Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, quando a Europa, destruída, viu-se obrigada a aceitar o papel de parceira júnior dos Estados Unidos, Washington dita as normas econômicas, políticas e morais do planeta, resumidas em um conceito: façam o que eu digo, não o que faço. Sempre que o jogo ameaça a supremacia norte-americana, suas lideranças decidem trocar a bola, o campo e o juiz da partida. A ordem do momento é estancar o processo de globalização, vencido pela China, e agitar a bandeira do protecionismo e do nacionalismo.
Donald Trump pode até ser o mais canastrão e atrabiliário, mas não é o primeiro presidente dos EUA a derrubar o tabuleiro por não gostar do resultado. Desde a posse, o republicano apenas tem apressado o enterro do cadáver da velha ordem mundial. A nova ainda não nasceu, mas, pela primeira vez em 80 anos, mudar as regras no meio da brincadeira coloca em risco o controle do parque de diversões. Instituições multilaterais como as Nações Unidas e a Organização Mundial do Comércio faliram, o multilateralismo sobrevive, como prova o avanço dos BRICS. Implodido por seus próprios arquitetos, o “sistema” será reconstruído em outras bases. O século XXI não será “americano”.
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Os cinco primeiros meses do Congresso brasileiro foram de baixíssima produtividade. Projetos cruciais para o futuro do País caminham a passos de tartaruga. Ainda assim, os deputados consideraram mais importante ampliar o número de cadeiras no Parlamento de 513 para 531, manobra para burlar a determinação do Supremo Tribunal Federal de remanejamento das vagas com base na população dos estados medida pelo último Censo. O custo extra será de 64 milhões de reais ao ano.
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O Brasil subiu cinco posições no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano na ONU. Boa notícia. Na mesma semana, soube-se, porém, que 29% da população entre 15 e 64 anos consiste de analfabetos funcionais. Prova do nosso fracasso civilizatório.
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O podcast Carta F.C., disponível nas maiores plataformas de distribuição e no YouTube, entrevista craques da crônica esportiva e ex-dirigentes para traçar, sobretudo, uma radiografia do futebol. No quinto episódio, o convidado foi Flávio Gomes, que se divide entre a bola e os motores (o automobilismo é uma de suas paixões). No programa, o jornalista, de apurado senso crítico, lamenta a invasão de influenciadores na cobertura dos esportes e analisa as chances do Brasil na Copa de 2026. Como sempre, Gomes dribla o senso comum.
Boa leitura!
Publicado na edição n° 1361 de CartaCapital, em 14 de maio de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘O globo, a bola e a Câmara’