Emile Habibi nasceu em Haifa, em 1922, numa família protestante palestina. Seu pai, Shukri Habibi, era originário da cidade de Shafa Amr, nas imediações de Haifa, e sua mãe, Warda, era também palestina.

Casado com Nada Habibi, teve três filhos: Rawiya, Juhaina e Salam. Sua formação educacional começou na escola primária do governo em Haifa, seguida pela escola secundária Burj, em Acre, e foi concluída na St. Luke’s, uma escola missionária escocesa localizada em Haifa, onde se formou em 1939.

O despertar político de Habibi ocorreu durante a Grande Revolta Palestina (1936–1939), um levante nacional contra a ocupação britânica e a imigração sionista, duramente reprimido. Em 1940, aos dezoito anos, ingressou no Partido Comunista da Palestina, marco inicial de uma trajetória militante que atravessaria décadas.

Antes de se dedicar exclusivamente à política, trabalhou por um breve período na refinaria de petróleo de Haifa e chegou a tentar um curso universitário à distância pela Universidade de Londres. No início dos anos 1940, mudou-se para Jerusalém, onde trabalhou como locutor da Rádio Jerusalém. Em 1943, abandonou o posto para se dedicar em tempo integral ao Partido Comunista, assumindo a secretaria da organização em Haifa.

Como intelectual e militante, destacou-se desde cedo. Foi membro da Liga dos Intelectuais Árabes, fundada em 1941, e colaborador da revista al-Ghadd. Em 1944, após a cisão interna do Partido Comunista entre judeus e árabes, Habibi foi um dos fundadores da Liga de Libertação Nacional na Palestina (Jabhat al-Tahrir al-Wataniyya), que passou a congregar os militantes comunistas árabes. No mesmo ano, fundou o semanário al-Ittihad, em Haifa, que se tornaria um dos principais órgãos da imprensa comunista árabe sob ocupação sionista.

Dois anos depois, colaborou com outros intelectuais na produção da revista al-Mihmaz, que teve circulação significativa na Palestina, Transjordânia e Iraque, embora tenha durado pouco tempo. A Nakba de 1948 marcou profundamente sua trajetória. Residindo em Ramalá à época, conseguiu retornar a Haifa mesmo após a ocupação sionista da cidade. A partir de então, assumiu a tarefa de integrar os comunistas árabes que permaneceram nos territórios ocupados ao Partido Comunista de “Israel”.

Habibi tornou-se uma das figuras públicas mais conhecidas entre os árabes que permaneceram sob o regime sionista. Entre 1952 e 1972, foi eleito sucessivamente para a Knesset (parlamento israelense) como representante do Partido Comunista, onde denunciava a repressão contra os árabes e lutava pela igualdade de direitos e pela libertação da Palestina. Em 1956, estabeleceu-se em Nazaré, onde viveria até sua morte.

Entre 1972 e 1977, foi editor do al-Ittihad, escrevendo uma coluna semanal sob o pseudônimo “Juhaina”. Também atuou na revista al-Jadid. Em 1977, foi enviado a Praga para representar o partido na revista Problems of Peace and Socialism, publicada por partidos comunistas de vários países. Permaneceu na Tchecoslováquia até 1980. Ao retornar, reassumiu a direção do al-Ittihad, que, sob sua liderança, tornou-se um jornal diário em 1983.

Foi membro do Comitê Central e do Bureau Político do partido até 1989, quando rompeu com a direção por discordar de sua oposição à perestroika de Gorbatchov, que Habibi apoiava. Como resultado, foi destituído da redação do jornal e, em 8 de maio, renunciou a todos os seus cargos partidários. Dois anos depois, em agosto de 1991, anunciou sua saída definitiva do Partido Comunista de “Israel”, declarando que se dedicaria exclusivamente à literatura.

A produção literária de Emile Habibi é amplamente reconhecida no mundo árabe e internacional. Desde os anos 1940, publicava contos e textos jornalísticos. Sua primeira novela, O Sexteto dos Seis Dias, lançada em 1968, obteve atenção entre escritores e críticos árabes.

Em 1974, seu reconhecimento explodiu com As Circunstâncias Estranhas do Desaparecimento de Sa‘id Abu’l Nahs, o Pessoptimista, obra de sátira política aclamada por romper com os paradigmas do romance árabe tradicional. O livro apresenta uma visão crítica e irônica da condição dos árabes sob ocupação sionista, utilizando o sarcasmo como forma de resistência moral e intelectual.

Ao longo dos anos, suas obras foram traduzidas para o russo, inglês, francês, alemão, hebraico e outras línguas. O Pessoptimista foi classificado em sexto lugar na lista dos cem melhores romances árabes, segundo a União de Escritores Árabes em Damasco. Em 1991, a revista al-Majalla, publicada em Londres, elegeu Habibi o escritor mais importante do mundo árabe.

Em 1995, fundou a revista mensal Masharif, publicada simultaneamente em Haifa e Ramalá, demonstrando sua insistência na unidade cultural palestina, apesar da fragmentação territorial e política imposta pela ocupação.

Ao longo da vida, recebeu diversos prêmios literários e culturais, como a Medalha de Jerusalém para Cultura, Artes e Literatura, conferida pela OLP em 1990. Dois anos depois, aceitou o Prêmio de Literatura do Estado sionista, gesto que provocou intensa controvérsia nos círculos culturais árabes. Habibi respondeu à crítica destinando o valor do prêmio à Sociedade do Crescente Vermelho Palestino, para tratamento de feridos da Primeira Intifada.

Emile Habibi faleceu em 1996, em Nazaré, e foi enterrado em Haifa, como desejava. Sua lápide traz inscrita a frase “Fiquei em Haifa”, reafirmando seu compromisso com a terra e com a resistência.

Seu nome batiza uma praça em Haifa e uma rua em Ramalá. Em 1997, a cineasta Dalia Karpel produziu o documentário Emile Habibi: Fiquei em Haifa, e sua obra completa foi publicada em sete volumes pela editora Arabesque, em Haifa, com edições também lançadas em Beirute, Amã e Ramalá.

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Last Update: 14/05/2025