” e que “o povo palestino sairá mais forte desta batalha”. O partido descreveu a atual guerra genocida como “uma continuação da Nakba de 1948”, bem como destacou que a resistência “permanece ininterrupta” e continua a eliminar e ferir os invasores israelenses.

A Frente Popular pela Libertação da Palestina (FPLP) também emitiu comunicado sobre os 77 anos da Nakba, igualmente denunciando a nova limpeza étnica em curso. “Diante da Nakba renovada… resistimos, nos unimos e caminhamos em direção ao retorno e à libertação”, declarou a FPLP.

O partido comunista palestino declarou que “a Nakba representou um momento crucial na história do nosso povo, uma profunda revelação da natureza do projeto sionista como uma ferramenta racista, colonialista e desenraizadora, visando apagar a identidade e a existência nacional palestina, confiscar terras e deslocar o povo palestino. Desde então, os capítulos da Nakba não cessaram, mas continuaram em formas renovadas de assassinatos, massacres, expulsões, discriminação, empobrecimento e cerco”.

Denunciando a guerra genocida em curso, a FPLP ainda afirmou que “a Nakba está sendo repetida de uma forma mais sangrenta e bárbara na Faixa de Gaza, onde nosso povo está sujeito a uma guerra genocida sem precedentes na história moderna”. Assim como o Hamas, frisou a necessidade da unidade: “a verdadeira resposta à Nakba e suas repercussões é construir uma frente de resistência unificada e formular uma estratégia nacional abrangente que abrace a resistência em todas as suas formas, com a luta armada em sua vanguarda”.

Em meio à nova Nakba em curso, e no dia em que os palestinos relembram a expulsão a que foram submetidos em 1948, “Israel” assassinou pelo menos 115 palestinos em diversos ataques ao longo da Faixa de Gaza em 24 horas. Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, em Jabalia, no norte de Gaza, um ataque israelense à clínica médica al-Tawbah assassinou pelo menos 15 pessoas e feriu várias outras. Aos menos 61 foram assassinados ao longo da noite e no começo da manhã deste dia 15 de maio.

Com estes novos ataques, o número oficial de mortos, que o ministério conseguiu identificar, sobe para 53.010. Considerando os palestinos que continuam debaixo dos escombros, que provavelmente estão mortos, o número de palestinos assassinados é de ao menos 61.700.

Neste dia em que os palestinos relembra a Nakba, e nos dias precedentes, a entidade sionista, sob o governo de Benjamin Netaniahu, intensificou os bombardeios contra Gaza. Em razão disto, o Hospital Europeu, localizado na cidade de Khan Iunis, sul de Gaza, está agora fora de serviço.

Segundo informe do Ministério da Saúde de Gaza, “os ataques israelenses causaram danos significativos à infraestrutura, como linhas de esgoto, danificaram departamentos internos e destruíram estradas que levavam ao hospital”. Estão fora de serviço todos os 28 leitos de terapia intensiva, 12 berçários, 260 leitos de internação, 25 leitos de emergência e 60 leitos de oncologia. Dessa forma, os ataques repetidos ao hospital tornam impossível a prestação de cuidados médicos devido ao perigo que isso representa para a equipe médica, os feridos e os doentes”.

Em entrevista à emissora catarense Al Jazeera, Mohammed Shahal Mellous, palestino morador de Gaza, declarou que a atual Nakba é ainda pior que a que ocorreu em 1948. Mohammed nasceu em 1940; com 85 anos, foi novamente expulso de sua casa pelos israelenses genocidas.

“Israel” intensificou sua guerra genocida em meio à visita de Donald Trump ao Oriente Médio, onde visitou Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos – mas não “Israel”. Conforme informado pela emissora libanesa Al Mayadeen, “a decisão de Trump de ignorar ‘Israel’ durante sua atual visita ao Oriente Médio já levantou preocupações, à medida que o foco de seu governo muda para acordos comerciais lucrativos com países ricos do Golfo, incluindo o Catar, que autoridades israelenses há muito acusam de apoiar o Hamas”.

Em outro sinal da crise entre Estados Unidos e “Israel”, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, afirmou nesta quinta-feira que os norte-americanos não são imunes ou insensíveis ao sofrimento das pessoas na Faixa de Gaza. “A situação humanitária no enclave é preocupante”, reconheceu.

A crescente crise ficou evidente nesta segunda-feira (12), quando o Hamas libertou o prisioneiro israelense-americano Edan Alexander após negociações diretas com o governo Trump, passando por cima de “Israel”. Após a libertação, o Hamas afirmou esperar, “com base nos entendimentos alcançados com o lado americano e com o conhecimento dos mediadores, que a ajuda humanitária tenha entrado na Faixa de Gaza imediatamente, um apelo por um cessar-fogo permanente tenha sido feito e que negociações abrangentes tenham sido realizadas sobre todas as questões para alcançar segurança e estabilidade na região, uma meta que aspiramos alcançar”.

O partido acrescentou que “entretanto, a incapacidade de concretizar essas medidas, especialmente a entrada de ajuda humanitária ao nosso povo, terá um efeito negativo sobre quaisquer esforços para concluir as negociações sobre o processo de troca de prisioneiros”.

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Last Update: 16/05/2025