
Na recente entrevista à revista americana The New Yorker, o presidente Lula criticou a hostilidade crescente entre os Estados Unidos e a China, destacando que esse cenário poderia gerar uma nova Guerra Fria, algo que ele não considera aceitável.
Na visão de Lula, a globalização e a liberalização dos mercados, defendidas por Ronald Reagan e Margaret Thatcher, tinham como objetivo promover a livre circulação de bens e capitais no mundo, criando um sistema mais interconectado e cooperativo. No entanto, ele percebe que a dinâmica de competição global que surgiu, especialmente com a ascensão da China, não é compatível com o que esses líderes imaginaram.
A China, ao adotar esse modelo, acabou se tornando uma potência econômica e tecnológica que desafia as grandes potências ocidentais, mas sem a adversidade esperada. Lula argumenta que a China começou a produzir bens que antes eram fabricados no Ocidente, como roupas, eletrônicos e outros produtos, e, com o tempo, superou muitas das capacidades produtivas das economias desenvolvidas.
A habilidade dos chineses em copiar e aprimorar produtos e, posteriormente, criar tecnologia de ponta, como na área de inteligência artificial, transformou o país em uma concorrência que ameaça a hegemonia das economias ocidentais.
“Sou de uma geração que aprendeu nos anos 80, com Reagan e Thatcher, que o melhor para o mundo era a globalização e o livre comércio. Os produtos deveriam circular livremente pelo mundo. O dinheiro também. A China começou a produzir tudo o que era feito nos EUA e na Europa. Não se podia comprar uma calça, sapato ou camisa sem a etiqueta ‘Made in China’. Eles copiaram tudo com muita habilidade e aprenderam a produzir tão bem ou melhor. Agora que se tornaram competitivos, viraram inimigos do mundo”, afirmou.
“E não aceitamos isso. Não aceitamos a ideia de uma segunda Guerra Fria. Aceitamos que, quanto mais semelhantes os países forem — tecnologicamente e militarmente —, mais terão que dialogar, porque não sei se o planeta aguenta uma Terceira Guerra Mundial.”
Ao criticar a percepção ocidental de que a China, agora uma potência global, se tornou uma “ameaça”, Lula sugere que o real motivo por trás dessa hostilidade não são questões de direitos humanos ou de segurança, como a invasão de Taiwan, mas sim o impacto da competitividade econômica da China no comércio global.
Ele observa que, ao longo dos anos, os países ocidentais aceitaram a globalização como um caminho para o desenvolvimento, mas, ao se depararem com o sucesso da China, começaram a ver o país como um inimigo econômico.
Lula rejeita a ideia de uma “nova Guerra Fria” entre as potências e defende que, em um mundo cada vez mais interconectado e globalizado, os países devem dialogar e cooperar mais, especialmente em questões cruciais como mudanças climáticas e fome. Ele argumenta que, com o avanço tecnológico e militar, é necessário mais diálogo e menos hostilidade, uma vez que as tensões podem levar a conflitos de proporções catastróficas, como uma possível Terceira Guerra Mundial.
O presidente conclui que a única maneira de evitar esse tipo de confronto seria a construção de um sistema multilateral mais forte e cooperativo, onde as grandes potências busquem soluções conjuntas para os desafios globais.