Lula é atacado mesmo quando querem defendê-lo. Foi isso que aconteceu no artigo TikTok e a regulação das redes sociais: do limão uma limonada!, de Arnóbio Rocha, publicado no Brasil 247 nesta quarta-feira (14). Além disso, sob a repercussão do ataque da grande imprensa sob as supostas falas sobre a plataforma de vídeos TikTok, feitas pela primeira-dama em visita à China, Janja Lula da Silva, o articulista também acabou pedindo mais repressão nas redes sociais, exatamente a política ditatorial que o Supremo Tribunal Federal e o imperialismo querem que seja implementada.
Outro fator importante no episódio foi que o vazamento para a grande imprensa poder explorar contra Lula foi feita por um de seus ministros, o mostra que está cercado de inimigos por todos os lados, fruto de sua política de alianças.
O tom do texto é todo centrado no identitarismo, como se vê logo no primeiro parágrafo, que fala sobre a “indiscrição de alguém, com uma dose razoável de distorção dos fatos, ganhou vida apelativa (machista) de uma jornalista que se diz não machista. A forma de divulgação da conversa entre o presidente Lula (e a primeira-dama, Janja Lula da Silva) com o presidente Xi Jinping sobre a questão do TikTok sob um viés de desgaste do governo e reduzir a viagem ao ‘incidente’, criou um certo mal-estar”.
A questão do “machismo” é irrelevante, ainda mais se uma jornalista se diz “não machista”, porque, além de se tratar de uma funcionária de uma empresa ligada ao imperialismo, o que importa mesmo são os interesses. Neste caso, o interesse do grande capital é desgastar Lula.
Nestes tempos em que o identitarismo ainda vigora, apesar do visível declínio, a esquerda se perde nessas questões laterais, como o “patriarcado”, as “fobias”, os “discursos”…, e com isso acaba sendo levada a apoiar ao imperialismo que, no final das contas, é responsável pela ascensão da extrema direita.
Regulação é eufemismo de censura
Lula ficou indignado com o vazamento e tratou o episódio como sendo fofoca. Segundo Arnóbio Rocha, Lula teria conseguido trazer a discussão para o lugar certo: A regulação das redes sociais; considerando 1) a urgência da regulação; e, 2) “a questão do respeito às mulheres, suas opiniões e ideias, sem entrar no mérito sobre a fala da primeira-dama, protocolos, etc.”.
Janja não foi desrespeitada, se é que se pode olhar o ocorrido por esse prisma, mas por ser esposa de Lula. A família do presidente sempre foi utilizada para atacado. Foi assim na questão de sua filha, de seus filhos, de primeira esposa; o irmão está sendo utilizado no escândalo do INSS.
Rocha alega que “a mídia corporativa ficou muito ‘mal na fita’ com a fofoca, que foi tola e covarde, pois essa mídia corporativa boicotou completamente a viagem presidencial à China, mais ainda a passagem pela Rússia”. O que se poderia esperar da grande imprensa burguesa? E aqui é preciso destacar um grave defeito do PT e da esquerda de modo geral: a ausência de uma imprensa própria. É loucura confiar na golpista Folha de São Paulo. A direção petista não foi capaz de enxergar a importância de não deixar a burguesia falando sozinha.
Que a grande imprensa “tentou ignorar o acerto político de um país soberano e que sabe com quem deve manter relações multilaterais, então ficou procurando uma ‘oportunidade’ rasteira de tentar ofuscar os enormes ganhos dos acordos com a China, especialmente”. É perfeitamente normal, dado que a imprensa burguesa responde aos interesses do imperialismo, especialmente o americano, em choque com a Rússia e com a China.
“A tática do desgaste é permanente”. Exatamente isso, e se ilude quem acredita que a burguesia tenha boa vontade com Lula e um seu possível novo mandato.
O bem comum como desculpa
Há um parágrafo no artigo que é um verdadeiro hino ao identitarismo, diz que “a questão da regulação das redes sociais, já passou da hora, os crimes de toda ordem (racismo, machismo, misoginia, LGBTfobia, exploração de menores, crimes contra o consumidor, jogos de azar), as exposições das pessoas, especialmente mulheres e crianças, uma gama infinita, todas justificadas pela ‘liberdade de expressão’, não se coaduna com uma sociedade de direitos e garantias. Por trás da tal liberdade de expressão estão o lucro, as corporações e o crime organizado”.
Toda a censura começa assim, para proteger a sociedade e as crianças, novos crimes são criados todos os dias. “Fobias” viraram crimes que pode levar uma pessoa a cinco anos de cadeia, já inventaram até o terrorismo verbal.
A liberdade de expressão, defendida desde o Iluminismo e até pelos marxistas e revolucionários mais importantes, virou sinônimo de fascismo. Com isso, vários setores da esquerda estão apoiando o STF, uma instituição golpista e possivelmente a mais reacionária do Estado.
Censurar as redes não vai diminuir nenhum crime, assim como a criação de leis como a Maria da Penha, a política do desarmamento, não diminuíram a violência e o assassinato de mulheres. Na verdade, só estes só têm aumentado. Prova de que isso é um problema social, não uma questão de “leis”.
Proibir certas palavras, ou tal “discurso de ódio”, não tem impedido o assassinato de pessoas LGBT+ e muito menos dos negros, que as polícias não se cansam de matar. Essas proibições só tiveram um único resultado, o aumento da repressão e o fechamento do regime.
A esquerda que pede socorro à burguesia
Arnóbio Rocha diz que “é uma necessidade URGENTE da democracia, pois há vícios e mentiras que são espalhadas com conotação política, contra povos, religiões, sexualidade e comportamentos, o que piorará de modo exponencial com a introdução das IAs”. Além de atacar as inteligências artificiais, um enorme avanço tecnológico, o articulista quer que o Estado burguês nos proteja da extrema direita.
A única defesa contra o fascismo chama-se classe trabalhadora. Nenhuma instituição do Estado burguês cumprirá esse papel, mesmo porque é a burguesia que alimenta os extremistas de direita. Boa parte da esquerda abdicou de tentar conquistar e fortalecer os trabalhadores. Para piorar, vai pedir socorro para seus inimigos.
Achar que a censura vai conter comportamentos selvagens, vício em drogas e pornografia é uma ingenuidade. Esses fenômenos, e o próprio fascismo, floresceram muito antes de haver redes sociais.
A cereja do bolo
Fechando com chave de ouro, Rocha afirma que “não deixa de ser inusitado que uma jornalista mulher, que critica, muitas vezes com razão, as falas machistas do próprio presidente”! Ou seja, ele mesmo caiu na conversa de que Lula tem sido machista, concorda com a grande imprensa, que publicou manchetes do tipo “Lula elogia Gleisi Hoffmann dizendo que ela ‘é bonita e tem cabeça’ e recebe críticas”. – grifo nosso.
Quando Lula não é atacado pelo Globo, Estadão, Folha de São Paulo, Veja, etc, leva chumbo dos próprios aliados.
É o que se tem de esperar de uma esquerda que pulou de cabeça na política direitista do identitarismo e que tem lutado pela censura, contra o desenvolvimento, e que se tornou linha auxiliar do imperialismo.