
Uma rota internacional que liga os Estados Unidos às favelas do Rio de Janeiro tem abastecido facções criminosas com armas de alto calibre, principalmente fuzis de fabricação americana. Segundo a Polícia Militar, 60% dos fuzis apreendidos em 2024 no estado do Rio vieram dos EUA. Com informações do jornal O Globo.
As investigações apontam que essas armas entram no Brasil pelas fronteiras com o Paraguai e a Bolívia e seguem por rodovias até a capital fluminense. A estrutura do tráfico envolve dezenas de atravessadores, que montam os arsenais das facções criminosas driblando a fiscalização das autoridades.
Operação Contenção: cooperação internacional para frear o tráfico de armas
A gravidade da situação levou à realização da Operação Contenção, que contou com apoio do Homeland Security Investigations (HSI), dos Estados Unidos. A operação resultou na apreensão de 240 armas e mais de 43 mil munições em quatro estados brasileiros, incluindo uma mansão na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio.
O envolvimento da HSI demonstra a preocupação do governo americano com a conexão entre o tráfico de armas e a criminalidade no Brasil. A unidade do Department of Homeland Security atua no combate a crimes e ameaças transnacionais.
Empresário de São Paulo é suspeito de abastecer tráfico no Rio
Um dos alvos da operação foi Eduardo Bazzana, empresário do setor de armas e presidente de um clube de tiro em São Paulo. Ele é acusado de vender armamentos e munições para Luiz Carlos Bandeira Rodrigues, conhecido como “Da Roça”, chefe do tráfico na Muzema, favela controlada pelo Comando Vermelho.
As investigações revelaram que Bazzana teria fornecido itens como carregadores de AR10 e AR15, munições AK-47, .223 e 7.62. O empresário teria recebido R$ 1,6 milhão em apenas 40 dias, com depósitos fracionados via Pix para evitar o rastreamento financeiro.
Facções usam emissários em países vizinhos para importar armas
A Polícia Civil do Rio identificou uma nova estratégia adotada pelas facções: o envio de representantes para países vizinhos, como Paraguai e Bolívia, para adquirir armas diretamente, sem intermediários.
Segundo o delegado Carlos Oliveira, subsecretário de Planejamento da Polícia Civil, o tráfico está descentralizado e há muitos operadores envolvidos na logística internacional de armas para o Rio de Janeiro.

Esquema bilionário liderado por ex-policial federal abastecia tráfico
Uma das maiores investigações recentes revelou o envolvimento de Josias João do Nascimento, policial federal aposentado, em um esquema bilionário de tráfico de armas. Ele seria o chefe de Frederick Barbieri, o “Senhor das Armas”, que enviou 60 fuzis de Miami ao Rio em 2017.
As armas, desmontadas em Orlando (EUA), eram camufladas em cargas como motores e aparelhos de ar condicionado. A operação gerava lucros milionários, lavados por empresas de fachada ligadas a Josias.
Somente entre 1º de janeiro e 13 de maio deste ano, 254 fuzis foram apreendidos no Rio de Janeiro. A maioria é de fabricação americana, com destaque para a Colt, responsável por 144 armas. No total, 732 fuzis foram retirados das ruas pelas forças de segurança em 2024.
Governador Cláudio Castro busca apoio internacional contra tráfico
Em visita aos Estados Unidos, o governador Cláudio Castro propôs parcerias com o Escritório das Nações Unidas para Assuntos de Desarmamento. O objetivo é coibir o envio de armas e peças de reposição para países com baixo controle sobre a comercialização:
“O Rio de Janeiro não produz armamentos. Um outro dado preocupante é a venda de peças, para montagem de armas, e de munição. Por isso, viemos em busca de ajuda para dialogar com as fábricas e impedir que sejam vendidas para países onde não há controle na comercialização”.
Armas apreendidas valem mais de R$ 1 milhão no mercado ilegal
Na mansão da Barra, foram encontrados 16 fuzis avaliados em mais de R$ 1 milhão. Cada arma pode custar entre R$ 70 mil e R$ 100 mil, dependendo do estado e dos acessórios. Uma planilha apreendida revela que a quadrilha de “Da Roça” investiu mais de R$ 5 milhões em armas e drogas em apenas um ano.
Outro preso na operação foi Jhonnatha Schimitd Yanowich. Ele é suspeito de lavar dinheiro do tráfico por meio de duas empresas de fachada com sede em Belo Horizonte. As empresas não tinham funcionários e operavam com dados incompletos.
Depósitos em contas ligadas a Yanowich foram feitos com cédulas mofadas, indicando que o dinheiro pode ter sido enterrado — prática comum entre organizações criminosas para esconder valores ilícitos.
Defesa de empresário nega envolvimento com facções
A defesa de Eduardo Bazzana afirma que ele tem 68 anos e nunca teve ligação com o tráfico. O advogado Rogério Duarte declarou que a prisão é ilegal e que a inocência do cliente será provada no decorrer do processo.
Conheça as redes sociais do DCM:
Facebook: https://www.facebook.com/diariodocentrodomundo
Threads: https://www.threads.net/@dcm_on_line