Desemprego e baixa renda impulsionam negócios por necessidade
O número de mulheres negras que recorrem ao empreendedorismo por falta de alternativas no mercado de trabalho tem crescido no Brasil.
De acordo com o boletim do Dieese, baseado na Pnad Contínua do segundo trimestre de 2024, a taxa de desocupação entre mulheres negras foi de 10,1%.
Entre homens não negros, o índice ficou em 4,6%.
Essa desigualdade também aparece nos rendimentos.
No mesmo período, a renda média das trabalhadoras negras foi de R$ 2.079.
Esse valor representa menos da metade do ganho médio dos homens brancos, que chegou a R$ 4.492.
Além disso, entre todos os trabalhadores negros, o rendimento médio foi de R$ 2.392.
Esse montante é cerca de 40% inferior à média geral de R$ 4.008.
Obstáculos estruturais afetam o empreendedorismo feminino negro
Apesar do crescimento do empreendedorismo entre mulheres negras, o acesso a recursos e apoio ainda é limitado.
Segundo Talita Matos, fundadora da consultoria Singuê, o desafio vai além do capital inicial.
“A abertura de uma empresa exige educação empreendedora, rede de apoio e acesso a contatos”, afirma.
No entanto, ela destaca que a maioria das mulheres negras não conta com essas ferramentas.
Esse cenário transforma o ato de empreender em uma medida de alto risco.
De acordo com Talita, a desigualdade histórica e social dificulta o acesso a direitos básicos, como crédito e espaço no mercado.
Esse contexto também compromete o futuro das próximas gerações, caso as barreiras não sejam superadas.
Afroempreendedorismo fortalece identidade e comunidade
A Singuê foi criada por Talita Matos e Eliezer Leal como resposta à demanda por soluções corporativas ligadas à diversidade.
A empresa é composta por profissionais negros de áreas como gestão, recursos humanos e educação.
O nome vem do banto e significa “entrelace”.
Segundo Talita, a escolha representa a tentativa de alinhar os objetivos das organizações aos dos seus funcionários.
A consultoria atua com estratégias personalizadas de diversidade e inclusão para empresas e organizações do terceiro setor.
Com quatro anos de atuação, a Singuê já impactou mais de 1,6 mil profissionais negros.
Os programas atendem setores como varejo, tecnologia e indústria.
Entre os clientes da consultoria estão Carrefour, Lojas Renner, Natura e Gerdau.
Além disso, instituições como Fundação Itaú e Instituto Alana também fazem parte da carteira atendida.
Projetos ampliam a rede de apoio para empreendedoras negras
Iniciativas como a PretaHub reforçam a presença de mulheres negras no empreendedorismo.
Esses projetos oferecem capacitação e conexões com o mercado.
A rede já alcançou mais de 10 mil pessoas por meio de programas de inovação e aceleração.
Além disso, organiza a Feira Preta, o maior evento de cultura preta e economia criativa da América Latina.
Segundo Talita Matos, diversas mulheres se destacam no afroempreendedorismo.
Entre elas estão Andreza Rocha, fundadora da AfrOya Tech Hub; Rosangela Menezes, diretora executiva da Awalé; e Shaienne Aguiar, da Mascavo Criativo.
Ela destaca que, nesse campo, a excelência é condição para se manter no mercado.
“Somos quase sempre nossa melhor versão como prestadoras de serviço. É isso que garante nossa validação”, afirma.
Termos como “excelência negra” reforçam posicionamento no mercado
Para Talita, o afroempreendedorismo é uma forma de reagir às barreiras estruturais com criatividade e estratégia.
Ela explica que o termo “excelência negra” representa a exigência por desempenho enfrentada por quem precisa provar seu valor constantemente.
“O empreendedorismo negro melhora nossa autoestima”, afirma.
Além disso, “oferece ao mercado soluções a partir de uma força ancestral”, completa.