O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está em Moscou, na Rússia, para participar, nesta sexta-feira 9, das comemorações do ‘Dia da Vitória’. A data faz referência aos 80 anos da vitória das tropas soviéticas sobre a Alemanha nazista, e serve, neste ano, como palco para a demonstração de força do presidente Vladimir Putin.

Ao lado de Lula e do presidente da China, Xi Jinping, Putin pretende mostrar que o chamado Sul Global, que tem como principal instância o Brics, está unido. Líderes de países como Sérvia, Eslováquia, Indonésia e Cuba também estarão presentes na comemoração.

Em Moscou, os preparativos para a data já indicavam que a festa foi organizada para impressionar. Nas ruas da capital russa, imagens de soldados que morreram em conflito durante a I Guerra Mundial podiam ser vistas por todo lado. “Nós nos lembramos e nós nos orgulhamos”, são os dizeres que acompanham as fotografias de cunho heroico.

Mas o ‘Dia da Vitória’ deste ano não é mais uma data comemorativa. Além de ser o mais importante feriado russo, o 9 de maio deste 2025 acontece no momento em que a Rússia e a Ucrânia caminham para um momento de definição do conflito instalado desde fevereiro de 2022. Pese nesse contexto o papel do presidente Donald Trump, que estimula um acordo de paz visto (pelos ucranianos e pelo Ocidente, em geral) como mais favorável aos anseios do Kremlin.

O clima de guerra, porém, faz parte do passado e do presente. Nos dias que antecederam a data, o governo russo decidiu bloquear os sinais de celular dos usuários, por medida de segurança. A Rússia teme mais uma investida ucraniana, principalmente aquela feita através de drones. Estações de metrô da capital russa passaram dias fechadas ou funcionaram apenas parcialmente. 

Cerimônia de celebração dos 80 anos do Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial.
Praça Vermelha, Rússia – Moscou.
Foto: Ricardo Stuckert / PR

Lula tenta colocar o Brasil como mediador

Se as presenças de Lula a Xi Jinping no ‘Dia da Vitória’ deste ano têm peso, as ausências também não deixam de chamar a atenção. As principais lideranças europeias não foram à capital russa, o que era esperado. Reino Unido, França e Estados Unidos, atores centrais a aliança feita com a antiga União Soviética para derrotar o delirante projeto de Adolf Hitler, não mandaram representantes. Neste momento histórico, a ausência diz menos sobre o passado e mostra o grau de contrariedade dessas potências com os riscos representados por Putin.

Mas Lula foi à capital russa na intenção de catapultar o Brasil à condição de mediador de um acordo de paz entre a Rússia e a Ucrânia. Uma empreitada que o próprio mandatário brasileiro tentou quando voltou ao poder, em 2023, mas que foi rechaçada por Volodymyr Zelensky. O ucraniano argumenta que Lula não teria sido suficientemente imparcial na sua proposta de pacificação.

Agora, Lula volta a pedir o fim da guerra, mas usando de uma interlocução mais direta com Putin. Nesta semana, em uma entrevista à revista The New Yorker, o petista disse que conversou com o presidente russo nas últimas semanas, tendo pedido que Putin “volte à política”.

“Liguei para Putin e disse: ‘Putin, acho que é hora de você voltar para a política. Coloque um fim nisso [na guerra na Ucrânia]. O mundo precisa de política, não de guerra’”, afirmou Lula. Na quinta-feira 8, ao lado da primeira-dama Janja, ele participou de um jantar promovido pelo presidente russo.

Lula não abre mão do seu desejo de poder contribuir para o estancamento da sangria no leste europeu, mas a viagem desta semana abre uma janela para as críticas. Tanto locais como de fora. A principal desconfiança em relação à ida de Lula às comemorações do Dia da Vitória, exatamente neste tenso momento histórico, tem origem na seguinte questão: como Lula será capaz de convencer potências ocidentais de que o Brasil tem condições de ser um mediador no conflito, se deliberadamente escolheu aparecer ao lado de Putin e de outras lideranças autocráticas em Moscou?

Esse movimento não é isolado. Trata-se de uma tentativa de ação em bloco através do Brics. Não por acaso, o roteiro de viagem de Lula mostra que a sua próxima parada será na China de Xi Jinping.

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Last Update: 09/05/2025