Nesta terça-feira (13), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, iniciou sua primeira visita ao Oriente Médio desde que foi reeleito, que terá duração de quatro dias, durante os quais Trump visitará três das monarquias árabe do Golfo Pérsico – Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos.

Já no primeiro dia, esteve na Arábia Saudita, onde seu governo e a monarquia saudita firmaram o que foi descrito como “o maior acordo de vendas de defesa da história”. Conforme noticiado pelo portal de notícias The Cradle, o acordo tem um valor de quase US$142 bilhões “e inclui uma ampla gama de equipamentos e serviços militares avançados dos EUA de mais de uma dúzia de fabricantes de armas norte-americanos”, bem como “investimentos em empresas de inteligência artificial e produção de energia”.

Além do citado acordo, a Arábia Saudita firmou compromisso em investir US$600 bilhões nos Estados Unidos, valor que abrange investimentos em diversas áreas.

Ainda em sua visita ao país, durante o Fórum de Investimentos Saudita-EUA no Centro Internacional de Conferências Rei Abdulaziz, em Riade (capital saudita), Trump anunciou o fim das sanções contra a Síria, inclusive do chamado Ato César – decreto que instituiu um bloqueio econômico genocida contra a Síria, e que foi assinado em 2019 pelo próprio Trump, como medida para desestabilizar o país e derrubar o governo nacionalista de Bashar al-Assad.

O levantamento de sanções, contudo, não é sem contrapartida: durante reunião com Ahmed Al-Sharaa, presidente interino da Síria, Trump apresentou uma proposta de cinco pontos delineando as expectativas dos EUA para a normalização:

  • Junte-se aos acordos de normalização e normalize os laços com “Israel”;
  • Expulsar todos os “elementos terroristas estrangeiros” do território sírio;
  • Deportar “militantes palestinos” que residem na Síria;
  • Cooperar com os EUA para combater um potencial ressurgimento do EI;
  • Assumir o controle total dos centros de detenção do EI no nordeste da Síria.

Conforme noticiado pela emissora libanesa Al Mayadeen, Trump aceitou reunir-se com Al-Sharra a pedido do príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman e do presidente turco Recep Tayyip Erdogan, e ambos participaram da reunião – Erdogan por videochamada.

Pronunciando-se sobre o fim das sanções e as condições dos EUA para normalização de relações, o atual presidente golpista da Síria, Ahmed al-Sharaa, declarou que se trata uma “oportunidade significativa” decorrente do que ele percebe como “a influência cada vez menor do Irã na Síria”. Igualmente, ele convidou as petroleiras imperialistas dos EUA a “investirem” na Síria.

Apesar de Trump ter exigido que a Síria normalize laços com “Israel”, o fim das sanções e a aproximação dos EUA estaria preocupando “Israel”, conforme noticiado pelo jornal britânico The Times.

Em matéria intitulada O levantamento das sanções sírias por Trump é motivo de preocupação em Israel, The Times afirmou que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, pode estar preocupado com a crescente divergência entre ele e Trump, que os árabes, que também pressionarão Trump a encerrar a guerra em Gaza, estão tentando preencher”.

O jornal britânico destacou que Israel fez lobby para manter Sharaa, considerado por seus líderes um terrorista irredutível, como um pária, e retaliou contra sua suposta supressão da minoria drusa no sul da Síria. Desde a queda de Assad, Israel impôs uma ‘zona de segurança’ ao redor de sua fronteira com a Síria e exigiu a desmilitarização de uma área que se estende até Damasco”. No entanto, “eles assistiram a um aperto de mão entre Trump e Sharaa na quarta-feira, logo após os anúncios do presidente — que pegaram Israel de surpresa — de que ele iniciaria negociações com o Irã e encerraria a campanha aérea dos EUA contra os rebeldes Huti no Iêmen”.

No mesmo sentido foi publicação do jornal sionista The Times of Israel, em que se afirma que “implícita na admiração de Trump pelo progresso no Golfo está a desvalorização de Israel como potência regional de ponta, o principal inovador, o pioneiro da tecnologia, o destino inteligente para investimentos. No momento, mal se pode voar para cá” – uma referência às ações revolucionárias do Iêmen contra proximidades de aeroportos israelenses.

The Times of Israel acrescenta que “o fato é que Trump está avançando com uma série de acordos e alianças que impactam radicalmente Israel — e, ao fazer isso, ele já está determinando aspectos essenciais da segurança e do futuro geopolítico de Israel”.

Além dos acordos firmados com a Arábia Saudita, Trump garantiu compromissos econômicos no valor de pelo menos US$1,2 trilhão com o Catar, incluindo um acordo histórico com a Qatar Airways para o fornecimento de 160 aviões Boeingtotalizando [acordos de] mais de US$243,5 bilhões entre os EUA e o Catar“.

Para além dos acordos comerciais, Trump se pronunciou sobre a guerra em Gaza. Durante o já citado fórum de investimentos, o presidente norte-americano declarou que “temos trabalhado incansavelmente para trazer de volta todos os reféns mantidos pelo Hamas. Continuamos trabalhando para acabar com essa guerra o mais rápido possível. É uma coisa horrível o que está acontecendo”.

Assim como em relação à Síria, ele expressou, mencionando os Acordos de Abraão, que deseja que a Arábia Saudita normalize relações com “Israel”: “os Acordos de Abraão foram algo incrível, e é minha esperança fervorosa, desejo e até mesmo meu sonho que a Arábia Saudita, um lugar pelo qual tenho tanto respeito, especialmente no último período relativamente curto de tempo, o que vocês conseguiram fazer, em breve se juntará aos Acordos de Abraão“. A respeito disso, destaca-se que a monarquia saudita já declarou, em oportunidades anteriores, que não haverá normalização de relações enquanto “Israel” continuar a guerra genocida contra Gaza.

Na conjuntura do estreitamento de relações entre EUA e as monarquias árabes do Golfo Pérsico, bem como a tentativa do governo Trump de fortalecer a presença norte-americana na Síria, Trump segue proferindo bravatas e fazendo ameaças contra a República Islâmica do Irã, na tentativa de impor ao Irã um acordo desfavorável quanto ao programa nuclear do país persa.

Foi igualmente durante seu discurso no Fórum de Investimentos Saudita-EUA em Riade, na terça-feira, que Trump declarou “se a liderança do Irã rejeitar esse ramo de oliveira… não teremos escolha a não ser infligir uma pressão máxima massiva e levar as exportações de petróleo iraniano a zero“. Ele faz referência às sanções criminosas que seu primeiro governo impôs ao Irã em 2018.

Recentemente, Trump anunciou novas sanções contra o Irã, muito embora rodas de conversas diplomáticas estejam ocorrendo entre ambas as partes. A respeito disto, Esmaeil Baqaei, porta-voz do ministério das Relações Exteriores do Irã, declarou que, embora as conversas estejam sendo úteis, as sanções são “incompatíveis com o processo de negociações“, e que “isso definitivamente afetará nossas posições“.

No mesmo sentido foi a declaração do vice-ministro das Relações Exteriores do Irã para Assuntos Políticos, Majid Takht Ravanchi:as declarações ameaçadoras e não ameaçadoras de autoridades americanas não geram confiança e, em vez disso, lançam dúvidas e suspeitas sobre a posição de Washington”. No entanto, o Irã continua comprometido com as negociações.

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Last Update: 15/05/2025