“A gente tem que arregaçar as mangas”, aponta Nobrega. Foto: Laís Alanna

Por Carolina Bataier/Equipe de texto 5ª Feira
Da Página do MST

“Eu gostaria muito que tivesse alguém do ministério aqui para eu falar que esse país está precisando de um projeto de cultura”, afirma o pesquisador e brincante Antonio Nóbrega, no seminário Seminário Nacional Cultura Popular do Campo. 

Na fala, Nóbrega questionava a ausência de um representante do Ministério da Cultura (Minc) na mesa, realizada na programação da V Feira Nacional da Reforma Agrária. A justificativa do ministério seria a incompatibilidade de agenda. 

Para os participantes da conversa, no entanto, a ausência do Minc tem um significado mais profundo e arraigado na sociedade brasileira: a escassa valorização das manifestações da cultura popular. 

“Eu estou aqui para mostrar que existe uma outra realidade e que para gente alcançar essa realidade outra (…) A gente tem que arregaçar as mangas”, afirma o pesquisador, lembrando da dominação das manifestações culturais importadas dos Estados Unidos e da Europa. 

Artistas populares do MST de vários Estados estiveram no seminário prestigiando. Foto: Laís Alanna

“A gente não sai de casa para ver, por exemplo, numa feira, que você não vai assistir ou em qualquer outro lugar, um concerto de música árabe, ou um concerto de música hindu, ou um concerto de música venezuelana. Vocês só vão assistir aos padrões da música ocidental”, questiona.

Ele próprio já foi um desconhecedor dessas manifestações. “As raízes populares me eram desconhecidas”, revela. “Foi com o convite de Ariano Suassuna que eu comecei a ter notícia disso que a gente chama de cultura popular ou cultura folclórica”, lembra. 

Atualmente, Nóbrega dedica seu tempo à defesa das manifestações feitas pelo povo. Para ele, além de valorizar as expressões populares já existentes, como o Cavalo Marinho, de Pernambuco, ou as Folias de Reis espalhadas pelo Brasil, é importante conhecermos as histórias e técnicas que fazem a cultura popular brasileira. Assim, seremos capazes de criar novas formas de expressão. 

“O que eu quero é o seguinte, que a gente seja hábil, que a gente seja suficientemente conhecedor do Brasil para que a gente, a partir desses códigos todo de dança, a gente criar nossa dança”, defende.  

Dividindo a mesa com Nóbrega, Maria Raimunda César, dirigente regional do MST no Pará, lembra que a cultura popular é reflexo de um modo de vida. “Os processos de construção de cultura popular são formas circulares. Você tem presente uma coletividade, você tem presente as famílias”, diz. 

“É exatamente onde estão e onde se articulam as forças populares para se para construir, a partir do vivido, do experimentado, abstrair o estético, daquilo que é sentido, do que é sensível, o que que fica daquilo”, afirma a dirigente. 

Durante o seminário, artistas leram poemas. A conversa terminou com música de sanfona e viola. Até domingo (11), mais de 253 artistas realizarão apresentações e intervenções na V Feira Nacional da Reforma Agrária. 

Cantando, dançando, tocando instrumentos diversos e recitando versos, muitos deles são guardiões da cultura popular. 

A educação como caminho

A artista e agricultora Vivian Catenacci, do Movimento dos Pequenos Agricultores de Piracaia (SP), assistia ao seminário e pediu a palavra para lembrar da importância da educação no processo de valorização da cultura popular.

“A minha filha, falando como eram algumas coisas sobre a nossa vida, sobre o que a gente fazia e tal, o professor virou para ela e falou que ela vivia como no passado”, conta a agricultora, que é moradora da zona rural. “E ela falou: ‘não, esse é o meu presente”. Ele falou: “Não, mas você vive o presente como no passado, como uma coisa que precisa ser superada”.

No relato, a agricultora ressaltou que, no município onde vive, não há mais escolas do campo e os estudantes da zona rural precisam se adaptar ao ensino oferecido na cidade.

“E indo para cidade para estudar, as escolas todas são apostiladas. Então, não é considerada a cultura do campo dentro das escolas”, lamenta.

Nesse processo, as crianças são afatadas da cultura popular.

“E por isso a gente coloca no centro da nossa luta o processo de formação de escolas, o processo educativo”, ressalta Raimunda, destacando a importância da educação como mantendora da cultura popular do campo. “Nós estamos disputando o presente para defender um futuro”, diz.

“Nossas culturas populares são diversas tanto quanto nosso trabalho”, aponta Raimunda. Foto: Laís Alanna

* Editado por Diógenes Rabello

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Last Update: 10/05/2025