Foto: Beatriz Cordeiro

Por Flora Villela/ Equipe de texto da 5ª Feira da Reforma Agrária
Da Página do MST

Na luta pela terra, é preciso perseverar e enfrentar grandes desafios, mas a teimosia gera bons frutos. Prova viva disso, Maria de Fátima Meira, hoje assentada do Quilombo Campo Grande, no sul de Minas Gerais, marca presença em sua quinta Feira da Reforma Agrária. Após anos de luta, o território onde ela vive há mais de 20 anos foi desapropriado e entregue aos Sem Terra recentemente, em decreto pelo presidente Lula.

Tendo se aproximado do Movimento ainda em 2003 e ingressado na luta um ano depois, ela relata a divergência com a família, que adiou sua decisão definitiva.

Demorei esse tempo por conta de muito atrito no meu entorno. Ao falar do Movimento ouvimos aquelas barbaridades que o pessoal fala. Hoje, com outro olhar, eu percebo que já fazia essa luta, mas era uma luta desorganizada. Me vejo agora, dentro do MST, numa luta organizada, com objetivo. Me sinto honrada de ter conhecido o Movimento”, conta ela.

Ao longo dos anos, não foram poucas as ameaças da polícia e fazendeiros da região, “com ordem de despejo ou sem, eles vinham nos coagir, e a gente ficava muito sem saber que decisão tomar. Permanecer na luta foi pura teimosia, recebi muitas ameaças e pressão psicológica. Faziam questão de mostrar que estavam armados, não só para nós, mas para as crianças também “, relembra a militante.

Em seu tempo de acampada, ela enfrentou 11 despejos muito truculentos, incluindo o encampado pelo governador Romeu Zema, durante a pandemia, que resultou na destruição da escola Eduardo Galeano. Na época, o Quilombo Campo Grande resistiu pacificamente durante 60h frente a uma ação que mobilizou 150 policiais, helicóptero, carros, drones, balas, bombas e outros instrumentos de repressão.

Apesar disso, para ela, o maior desafio vem da falta de compreensão da sociedade. “Eu acho que as maiores dificuldades estão ligadas a falta de entendimento da luta por parte da sociedade, sobre a luta contra o capital, contra os os grandes fazendeiros. O quilombo é cercado de fazendeiros, isso foi e continua sendo um impasse muito grande “, ressalta ela.

E é justamente aí que Fátima destaca a força das Feiras Nacionais, que trazem alimentos saudáveis, cultura e diálogo para a cidade grande. Nesta quinta edição, participando dos caminhos da agroecologia ela vê “A reforma agrária representada. Em feiras grandes como essa, a gente vê maquinário, vê sementes de muitas variedades e a troca de sementes crioulas, alimentos de tudo quanto é tipo e de grande qualidade, pra mim isso representa a reforma agrária, junto com a luta para construir tanta coisa bonita e mostrar na aqui na cidade”

Aos 67 anos, ela criou, na luta pela terra, seu lar, seus filhos e netos, hoje também militantes do MST. Em seu lote às margens do lago de Furnas ela produz “com muito orgulho, com muita honra: ovos, galinhas e porcos”. Assim, a Feira é uma oportunidade de mostrar à cidade o que o MST representa: um projeto de país com fartura e igualdade, sendo sempre um momento de partilha: “todo mundo que vem a feira, vem com muita alegria e a gente recebe com muita alegria também”.

*Editado por Fernanda Alcântara

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Last Update: 09/05/2025