O Senado da Colômbia rejeitou na quarta-feira 14 convocar uma consulta pública impulsionada pelo presidente Gustavo Petro para que a população decida se aceita reformar o sistema trabalhista, como pretende o governo.
Algumas horas depois, Petro convocou mobilizações “em escala nacional” para defender sua iniciativa.
Em rota de colisão com o Poder Legislativo, o primeiro presidente de esquerda na história da Colômbia tenta ampliar os direitos dos trabalhadores.
Primeiro, ele apresentou um projeto de lei, mas o Congresso o rejeitou. Diante da negativa, promove desde abril uma consulta popular na qual sejam submetidas à votação 12 perguntas com respostas de “Sim” ou “Não”.
A proposta deveria passar pela aprovação do Senado. Mas, com 49 votos negativos contra 47 afirmativos, os legisladores voltaram a fechar a porta nesta quarta para um dos projetos-símbolo de Petro.

Confusão entre governistas e senadores da Colômbia durante votação sobre a reforma trabalhista de Petro.
Foto: Raul ARBOLEDA / AFP
Em meio a gritos e empurrões, os legisladores da situação denunciaram uma “fraude” na votação, alegando que o presidente do Senado, Efraín Cepeda, encerrou os trabalhos antes que todos os congressistas votassem.
O resultado esquentou os ânimos no Senado e Cepeda suspendeu a sessão.
“A consulta popular não naufragou. Eles a afundaram com fraude”, escreveu Petro na rede social X.
O ministro do Interior, Armando Benedetti, anunciou que denunciará Cepeda à Procuradoria.
Sem violência
Em um pronunciamento à população na noite de quarta-feira, Petro convocou sindicatos e organizações sociais para uma mobilização “em escala nacional” para defender sua consulta.
“Este é o momento do povo”, disse o mandatário em uma mensagem gravada na China, onde está em uma visita oficial.
Petro, no pronunciamento, ordenou aos policiais e militares que “não levantem uma única arma contra o povo” durante os protestos, para os quais ainda não anunciou data. “É uma ordem do seu comandante”, acrescentou.
Bloqueio institucional
O presidente já havia convocado mobilizações no dia 1º de maio, quando milhares de pessoas saíram às ruas para protestar contra o Legislativo.
Petro denuncia que existe um “bloqueio institucional” para frear suas propostas e advertiu que, se este processo eleitoral não receber o aval do Congresso, aprovaria as mudanças por decreto.
Centrais sindicais e organizações indígenas criticaram a votação do Senado e também convocaram suas bases para uma “mobilização em massa”, antecipou Jhoe Sauca, dirigente do Conselho Regional Indígena do Cauca (sudoeste).
O que diz a oposição
Embora tenham dado um golpe na consulta popular, os legisladores aprovaram na quarta-feira retomar a análise do projeto inicial de reforma ao sistema trabalhista proposto pelo governo em 2023.
A oposição sustenta que o presidente Petro, na realidade, tenta arrebanhar eleitores para a esquerda com vistas às eleições presidenciais de 2026, nas quais, por lei, ele não poderá buscar a reeleição.
(Com AFP)