Jenifer Milbratz e Cleiton Stainzack
Jenifer Milbratz e Cleiton Stainzack

Por Ana Oliveira e Felipe Borges, para o Pragmatismo

Um casal de influenciadores bolsonaristas de Santa Catarina, Jenifer Milbratz e Cleiton Stainzack, está sendo amplamente criticado nas redes sociais após publicarem um vídeo carregado de xenofobia contra nordestinos. A publicação compara duas festas populares – uma no Maranhão e outra em Santa Catarina – e escancara preconceitos antigos, maquiados por discursos de “ordem” e “cultura”.

Na gravação, o casal compara a comemoração do Dia das Mães na cidade de Bom Lugar (MA), onde foi servido um bolo de 60 metros à população, com a distribuição de uma tradicional Cuca em metro em Blumenau (SC). Enquanto a festa no Nordeste é retratada com desprezo, a celebração no Sul é exaltada com termos como “educação, respeito e civilidade”. Para além da comparação estética, o vídeo se aprofunda num discurso estigmatizante, associando o comportamento dos moradores de Bom Lugar à “dependência” do Bolsa Família e ao voto em Lula.

“Mesmo país, duas culturas completamente diferentes”, diz Jenifer, em tom que logo transita do comparativo para o ofensivo. Em seguida, Cleiton afirma que os moradores de Bom Lugar teriam agido sem “o mínimo de civilidade”, utilizando “baldes, sacolas e até pá” para garantir um pedaço do bolo. A imagem, segundo ele, simboliza a decadência de uma região “presa ao assistencialismo” e que vive em um suposto “círculo de miséria”.

A postagem provocou indignação imediata. Nas redes, usuários denunciaram o conteúdo por xenofobia e preconceito de classe. Figuras públicas e perfis anônimos apontaram que a crítica do casal ultrapassa qualquer análise sobre eventos culturais e revela uma visão profundamente elitista e desinformada sobre o Brasil real – aquele em que milhões dependem de políticas públicas de assistência para sobreviver com dignidade.

Além do ataque ao povo nordestino, Jenifer aproveita o vídeo para reforçar números que, segundo ela, provam a “superioridade” do Sul: “Blumenau tem mais de 380 mil habitantes e um IDH de 0,806, muito alto. Já Bom Lugar tem 12 mil habitantes, e um IDH de 0,54. Uma cidade onde a pobreza, a dependência e a falta de estrutura se refletem nas atitudes do dia a dia”.

O discurso, que tenta embasar preconceitos com dados socioeconômicos, ignora por completo os fatores históricos, políticos e estruturais que explicam as desigualdades regionais do Brasil. E vai além: transforma a condição social em traço moral.

A escalada de xenofobia culmina na declaração mais explícita de Jenifer contra os eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: “Cerca de 75% da população votou no PT. Povo que vota no assistencialismo, na troca de votos por migalhas e depois vive preso a esse círculo de miséria. E é esse tipo de povo que a esquerda quer: dependente, ignorante e fácil de manipular.”

Histórico de declarações polêmicas

Não é a primeira vez que Jenifer Milbratz se envolve em polêmicas. Em fevereiro deste ano, ela foi criticada por um vídeo em que ensinava como “fazer um bebê alemão”. A publicação satirizava a miscigenação brasileira, exaltando a “pureza” de traços germânicos: “Um casal com sobrenome difícil de pronunciar, nove meses no forno, e voilà: um bebê branco, loiro e de olhos azuis.”

O vídeo, que termina com imagens do filho do casal, foi acusado de racismo e eugenia. Em resposta, Jenifer alegou estar apenas expressando “orgulho por sua cor e antepassados” – uma justificativa frequentemente usada por grupos de extrema-direita para suavizar ou negar conteúdos racistas.

Reações e responsabilização

Após a repercussão negativa, o vídeo circulou intensamente em redes como X (antigo Twitter), TikTok e Instagram. A hashtag #XenofobiaNão é uma das mais comentadas entre os usuários do Nordeste. Juristas e ativistas de direitos humanos pedem que o caso não seja tratado apenas como controvérsia online, mas como crime previsto em lei. De acordo com o Código Penal, a xenofobia regional pode configurar discriminação e preconceito, puníveis com detenção.

A prefeitura de Bom Lugar não se pronunciou oficialmente, mas lideranças políticas da região repudiaram o vídeo, ressaltando que ações como a do casal reforçam estereótipos danosos e aprofundam divisões em um país já marcado por desigualdades abissais.

Enquanto isso, Jenifer e Cleiton seguem dobrando a aposta em seus perfis, reforçando a retórica de que são “perseguidos” por serem “de direita” e “defenderem valores tradicionais”.

O Brasil real e a retórica do ódio

A tentativa de transformar diferenças culturais em hierarquias morais é antiga, mas encontra terreno fértil no bolsonarismo. A ideia de que civilidade está associada à estética do Sul e que pobreza é sinônimo de atraso é parte de um projeto político que precisa reforçar estigmas para justificar desigualdades.

O episódio revela mais do que um casal desinformado tentando lacrar nas redes: mostra como o preconceito de classe e a xenofobia seguem vivos, muitas vezes mascarados de “opinião”. Mas, diferentemente de outros tempos, hoje essas falas não passam mais despercebidas. O Brasil de 2025 tem memória, e cada palavra dita em tom de escárnio é também um registro daquilo que muitos ainda preferem fingir que não existe.

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Last Update: 14/05/2025