No início desta semana, Steve Witkoff, o enviado dos Estados Unidos para o Oriente Médio, reuniu-se com prisioneiros israelenses que foram libertados, bem como com suas famílias. Conforme noticiado pela emissora israelense Canal 12, durante o encontro, Wittkoff expressou a insatisfação com a política do governo Netaniahu em prolongar a guerra e apontou que um acordo precisa ser firmado:
“Queremos trazer os reféns para casa, mas Israel não está disposto a encerrar a guerra. Israel a está prolongando — apesar de não vermos para onde mais podemos ir e de que um acordo precisa ser alcançado”, declarou Witkoff.
Foi também no começo desta semana que o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas, na sigla em árabe) libertou o prisioneiro israelense-americano Edan Alexander. Sua libertação foi resultado de negociações diretas entre o Hamas e o governo Donald Trump, à revelia de “Israel” e do governo Netaniahu, expondo a crescente crise entre a entidade sionista e o governo Trump.
Apesar de “Israel” ter sido escanteada das negociações que levaram à libertação do prisioneiro, Netaniahu reivindicou a libertação de Edan Alexander como sendo mérito seu e de sua política de escalar a guerra genocida contra a Faixa de Gaza:
“A esperada libertação do soldado das FDI Edan Alexander sem nada em troca será possível devido à política vigorosa que lideramos com o apoio do presidente Trump e graças à pressão militar dos soldados das FDI na Faixa de Gaza”, declarou gabinete de Netaniahu.
Comentando sobre isto, e avaliando a possibilidade da crise entre “Israel” e EUA se aprofundar, o jornal britânico The Guardian, um dos porta-vozes do imperialismo, destacou que Netaniahu não agradeceu Trump, e que essa “resposta truculenta […] à libertação de Alexander corre o risco de atiçar a ira de um inimigo muito mais poderoso, cujo apetite infinito por elogios e deferência é agora a base da política externa global, de Pequim a Bruxelas”.
No mesmo sentido foram as declarações de ex-diplomatas israelenses, citados pelo The Guardian. Ilan Baruch, ex-embaixador de “Israel”, declarou que “Trump, ao que parece, embarcou em uma trajetória totalmente nova”, e Alon Pinkas, ex-diplomata israelense, avaliou que “para Trump, Netaniahu se tornou um sujeito irritante, um sujeito que não contribui para a conta bancária”. Ele afirma ainda que embora Trump não seja contra “Israel”, ele “não se importa com Israel”.
Após a libertação de Alexander, Trump declarou esperar “que este seja o primeiro dos passos finais necessários para pôr fim a este conflito brutal. Aguardo ansiosamente por esse dia de celebração!“, declaração que, segundo avalia The Guardian, aponta o que o presidente dos EUA quer que seja política a ser seguida.
Atualmente, Donald Trump está em visita pelo Oriente Médio. A viagem se iniciou nesta terça-feira (13), é a primeira vez que o presidente norte-americano vai à região desde o início de seu segundo mandato.
Um dos países visitados é a Arábia Saudita e, já nesta terça-feira, Trump assinou um amplo acordo econômico com o país, lançando uma parceria de investimento. Conforme anunciado pela Casa Branca, “a Arábia Saudita investirá mais de US$600 bilhões nos Estados Unidos, incluindo o maior acordo de armas e um dos acordos econômicos mais abrangentes da história das relações” entre ambos os países.
Em sua visita, também deverão ocorrer conversas a respeito do programa nuclear saudita. Conforme vem sendo noticiado nos últimos dias por diversos órgãos da imprensa imperialista, Trump teria abandonado a exigência de normalização entre a Arábia Saudita e “Israel” como condição para o progresso do programa nuclear saudita. Anteriormente, a monarquia descartou a possibilidade de normalizar relações com a entidade sionista enquanto estivesse em curso a guerra genocida contra Gaza.
Em outro sinal de que o governo Trump vem se distanciando de “Israel”, no início da semana anterior, Trump anunciou um cessar-fogo entre os EUA e o Iêmen, acordo este que exclui ações das Forças Armadas do Iêmen contra “Israel”. Interessante notar que, apesar de Trump ter afirmado que foram os revolucionários iemenitas que teriam capitulado, algo diametralmente oposto à realidade, o presidente norte-americano chegou a elogiar os iemenitas como “corajosos”.
O Iêmen é um dos dois únicos países que realizaram ações militares contra “Israel” desde 7 de outubro de 2023. O outro é a República Islâmica do Irã, com o qual o governo Trump também está realizando negociações.
Também em relação ao país persa, a imprensa imperialista vem noticiado que a política do governo Netaniahu está colidindo com a de Trump. Conforme aponta o The Guardian, o próprio cessar-fogo com o Iêmen (aliado do Irã) é um sinal disto. O jornal relembra também que, recentemente, Trump rejeitou os apelos israelenses por uma ação militar contra a República Islâmica. No âmbito das conversas, recentemente, o ministro das Relações Exteriores do Irã se pronunciou sobre a quarta rodada, afirmando que “deixamos de lado as generalidades e começamos a lidar com questões mais detalhadas. Naturalmente, isso torna as negociações mais difíceis — mas, apesar da intensidade e da complexidade, as negociações foram construtivas”, disse Abbas Araghchi.
Igualmente noticiando sobre a crise entre EUA e “Israel”, o portal AI Monitor destacou a avaliação feita pelo professor Eytan Gilboa, das universidades Bar Ilan e Reichman, especialista em relações entre “Israel” e EUA.
Gilboa avaliou que “Trump deve ter chegado à conclusão de que Netanyahu o impede de concretizar sua visão para o Oriente Médio. Vemos isso na maneira como Trump abordou a libertação de Alexander, mas também em diversas outras frentes, seja na guerra em Gaza, nas negociações com o Irã ou na ameaça huti“. A respeito da guerra, Gilboa avaliou que se Netaniahu persistir na agressão, colidindo com a posição de Trump, “o abismo diplomático entre Washington e Jerusalém pode se agravar”.
No mesmo sentido foi a avaliação do ex-diplomata israelense Nadav Tamir, que destacou os interesses econômicos que estão na base do novo governo dos EUA:
“O governo Trump inclui falcões ideológicos que se identificam com as políticas de Netanyahu, mas também há muitos no movimento MAGA que priorizam os negócios. E, para isso, os conflitos internacionais precisam ser resolvidos, não intensificados”, afirmou Tamir, que também avalia que “o governo Netaniahu quer continuar a guerra em Gaza para garantir sua sobrevivência política.”
Deve-se destacar ainda a coluna publicada em 9 de maio no jornal The New York Times, outro porta-voz do imperialismo, assinada por Thomas L. Friedman, jornalista norte-americano. Intitulado Esse governo israelense não é nosso aliado, no artigo, Friedman afirma:
“Há pouquíssimas iniciativas que você tomou desde que assumiu o cargo com as quais concordo, exceto no que se refere ao Oriente Médio. Sua visita ao país, seu encontro com os líderes da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Catar, e sua ausência de planos para se encontrar com Netaniahu em Israel, sugerem que você está começando a perceber uma verdade fundamental: este governo israelense está se comportando de maneiras que ameaçam os interesses centrais dos Estados Unidos na região. Netanyahu não é nosso amigo.” [grifo nosso]